O noticiário na semana de 9 a 14 de novembro foi dominado, no plano internacional, pelas negociações finais da COP26, especialmente aquelas envolvendo os blocos de países desenvolvidos e países em desenvolvimento em torno da eliminação do uso do carvão e de uma nova dinâmica para o mercado de carbono. Considerado “uma vitória frágil” pelo presidente da Conferência e “imperfeito” para muitos observadores, o acordo final optou por apenas limitar, em vez de eliminar, o consumo de carvão, um dos principais emissores de gases-estufa. Foi uma briga vencida pela China e pela Índia e na qual os Estados Unidos, ao contrário do discurso de Biden em defesa do clima, fizeram corpo mole.
Demandas dos países em desenvolvimento (G77), como o uso de recursos do comércio de carbono para fundos visando financiar a adaptação à economia isenta de gases que provocam o aquecimento global também foram contidas pelos países desenvolvidos. Estes, por sua vez, estabeleceram metas aquém do necessário para manter em 1,5 C° o aquecimento global até o final do século. Enfim, “o trabalho duro começa agora”, segundo o presidente da Conferência, processo no qual o Brasil foi chamado à responsabilidade por Barak Obama. Do lado de fora do espaço onde se reuniram os líderes mundiais, uma multidão multicolorida e diversa fez muito barulho, cobrando políticas efetivas e menos hipocrisia.
Na América Latina, dois fatos foram destaque, um na contramão do outro. Na Argentina, a coalisão de direita, Juntos para a Mudança, venceu as eleições parlamentares. Com a derrota, o presidente Alberto Fernandez perderá também o controle do Senado, um duro golpe para os peronistas, com impacto decisivo nas próximas eleições presidenciais. No Chile, a oposição conseguiu aprovar, numa votação apertada na Câmara dos Deputados , a abertura do processo de impeachment do presidente Sebastian Piñera, acusado de irregularidades na venda de uma mineradora em 2010, medida que foi evertida no Senado.
No Brasil, o principal fato foi a aprovação, em segundo turno, da PEC dos precatórios na Câmara dos Deputados, tema que vinha galvanizando o debate político. Foi uma vitória da dupla Bolsonaro-Lira, obtida com o uso da coação e da compra descarada de votos. Novamente, parlamentares de partidos autodenominados de centro votaram em peso a favor do projeto que fura o teto de gastos, dá um calote no pagamento de precatórios e assegura mais verbas para o governo gastar em 2022. Sem dúvida, uma manobra bem-sucedida do Centrão que expande seus tentáculos para dentro partidos de centro, fortalecendo duplamente Bolsonaro, ao viabilizar o financiamento do Auxílio Brasil, pavimentando sua campanha em 2022, e ao fragilizar a construção de uma alternativa de direita que não seja Bolsonaro.
De acordo com as mais recentes pesquisas eleitorais, Lula continua na liderança, em todos os cenários analisados. Moro, ao assinar sua filiação ao Podemos, fez um discurso de presidenciável, recheado de palavras de ordem que o aproximam de um populismo de direita. Embora não esteja bem posicionado nas pesquisas de intenção de voto (4%, podendo chegar a 8%, no cenário em que Bolsonaro estaria fora da corrida presidencial), analistas políticos veem em sua candidatura uma ameaça muito mais séria à democracia. Segundo Leonardo Avritzer, “Trata-se de vender a utopia anticorrupção com o objetivo de transformar a política em um tribunal judicial anticorrupção com regras de exceção. Os resultados são tão perigosos para a democracia quanto os ataques abertos de Bolsonaro”.
Ainda a conferir, os desdobramentos da crise que se instaurou no Ministério da Educação, com a debandada de profissionais do INEP, às vésperas do ENEM.