A tensão no Leste Europeu ganhou mais um capítulo, talvez decisivo para o desfecho do conflito. Num movimento já esperado, a Rússia firmou com a China uma aliança contra as políticas ocidentais expressas na agenda imperialista dos Estados Unidos. A agenda norte-americana visa conter a influência do governo de Putin no continente europeu e o crescente domínio do governo de Xi Jinping no Indo-Pacífico. A aliança estratégica entre o maior país do mundo e a segunda economia mundial, controlados por regimes políticos autoritários mexe no equilíbrio geopolítico. Para analistas, o acordo selou a entrada na Guerra Fria 2.0. Biden enviou três mil soldados para países membros da Otan no Leste Europeu e faz cálculos para uma eventual ocupação da Ucrânia. Ganhou popularidade em casa, mas pouco pode além do jogo de cena e diante do recado recebido da Rússia e da China para manter o conflito no Leste Europeu em banho maria.
Outro fato que ganhou notoriedade internacional foi a vitória estupenda dos socialistas em Portugal, garantindo maioria absoluta no Parlamento. O premier Antônio Costa fez um pronunciamento emblemático depois da vitória: “Uma maioria absoluta não é um poder absoluto. Não é governar sozinho. É uma responsabilidade acrescida. Governar é para e com todos os portugueses”. Recado de quem sabe o que é a arte da democracia. Assim, poderá dar continuidade à virtuosa política econômica conhecida como “Geringonça”, que não cede às pressões da União Europeia para deixar prevalecer em território português “a mão invisível do mercado”. No país vizinho, a Espanha, uma votação apertada no Parlamento aprovou mudanças substantivas na reforma trabalhista, revogada em pontos essenciais, desmistificando a ideia de não ser possível voltar atrás quando se trata de combater a precarização do trabalho. Um ótimo exemplo a ser seguido num eventual governo Lula que já afirmou ser esta uma de suas prioridades.
Notícia preocupante veio da Dinamarca onde uma subvariante da ômicron já é dominante e tende a se espalhar pelo continente europeu. Mais contagiosa e letal que as variantes anteriores, os primeiros casos já foram constatados no Brasil, que enfrenta um processo de crescimento exponencial de vítimas de contaminação e de morte provocadas pela ômicron. É neste cenário que famílias relutam em vacinar as crianças, atitude em grande parte devida à ação negacionista do governo Bolsonaro.
Em mais uma demonstração de que Guedes – o Posto Ipiranga – não decide mais nada, inclusive sobre preços de combustíveis, Bolsonaro se apressou em elaborar uma PEC para que a União e os Estados reduzam, ou até eliminem, tributos aos combustíveis. Alas do governo apoiam um texto alternativo mais amplo no Senado, que também inclui auxílio-gás para mais famílias, subsídio para conter tarifaço de ônibus e auxílio-diesel para caminhoneiros. No centro da polêmica, a Petrobras voltou à baila. Lula afirmou que em seu governo não aceitará que acionistas da empresa aqui e no exterior continuem lucrando em detrimento da dona de casa que não pode pagar o preço do botijão de gás. Tema que colocará em campos opostos candidatos à presidência: aqueles em defesa da privatização da empresa versus aqueles que apostam no papel da estatal como baluarte de um projeto de desenvolvimento inclusivo, que promova políticas públicas consistentes de educação e saúde.
A sinalização de controle dos preços dos combustíveis não foi o único “gesto de bondade” do presidente com fins eleitoreiros. Na canetada, aprovou o aumento do salário dos professores da rede pública do ensino básico, transferindo o ônus para prefeitos e governadores. Mais de 1,7 milhão professores serão beneficiados pelo reajuste em todo o país. Ao anunciar a decisão, o ministro da Educação, o mesmo que está sendo acusado de homofobia, disse que a iniciativa do governo visava evitar que os professores sejam usados “como massa de manobra”. Nos rincões dominados pela política de mando de velhos caciques políticos, onde inexiste organização sindical, não custa o gesto do presidente ser aclamado como benesse.
Os resultados das manobras eleitoreiras de Bolsonaro – Auxílio Brasil, reajuste salarial de mais de 30% para professores do ensino básico, reajuste salarial para agentes de segurança, auxílio gás para mais famílias, subsídio para conter o tarifaço de ônibus, auxílio-diessel para caminhoneiros – já começam a ser sentidos. A última pesquisa eleitoral do PoderData realizada na 2ª e na 3ª feira da semana (de 31 de janeiro a 1º de fevereiro) mostra que a vantagem de Lula sobre Bolsonaro desceu de 14 para 11 pontos.
O Centrão continua no comando e nadando de braçada: a blindagem às emendas de relator na sanção do Orçamento consagra seu domínio sobre os cofres do governo. Mas fidelidade tem limite: a elevada rejeição a Jair Bolsonaro tem levado lideranças do aglomerado político a defender abertamente o abandono ao atual ocupante do Palácio do Planalto e o apoio ao ex-presidente Lula.
Em síntese, tem muita coisa em jogo nesse tabuleiro político em movimento e nada é definitivo. Lula continua em busca de bases sólidas de apoio nos principais colégios eleitorais, particularmente do Sudeste. Mandou recado de que não abre mão da candidatura de Haddad em São Paulo, ao mesmo tempo em que o PT sinaliza abrir espaço para o PSB no Rio de Janeiro e em Pernambuco e, eventualmente, em outros estados.
No andar de baixo da corrida eleitoral, o alto grau de rejeição de Dória dificulta a aproximação com partidos de centro-direita para se chegar a uma única candidatura que represente a “terceira via”.