No plano internacional, os cem dias da invasão russa na Ucrânia foram lembrados, sem sinalização concreta de um desfecho para o conflito. Do ponto de vista militar, o exército invasor consolida posições no leste e sudoeste do país, depois de ter fracassado na tentativa de capturar Kiev. Do ponto de vista diplomático, uma solução negociada está cada vez mais distante. A guerra, por sua vez, tem tido desdobramentos mais amplos no cenário geopolítico, econômico e humanitário.
A reação dos países centrais do capitalismo e de seu aparato militar, a OTAN, foi imediata e letal. Putin foi isolado politicamente e as pesadas sanções praticamente colocaram a economia russa à margem do centro dinâmico da economia ocidental liderada pelos Estados Unidos e União Europeia. A dependência de países europeus de combustível russo, particularmente o gás, criou uma relação ambígua em que membros da UE continuam comprando e pagando pela commodity em rublos, situação que atenua parcialmente as sanções econômicas. O fortalecimento das relações comerciais e militares com a China, que se aproveita do conflito para comprar petróleo barato, além de oferecer anteparos à economia russa desligada abruptamente do Ocidente, abre novas possibilidades para uma nova a configuração de poder capaz de se contrapor à influência norte-americana no Indo-Pacifico. A agressão russa na Ucrânia, por sua vez, provocou o fortalecimento do OTAN, levando aos pedidos de ingresso da Finlândia e Suécia à organização e ao acirramento da disputa no Leste Europeu.
Do ponto de vista mais imediato, a Rússia tem usado o embargo às exportações ucranianas pelo Mar Negro como arma de guerra, o que repercute sobre o preço de alimentos no mercado internacional e afeta países já ameaçados pela fome. A guerra provocou o deslocamento de cerca de 14 milhões de pessoas na Ucrânia e a migração de mais de 5 milhões delas para países europeus. O número de mortos é maior do que o divulgado oficialmente pelos órgãos internacionais, algo em torno de 4.200 civis, segundo a ONU. Desmoralizados pela resistência ucraniana, militares russos cometeram inúmeros crimes de guerra antes de se retirarem da região de Kiev e se concentrarem no Leste e Sudoeste do país. Valas comuns onde os corpos foram enterrados continuam sendo descobertas. Novas sanções econômicas por parte do Ocidente e o fornecimento de armas às forças de resistência ucranianas apontam para um conflito prolongado.
O cenário de insegurança política e econômica em países do Oriente Médio e da África tende a aumentar a pressão migratória para a Europa, levando à reação dos países que têm sido usados como porta de entrada no continente.
No plano nacional, a ação do ministro Nunes Marques de derrubar a decisão do colegiado do TSE e reabilitar deputados bolsonaristas que haviam sido cassados tende a acirrar novamente o conflito entre o executivo e o judiciário, se a manobra for derrubada no Supremo, como tudo indica que ocorrerá.
Bolsonaro, em situação de desespero diante da provável derrota eleitoral, tenta a manobra do estado de calamidade para poder gastar, ilimitadamente, em projetos eleitoreiros e campanha.
Lula visita o Sul do país e fortalece as relações entre setores da esquerda e com o centro, aumentando as chances de vitória no primeiro turno, para o pesadelo de Bolsonaro.