Na semana que passou, os reveses da extrema direita nos Estados Unidos – maioria dos democratas assegurada no Senado, condenação de empresas do ex-presidente Donald Trump – e a prisão na Alemanha do grupo que armava um golpe de estado, tiveram como contraponto a condenação de Vice-presidente Cristina Kirchner a seis anos de prisão, na Argentina, num processo de lawfare que lembra aquele utilizado para condenar Lula e o tirar da disputa eleitoral em 2018. Por sua vez, o desfecho melancólico de mais uma crise política no Peru – 6 presidentes em 6 anos – com a tentativa frustrada de golpe e prisão do presidente Pedro Castillo, mostra que o combate às forças de extrema direita não se faz com amadorismo.
No plano nacional, dois fatos marcaram a semana: a aprovação da PEC do Bolsa Família no Senado e o anúncio dos primeiros ministros do governo Lula. As manobras para dificultar o andamento da votação da PEC no Senado, comandadas pelo braço direito de Bolsonaro, Rogério Marinho, que disputará com Pacheco a presidência da Casa em 2023, frustram-se, como era de se esperar. A PEC foi aprovada por 64 votos contra 13, com modificações nas quais Bolsonaro pegou carona para assegurar o pagamento de despesas obrigatórias este ano, como as aposentadorias.
O resultado foi comentado com propriedade no site do PT como “o primeiro passo para a reconstrução do Brasil depois de quatro anos de descontrole e retrocessos. A PEC do Bolsa Família combina os dois principais fatores capazes de tirar o país do atoleiro: garante dinheiro aos programas essenciais para combater a fome e garante o equilíbrio fiscal ao estabelecer prazo para a definição de uma nova âncora fiscal em substituição ao fracassado teto de gastos”.
A indicação feita por Lula dos primeiros ministros, antes da sua diplomação no dia 12, contribuiu para desfazer especulações, atenuar tensões em áreas sensíveis como a Defesa, e principalmente para sinalizar para a sociedade e para o mercado os rumos do novo governo. A escolha de Fernando Haddad para o comando da economia foi vista pelo de Luiz Carlos Trabuco, presidente do conselho de administração do Bradesco com objetivo “de conciliar a responsabilidade fiscal com a responsabilidade social (…) intenção de mediar os naturais conflitos existentes na condução econômica de um país complexo como o Brasil pela via do pragmatismo”. O titular da Defesa, José Múcio, era aguardado para tentar pacificar a relação do governo petista com as Forças Armadas, após quatro anos de crise e politização no governo Bolsonaro.