Lançado em maio de 1967, o filme dirigido por Glauber Rocha, que também assina o roteiro, pode ser visto como uma parábola sobre Brasil em pleno recrudescimento da ditadura, momento em que grupos de esquerda ensaiam o caminho da luta armada para combater o regime militar. Capta o momento de tensão que convulsiona a sociedade brasileira, transposta para a tela como um país imaginário chamado de Eldorado.
Os personagens não estão conectados a um enredo real. Simbolizam alegoricamente as contradições e conflitos de uma terra em transe, universo aparentemente caótico onde aqueles que deveriam, segundo os manuais da esquerda, fazer a revolução encontram-se perdidos, a classe operária totalmente perplexa e o campesinato enredado na dinâmica de movimentos messiânicos.
O jogo político continua nas mãos das classes dominantes e de setores a elas subalternos e se desenvolve numa trama de alianças e traições que tornam inúteis as tentativas de mudança por parte daqueles que procuram dar outro rumo ao país, personificados pelo jornalista e poeta Paulo e a ativista Sara, que conheceu na província. Diante das manobras políticas e de sucessivos fracassos, Paulo chega a pensar na luta armada como alternativa, mas desiste.
O filme não foi bem recebido pela esquerda, que considerou improcedentes as críticas e fora de prumo a alegoria feita à sociedade. Os militares no poder gostaram menos ainda. Consideraram a obra subversiva e irreverente à Igreja. O filme foi proibido em todo território nacional, sendo liberado depois de concessões.
Como outras obras de Glauber, Terra em transe tem uma narrativa fragmentada e uma linguagem barroca, permeada de cenas do mais puro lirismo. Destacam-se os atores: Jardel Filho, como o jornalista Paulo; Glauce Rocha, como a ativista Sara; José Legwoy, como Felipe Vieira; Paulo Autran, como Porfírio Dias; Paulo Gracindo, como Júlio Fuentes; Jofre Soares, como Padre Gil e Danuza leão, como Silvia.
O filme recebeu vários prêmios: Prêmio Luiz Buñuel e Prêmio Fipresi, no XX Festival de Cannes, França, em 1967; Prêmio da Crítica e o de Melhor Filme no Festival de Havana, Cuba, em 1967; Gran Pix do júri paralelo no Festival de Locarno, Suíça, em 1967; Prêmio Governo do estado de São Paulo, Brasil, em 1967.
Considerado um clássico do cinema brasileiro, em 2015 entrou na lista da Abraccine (Associação brasileira de Críticos de Cinema), como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
Onde ver: AdoroCinema