A semana se iniciou com o clima tenso e a sensação de preocupação com os dados da última pesquisa do Datafolha indicando a quase possibilidade de empate técnico entre Lula e Bolsonaro, favorecido por um crescimento pequeno e constante, semana após semana. A divulgação de notícias mais acuradas sobre o ataque do ex-deputado Roberto Jefferson a agentes da PF e as condições em que se deu sua prisão, depois de longa e inusitada negociação envolvendo, a pedido de Bolsonaro, o próprio ministro da Justiça, somados a outros reveses políticos sofridos pelo bolsonarismo, provocaram uma mudança no cenário político ao longo da semana.
Para além do gesto patético de Jefferson, chamou atenção seu apelo à resistência armada. Não morreu de arma em punho, como imagina-se ter sido o roteiro original de uma falsa tragédia (como foi a farsa da facada), que deveria desencadear a reação em cadeia das hostes bolsonaristas. A presença do ministro da Justiça e do falso padre Kelmon para negociar sua rendição, o comportamento para além de amigável do agente da PF (o normal teria sido a imediata ordem de prisão, seguida da colocação de algemas e traslado para o cárcere), levantaram a suspeita de um arranjo às pressas para resolver a confusão ( o tiro que havia saído pela culatra), enquanto Bolsonaro permanecia em silêncio e seus apoiadores mais próximos em pânico. O silêncio foi rompido, horas depois, com a condenação do atentado, transformando o amigo do peito em bandido. Não colou. O estrago na campanha continuou reverberando na mídia.
Teve também vida curta a armação de que rádios no Nordeste haviam, propositalmente, deixado de divulgar a propaganda eleitoral gratuita de Bolsonaro. Alvoroçada, a horda bolsonarista passou a defender o adiamento das eleições. Diante da reação imediata e firme do presidente do STE, Alexandre de Moraes, exigindo a apresentação e provas que não chegaram, a tramoia foi desmascarada, levando o ministro das Comunicações, Fábio Faria, a pedir desculpas por ter se envolvido no caso em que a culpa era do PL. Gilmar Mendes atuou de forma firme, ao lado de Moraes. Dialogou com membros do clã Bolsonaro. Em todas as conversas, deixou claro que o Judiciário não admitiria qualquer ameaça à realização das eleições. Afirmou ainda que, “se perderam o senso de justiça, precisariam manter o senso do ridículo”.
A pá de cal na tentativa de golpe veio das Forças Armadas. Segundo a jornalista Helena Chagas, Bolsonaro pediu aos três comandantes das FFAA que decretassem uma medida identificada como FALERT, um tipo de estado de alerta que costuma ser usado em casos excepcionais, como guerras e catástrofes. “A boa notícia é que os três fizeram ouvidos moucos”, disse Helena.
O risco representado por Bolsonaro foi destacado na segunda (24), no editorial de O Estado de São Paulo, jornal reconhecidamente conservador e um dos últimos a declarar apoio a Lula: “Não há como ignorar. Na Presidência da República, Jair Bolsonaro é um altíssimo risco para o respeito à lei, para a integridade das instituições, para a liberdade política e para a paz social. Se alguém ainda tinha dúvidas, Roberto Jefferson desenhou para o País”.
Os fatos repercutiram nos resultados das pesquisas eleitorais. Os dados divulgados pelo IPEC na segunda (24), mostraram o aumento da vantagem de Lula sobre Bolsonaro (50% x 43%), sustando o crescimento paulatino do atual presidente. A pesquisa do Datafolha divulgada na quinta (27) confirmou esta tendência, em grau relativamente menor: 53% x 47% dos votos válidos.
O debate entre os dois candidatos realizado na sexta (28) foi marcado por agressões e mentiras por parte de Bolsonaro, que se desviou das principais perguntas feitas por Lula, impedindo que temas de interesse nacional fossem realmente discutidos. Lula saiu-se melhor, especialmente nos três primeiros blocos, diante de um adversário inseguro, claudicante, que repetia o tempo todo as mesmas sandices.
A última pesquisa eleitoral feita pelo Datafolha foi divulgada no final da tarde de sábado (29), véspera da eleição. O ex-presidente Lula tinha 52% dos votos válidos, contra 48% de Bolsonaro. O petista oscilou um ponto para baixo, enquanto o presidente um ponto para cima, na comparação com o último levantamento, de 27 de outubro.
Lula venceu as eleições com 50,89% dos votos.