O passeio organizado pelos Ramisch, desta vez, foi em direção ao noroeste de Saarbrücken e em direção ao passado: Trier, em alemão, ou Tréveris, cuja origem remonta ao século I a.C. e ao imperador romano Augusto. Nos séculos III e IV, foi sede do governo do Império Romano e capital da província Belgica Prima. Destruída por tribos germânicas no século seguinte, sua recuperação como centro comercial se deu apenas a partir do século XVII. Ficou famosa por ter sido a cidade onde nasceu Karl Marx, cuja residência familiar é hoje um pequeno museu.
Depois de um trajeto de cerca de 90 minutos, animado com comentários alegres dos familiares e com a paisagem do lado de fora, chegamos à cidade, onde paramos para admirar a Aula Palatina, uma construção de tijolos, alongada e retangular, cuja abside semicircular abrigava o trono do imperador romano. Parcialmente destruída pelas tribos germânicas, tornou-se parte do Palácio Eleitoral (Kurfürstliches Palais) no século XVII. Reconstruída por ordem do rei Frederico Guilherme IV da Prússia, abriga, desde 1856, a igreja protestante de São Salvador.
Foi a emoção do reencontro com o legado arquitetônico da civilização romana, que eu pudera apreciar abundantemente nas caminhadas por Roma, semanas antes. Apreciamos, do lado de fora, o austero e belo edifício, em parte encoberto pelo Palácio Eleitoral, ao qual está ligado.
A próxima parada foi na praça onde se ergue outra referência cultural e arquitetônica da cidade, a majestosa Porta Negra. A estrutura de defesa mais antiga da Alemanha é feita de grandes blocos de pedra, sem argamassa. Construída no século III, ganhou o nome atual devido ao tom escurecido de suas pedras. Uma edificação maciça, de 21,5 metros de largura, de até quatro andares, na torre mais alta, dá a noção exata do conhecimento técnico então acumulado pelos romanos e da proteção que faziam das fronteiras do império.
Depois de uma refeição leve, fizemos uma demorada visita à casa onde nasceu Karl Marx. Transformada em museu, abriga em suas salas informações sobre a origem e desenvolvimento das forças de esquerda, desde os meados do século XIX, quando Marx lançou o Manifesto Comunista. As fotos e quadros informativos dispostos nas diversas salas do museu nos levaram de volta às revoluções que assolaram o continente europeu neste período. Amealharam a esperança de uma nova era, sonho interrompido pelo golpe de Luiz Bonaparte na França, em 1851, e fortemente abalado, mas não destruído, com o massacre que pôs fim à Comuna de Paris, vinte anos depois. Nas paredes brancas e assépticas do museu pudemos acompanhar ainda o processo de crescente fragmentação e ramificação das forças de esquerda que continuaram alimentando, nas décadas seguintes, ideários revolucionários. Uma aula, desta vez da história da esquerda e dos tempos modernos.