“Deram com os burros n’água” e querem forjar um “novo” candidato, que não seja tão estúpido quanto Bolsonaro e capaz de fazer oposição à retomada do projeto democrático e popular, que tem em Lula sua maior representação”. A afirmação de Martinho da Conceição é esclarecedora em relação ao debate sobre a chamada terceira via propalado pela mídia, que na semana passada deu destaque ao acordo entre possíveis candidatos – Leite, Dória e Mandetta – de recuarem a favor daquele cuja candidatura tiver maiores chances de emplacar.
Isto posto, vamos ao que de fato foi relevante na semana. A inflação continua crescendo em ritmo acelerado, praticamente sem controle. O índice oficial alcançou 1,16% em setembro, a maior taxa para o mês desde 1994. O acumulado em 12 meses chegou a 10,25%, processo que impacta de forma mais aguda os mais pobres, a maioria da população. Outro dado revelador da crise econômica e como ela atinge a classe trabalhadora foi a notícia de que o emprego informal dobrou no Brasil nos últimos cinco anos, um marco inquestionável da medíocre recuperação econômica desde 2017. De um total de 89 milhões de ocupados, 36,3 milhões são informais, ou seja, 4 em cada 10 ocupados.
O que esperar da economia, quando o ministro responsável por sua condução é acusado de especular com a desvalorização do real em empresa mantida em offshore? Em qualquer outro país de instituições democráticas sólidas, ele teria sido demitido e seria julgado por corrupção. Em vez de entrar no mérito, a mídia especula sobre o processo de fritura de Guedes desencadeado pelo centrão, que teria interesse em ampliar sua influência na definição das despesas do governo. Ou especula ainda sobre o momento em que será descartado por Bolsonaro, já que seu tempo de validade está dado. Disso sabemos. Alguém ainda acredita que Guedes possa definir algum rumo para a política econômica e apresentar medidas para reverter o desemprego, reduzir a inflação e acelerar o crescimento do país?
Chegamos na última semana ao sinistro número de mais de 600 mil vítimas da Covid, resultado que em grande parte poderia ter sido evitado, não fosse a política negacionista e errática do governo que apostou na imunização de rebanho e no tratamento precoce em vez do isolamento social e a vacinação. No entanto, há o alento vindo da CPI da Covid, de que a ação criminosa não ficará impune. Segundo seu relator, senador Renan Calheiros, o texto final terá três personagens centrais: o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e seu braço-direito, o coronel Élcio Franco. Referindo-se a Bolsonaro como “mercador da morte”, afirma que está clara e comprovada a sua participação em crimes e que não há dúvidas de que será responsabilizado. “Nós já temos a especificação de 11 crimes e vários agravantes”, declarou a um órgão da imprensa.
Divulgado o relatório, espera-se que haja desdobramentos, abrangendo inclusive a Prevent Senior, acusada de usar pacientes como cobaias do tratamento precoce e de fraudar atestados de óbito. Espera-se, fundamentalmente, que recebido o relatório “Aras não mate a bola no peito”.
Enquanto tenta emplacar a ideia de uma “pax bolsonariana” – alguém acredita nisso? – Bolsonaro deixa de lado o ataque a membros do Supremo. Espera transitar incólume até às eleições de 2022, entre outros motivos por ter tido uma demonstração incontestável de apoio popular no 7 de setembro ou por contar com mais de um milhão de seguidores no Telegram, esperando repetir o êxito da campanha passada nas redes sociais. Coloca-se, no entanto, como profeta do mau agouro e do caos, ao afirmar que a inflação e a situação econômica vão piorar e que a culpa não é do governo. Vindo do presidente que não governa e nunca soube o que é governar, acaba sendo mais um motivo para fortalecer a luta para encurtar o seu mandato.