A terceira semana de guerra terminou com um impasse perigoso e generalizado no campo diplomático. As cartas estão na mesa, são inaceitáveis. Não há rendição, há resistência. Nesse cenário de luta, as tropas russas fazem o cerco a Kiev, alvo estratégico para o desfecho do conflito. Ao mesmo tempo, bombardeiam regiões a oeste do território ucraniano, ampliam o cerco ao sul, onde estão vencendo a batalha para conquistar Mariupol, mas não conseguiram ainda tomar o porto de Odessa. Continuam respaldando os separatistas que ampliaram significativamente a área sob seu controle em Donbass.
O governo ucraniano reconhece que a capital está sitiada, sob ameaça de bombardeio maciço, como aconteceu na segunda maior cidade do país, Kharkiv, e como ocorreu na Síria, onde a vitória foi obtida sobre escombros. O fluxo por ora não interrompido de mísseis antitanque e antiaéreos ocidentais consegue impedir o avanço dos russos na periferia da capital. O enorme custo humano da operação está sendo usado como pressão para obter a rendição. Putin pode dar de ombros e deixar a carnificina acontecer, se este for o preço para a guerra de conquista que imaginou fosse mais fácil. A esta altura, uma derrota militar ou um acordo insatisfatório na mesa de negociação são impensáveis, pois poderiam significar o fim do autocrata russo.
No entanto, Putin perdeu a guerra da comunicação, pelo menos externa. Tem poucos apoiadores fora dos círculos ultraconservadores europeus ou nichos da esquerda latino-americana que consideram o conflito parte da luta anti-imperialista. Internamente, recorre a mecanismos de força para silenciar a oposição. Censurou a mídia e ameaça com até 15 anos de prisão quem continuar referindo-se à sua “operação militar e civilizatória” como guerra de invasão.
O número de refugiados, que conseguiram atravessar as fronteiras da Ucrânia, já ultrapassou 2 milhões de pessoas. O governo russo tenta desviar esse fluxo para a Bielorrússia e para a própria Rússia, através dos chamados “corredores humanitários”. Ao forçar este destino, o Kremlin descumpre os acordos internacionais, transformando os refugiados em prisioneiros de guerra.
Pressionando para um desfecho favorável do conflito, a diplomacia norte-americana tenta passar para os aliados europeus sinais de segurança – cada polegada do território dos países membros da OTAN será defendido incondicionalmente – ao mesmo tempo em que evita o transbordamento do conflito, ao recusar a proposta polonesa de envio de caças Mig29 para a Ucrânia. Usa sua influência para aprovar no Banco Mundial o pacote de US$ 723 milhões em empréstimos e doações ao governo ucraniano. Seguindo a linha de sanções econômicas, governo Biden ameaça as empresas chinesas que desafiarem as limitações impostas pelos EUA de exportação para a Rússia com o corte de equipamentos e softwares norte-americanos.
O Kremlin, por sua vez, responde com a proposta de nacionalizar empresas multinacionais que deixaram de operar no país. Embora o preço do barril do petróleo tenha recuado, diante da sinalização de que o conflito não transbordará as fronteiras ucranianas e da possibilidade de ser resolvido pela via diplomática, os preços dos alimentos continuou subindo – aumento de 20%, segundo a FAO -, assombrando os países mais pobres já ameaçados de insegurança alimentar.
Ironicamente, o chefe da Igreja Ortodoxa Russa, Cirilo 1º afirmou em seu sermão de domingo que a invasão talvez nem precisasse acontecer, não fossem os valores liberais do Ocidente, em particular as paradas do orgulho LGBTQIA+. O Papa Francisco marcou posição: “ Na Ucrânia correm rios de sangue e lágrimas. Não se trata apenas de uma operação militar, mas de uma guerra que semeia morte, destruição e miséria”.
O Kremlin anunciou a retomada das negociações para a próxima segunda-feira. A conferir.
No plano nacional, o debate principal girou em torno do aumento dos preços dos combustíveis. Segundo informações divulgadas na mídia, Bolsonaro “espumava” diante da possibilidade de a Petrobrás reajustar os preços, temendo repercussão negativa na opinião pública, neste ano eleitoral, exatamente no momento em que o governo conseguiu estancar o aumento de sua rejeição. Queria o congelamento dos preços. Alertado de que a medida poderia ser um tiro no pé, engoliu seco o aumento.
O impacto sobre a inflação, que já vinha demonstrando uma tendência de alta, será significativo. O aumento de preços dos combustíveis fez disparar a expectativa de inflação para 2022 e tem potencial para deteriorar o quadro macroeconômico do Brasil até o fim do ano, num ciclo vicioso de mais endividamento público e pressão sobre dólar e preços de alimentos. Novos reajustes de preços de combustíveis podem ocorrer no curto prazo, a depender do desfecho do conflito no Leste Europeu. Para setores significativos da oposição, o governo perdeu o controle da situação, enquanto apresenta ao Congresso propostas equivocadas para regular o preço dos combustíveis.
Notícias desfavoráveis ao governo continuam chegando. O Brasil caiu de 12º para 13º no ranking das maiores economias do mundo, segundo levantamento elaborado pela agência de classificação de risco Austin Rating. E vai ter que ralar muito para voltar a fazer parte das dez maiores economias do mundo.
Lula continua à frente nas pesquisas eleitorais, mas adverte que é preciso dialogar e fazer alianças com figuras políticas para além do campo da esquerda —inclusive com quem votou a favor pelo impeachment da ex-presidente Dilma.