Semana de 29 de setembro a 2 de outubro/2022
“São as eleições mais importantes em décadas e uma vitória de Lula poderá confirmar uma nova era de governo de esquerda na América Latina, com seis entre as sete maiores economias da região sendo governadas por partidos progressistas”. New YorkTimes
“Uma das campanhas mais amargas desde o retorno do país à democracia em 1985, marcada por uma série de assassinatos brutais que a polícia acredita terem motivação política”. The Wall Street Journal
“A eleição chamou a atenção global como o mais novo local para a luta mundial entre democracia e autoritarismo. Ela é observada particularmente de perto nos Estados Unidos, onde a política é similarmente polarizada”. Washington Post
“Sem comemorações ostensivas, mas com otimismo redobrado, Lula venceu o primeiro turno contra Jair Bolsonaro com pouco mais de cinco por cento de diferença, mas não foi suficiente para evitar o segundo turno. Esse era seu objetivo. (…) Mesmo que o líder petista vença confortavelmente no segundo turno, também não terá um governo tranquilizador, com minoria no Senado e entre os deputados.” Jornal argentino Página/12
As afirmações colhidas na imprensa internacional antes e depois do primeiro turno das eleições no Brasil dão uma ideia de sua importância histórica e da preocupação com os seus resultados. O processo vem sendo acompanhado de perto. Semanas atrás, o Senado norte-americano aprovou, por unanimidade, uma resolução em defesa da preservação da democracia no Brasil. O documento manifestava preocupações com os riscos de desrespeito ao processo eleitoral e desencorajava qualquer tentativa de golpe, como vinha ameaçando Bolsonaro, deixando claro que não teria o apoio do governo Biden. Pouco depois, diplomatas asseguraram em conversa com Lula que Estados Unidos pretendiam reconhecer rapidamente o vencedor das eleições brasileiras, em uma tentativa de desencorajar questionamentos dos resultados que pudessem levar a uma crise institucional ou a caos no país.
Na reta final, as pesquisas eleitorais apontavam como incerta a vitória de Lula no primeiro turno. As intenções de voto a seu favor oscilavam entre 50% e 51% dentro da margem de erro, enquanto Bolsonaro atingia 36%. A ampla vantagem do candidato petista, no entanto, criou um clima de entusiasmo nas forças políticas comprometidas com a democracia e ansiosas em colocar fim nos anos de retrocesso e obscurantismo da era Bolsonaro. Um sentimento de esperança passou a alimentar a onda pró- Lula, com a adesão de personagens renomados do mundo político e do meio artístico. Estrategistas da campanha bolsonarista chegaram a admitir a possibilidade de derrota, enquanto o próprio Bolsonaro questionava a impossibilidade de não ganhar no primeiro turno, reforçando o propósito de questionar a segurança das urnas e a legitimidade do processo eleitoral em caso de derrota.
A divulgação dos resultados das urnas surpreendeu. Deu aflição assistir às primeiras horas em que Bolsonaro ficou à frente, sustentado pela divulgação dos dados das regiões onde era conhecido seu favoritismo. Elegeu uma bancada expressiva de senadores, derrotando candidatos cuja vitória era dada como certa, como a de França/PSB-SP. Seu partido, o PL, elegeu a maior bancada Câmara Federal, onde os partidos ligados ao Centrão mantiveram maioria. Conseguiu inverter a tendência de votos em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, colocando Tarcísio de Freitas/PL à frente de Haddad com 42,32% dos votos contra 35,70% do candidato petista. Em síntese, o bolsonarismo mostrou força para além do esperado. Essa é uma leitura dos resultados das urnas, correta em parte, mas não absoluta.
Leituras continuam sendo feitas neste momento, ainda no calor da hora, dando aos resultados outra conotação. Apesar do inegável fortalecimento das forças de direita e de extrema direita, Lula venceu o primeiro turno com 57.257.473 votos (48,5%) e chegou perto de virar o jogo. Não foi o resultado que esperávamos, mas não podemos esquecer que Bolsonaro foi derrotado.
Na eleição para governadores, o PT foi o partido com mais vitórias (3), está na disputa de outros quatro estados no segundo turno, com chances reais de vencer em três. O PT ampliou a liderança no Nordeste e assumiu a hegemonia no Ceará. Recuperou a liderança no Norte e voltou a ganhar em Minas Gerais. Mostrou competitividade em estados como São Paulo e Rio Grande do Sul, que parecem ser a chave para uma maioria sólida no segundo turno. Ampliou também sua bancada no Congresso. Um resultado muito diferente daquele de 2018.
Segundo o cientista político Leonardo Avritzer, “existe uma consolidação eleitoral do Bolsonarismo em patamares inferiores aos de 2018, mas ainda altos. Bolsonaro foi derrotado eleitoralmente pelo Lula por uma margem de votos significativa no primeiro turno, mas existe um descolamento entre Lula e a esquerda. Lula consegue ganhar em lugares que a esquerda não consegue, como Minas Gerais. Comparando os mapas eleitorais de 2022 com 2018, voltamos a um mapa mais clássico que prevaleceu nas eleições de 2006, 2010 e 2014. O Bolsonarismo não está morto, mas enganam-se aqueles que acham que ele se consolidou. Temos muito a comemorar no campo da esquerda.”
E temos muito o que fazer no segundo turno, a começar pelas alianças no campo democrático e o planejamento para reverter o quadro em São Paulo e eleger Haddad, vencer nos outros estados onde candidatos do PT estão na disputa e assegurar a vitória de Lula por uma margem expressiva de votos.