No plano internacional, duas notícias chamaram a atenção. A primeira foi a divulgação do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU, utilizando modelos computacionais mais modernos para prever a frequência de eventos climáticos extremos. Numa semana em que proliferaram as imagens de incêndios devastadores na Grécia, Califórnia e até mesmo nas florestas da antes gelada Sibéria, as previsões são sombrias, inclusive para o Brasil. Enfrentaremos secas mais longas na Amazônia e no Nordeste, enquanto o Centro-Sul deverá ser atingido por tempestades mais intensas. Motivos e evidências não faltam para colocar a questão ambiental no centro do debate ao se pensar o projeto de desenvolvimento para o país.
A tomada praticamente sem resistência de Cabul, capital do Afeganistão, pelo Taleban, mostrou o equívoco da ocupação do país por tropas norte-americanaspor duas décadas. Com a retirada das tropas efetuadas por Biden, o Taleban intensificou o ataque nas províncias, que foram caindo uma a uma, e organizou o cerco e a tomada da capital. De pouco adiantará o envio, de última hora, de reforço militar norte-americano. O governo chinês, não perdeu a oportunidade e se apressou em reconhecer o novo governo.
No plano nacional, a semana de 9 a 15 foi intensa e tensa, levando analistas a ironizarem agosto como o “mês do cachorro louco no Brasil”. Não faltaram episódios elevando a temperatura política, alguns revelando o cerco ao presidente lunático e desesperado, outros demonstrando exatamente o desespero do “cachorro louco” que persiste em tensionar relações institucionais e provocar crise entre os poderes, única forma que conhece para manter suas bases mobilizadas e aceso seu desvario golpista.
Apertando o cerco a Bolsonaro, o TSE apresentou ao Supremo queixa crime para investigar o presidente e o deputado federal Filipe Barros (PSL-PR) por suspeita de divulgação de dados sigilosos contidos no inquérito da Polícia Federal que apura um ataque hacker sofrido pela corte em 2018. Ao aprovar o texto-base da Lei de Defesa do Estado Democrático, o Senado enterrou a Lei de Segurança nacional e estabeleceu elos de proteção à democracia, ao criminalizar atos golpistas e autoritários. O texto tipifica como crimes o golpe de Estado, a interrupção do processo eleitoral, a comunicação enganosa em massa e o atentado ao direito de manifestação. A omissão de Aras frente às seguidas ameaças golpistas do presidente tem despertado o debate nos bastidores do Supremo, Ministério Público Federal e Congresso Nacional sobre maneiras de esvaziar os superpoderes do procurador-geral da República.
Apesar da gravidade da iniciativa, o desfile de carros blindados organizado por Braga Neto pela esplanada dos ministérios, com o intuito claro de intimidar o Congresso no dia em que a Câmara estava para votar a PEC do voto impresso, acabou virando um tiro no pé. Blindados emperrados e soltando fumaça tornaram-se objeto de pilhéria. Bolsonaro chegou a ser lembrado como “a Rainha da Sucata”, a parada uma demonstração “da quadrilha da fumaça”, enquanto o estado precário dos blindados desmoralizou as FFAA. Teve ampla repercussão negativa também na imprensa internacional, como noticiou na Alemanha o Der Spiegel: “Pela primeira vez desde a ditadura, tanques rodam pela capital brasileira passando por parlamentares que votam reforma eleitoral”. Culminando o revés de Bolsonaro, a Câmara rejeitou a PEC do voto impresso.
O presidente reagiu, reiterando que o resultado das eleições do ano que vem não será confiável. Um dia após a prisão de seu aliado Roberto Jefferson, vista “como medida necessária para tentar conter a escalada autoritária de Bolsonaro e seus militares golpistas”, o capitão disse que vai levar ao Senado um pedido de abertura de processo contra os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal). A proposta não tem a menor chance de vingar. Pacheco deverá manter o caso em banho-maria até a situação se acalmar e, depois, arquivá-lo.
Tirado o bode da sala – distritão – a Câmara aprovou a volta das coligações partidárias, um retrocesso em relação à reforma de pouco mais de três anos que estabelecera restrições à proliferação de partidos de aluguel. Caberá ao Senado derrubar a medida.
A CPI da Covid voltou aos trabalhos, depois de duas semanas de recesso. O principal depoente foi o líder do governo, Ricardo Barros, que insistiu em comparecer como convidado. Depois de uma sessão tumultuada, deverá retornar como convocado a depor. A CPI tem sido o espaço onde representantes bolsonaristas continuam testando a tática que analistas chamam de Síndrome do Pombo Enxadrista: “eles pousam no teclado, defecam no tabuleiro, derrubam as peças e voam cantando vitória. No fim, o debate é substituído pelo tumulto, que interessa a quem deseja esconder os fatos”.
Outros fatos noticiados revelam a gravidade da situação em que o país se encontra, mas a cortina de fumaça criada por Bolsonaro tem impedido que sejam debatidos na sociedade com a atenção e acuidade que requerem: a taxa Selic teve um aumento de 4,25% para 5,25% em decorrência da escalada da inflação; o governo apresentou ao Congresso a MP do Auxílio Brasil, tentativa de pôr fim a uma marca do PT; inseriu na PEC que parcela precatórios um trecho que autoriza o Executivo a descumprir a regra de ouro das contas públicas, sem um aval específico do Congresso; colocou também inúmeros jabutis na MP 1045, que retira direitos dos trabalhadores.
No final da semana, circulou a fake news de que os caminhoneiros estariam organizando, com a participação do cantor Sergio Reis, uma nova greve nacional em apoio ao ataque de Bolsonaro ao Supremo. A notícia foi desmentida pelas principais lideranças da categoria que afirmaram que o cantor não os representa. Passada a miragem, que analistas avaliaram como mais uma bravata da tropa de choque bolsonarista – o sempre almejado putsch – fica a pergunta ao capitão desvairado, parafraseando o escritor romano Cícero: “Até quando Bolsonaro continuará abusando da nossa paciência”?