Na semana em que continuou deixando os partidos de direita e a mídia em compasso de espera pela reforma ministerial, Lula comemorou a posse do advogado Zanin no Supremo e, finalmente, pôde respirar um pouco mais aliviado com a redução de 0,5% na taxa Selic. Os fatos se interligam, como parte de um jeito peculiar de governar que vem dando certo. Nossa “geringonça” começa a funcionar. Do seu jeito, é claro.
Os acertos para a aguardada entrada de partidos de direita no governo foram definidos com representantes das agremiações e objeto de discussão com a direção do PT, e a votação de projetos estratégicos para o governo – marco fiscal e reforma tributária – foi negociada em reunião informal de Lula com Lira. Enquanto os partidos reclamam da demora, Lira afirma que não há consenso sobre as medidas e o governo dá a entender que o anúncio da dança das cadeiras talvez seja feito em agosto, depois dos compromissos internacionais envolvendo a cúpula de governos da região Amazônica.
Em síntese, a situação é definida nas negociações, o jogo de cena para alimentar especulações e uma certa incerteza continuam pairando no ar para vida seguir em frente como objeto da arte de se fazer política. “A adesão do PP e Republicanos, somada ao apoio da União Brasil, daria ao governo uma contagem formal de 374 votos, mais do que suficiente para aprovar emendas constitucionais. Contudo, esse cenário ainda é incerto, já que os termos do acordo não foram totalmente estabelecidos, e mesmo com uma reforma ministerial, podem surgir dissidências dentro dos partidos aliados.” Um cenário relativamente tranquilo para o governo, apesar de eventuais atropelos a serem administrados.
Não foi muito diferente na decisão do Copom que reduziu a taxa Selic. Nos bastidores, Haddad preparou o terreno, articulou reuniões com representantes do PIB nacional, inclusive com a banca encastelada na Faria Lima, deixando Campos Neto numa posição insustentável, levando-o ao voto de minerva a favor a redução de meio ponto percentual. A previsão é de chegar ao final do ano com uma taxa em torno de 11,75% – uma a queda considerável para uma taxa de juros ainda muito alta – e cujos efeitos serão sentidos a partir do primeiro semestre de 2024, segundo a Fiesp. Depois de tudo isso, a fala de Haddad em tom harmonizante: “O fato de estarmos nesse momento alinhados em torno da decisão não significa que houve concessão do Banco Central. Era uma situação de votação apertada, mesmo, com várias opiniões do mercado, muitos economistas falando sobre o assunto, todas as opiniões dignas e legítimas.”
Numa outra frente, mais espinhosa, o governo prepara o projeto para redefinir o papel das forças armadas. Sem condições de suprimir o artigo 142 da Constituição, alteração que colocaria os militares no devido lugar, a proposta é alterar a Lei Complementar que o regulamenta (nº 97, de 1999). “A intenção é criar no texto a possibilidade de as Forças Armadas cooperarem eventualmente em crises de segurança e ordem pública sem que seja necessário para isso a decretação de GLOs”.
Na economia, os ventos continuam favoráveis, além da queda da Selic. O saldo da balança comercial foi positivo em junho. As pequenas empresas continuam gerando a maioria dos novos empregos, mas continua alta a taxa de inadimplência. Há rumores sobre a capacidade da Petrobras continuar segurando o preço dos combustíveis, depois de ter sido divulgada a queda de 47% dos lucros da empresa no segundo trimestre de 2023. Embora o presidente da empresa, Jean Paul Prates, tenha afirmado que a Petrobras não tem sido leniente com a política de preços, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que a empresa está “no limite do preço marginal” e deve reajustar os preços dos combustíveis caso haja oscilação no mercado externo. A conferir.
E a direita mostrou novamente a que veio, desta vez em São Paulo. Ao criticar a operação policial que matou mais de uma dezena de pessoas no Guarujá, o jornalista Joaquim de Carvalho afirmou que o Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, implantou o “terror de Estado, e contra pobres” por meio da Polícia Militar. “O que a Rota está fazendo, o que a Polícia Militar está fazendo sob a liderança do secretário de Segurança Pública é terror de Estado, e contra pobres. É uma chacina de vingança”.