Uma das questões que voltou a ser destaque na mídia durante a semana foi a questão militar, para usar um jargão antigo. Nada que viesse representar verdadeira ameaça, mas os fatos não devem ser simplesmente ignorados. Primeiro, a grave afirmação feita por um militar da Marinha, atualmente lotado no GSI (Gabinete de Segurança Institucional, chefiado pelo general Augusto Heleno) de que o presidente eleito não tomará posse em primeiro de janeiro. Suas mensagens divulgadas em redes sociais, além de incentivarem os atos golpistas, defendem o assassinato de brasileiros eleitores de Lula, o que ainda mais grave. O que dizer da resposta da GSI, ao ser interpelada sobre o caso, de que “as supostas declarações demandadas são de responsabilidade do autor em atividade pessoal fora do expediente”?
O segundo fato está relacionado à mobilização de alguns militares da ativa na coleta de assinaturas de uma carta apócrifa com recados contra o Poder Judiciário e a favor dos atos antidemocráticos em quartéis. Sabe-se que causou desconforto no Alto Comando do Exército, que considera o documento apócrifo, com a maioria das assinaturas de oficiais da reserva, e não representar de forma fidedigna o pensamento majoritário hoje na tropa. Os comandantes falam ainda em possível abertura de processos administrativos por transgressão disciplinar contra militares da ativa que assinarem o texto.
Enquanto ainda se aguardava ação mais efetiva do Alto Comando do Exército, causou espécie a declaração do general Eduardo Villas Boas, ex-assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional do governo Bolsonaro, o mesmo general que em 2018 pressionou o Supremo Tribunal Federal pela prisão de Lula, ao insinuar numa declaração e caráter golpista: “Nossa força, em algum momento pode ser instada a agir.”
A escolha de ex-presidente do TCU (Tribunal de Contas da União) José Múcio Monteiro para ser ministro da Defesa no futuro governo Lula é um passo acertado na direção do conjunto de medidas que serão necessárias para administrar e colocar no devido eixo a questão militar, que é muito mais complexa do que os fatos destacados acima. Para os oficiais e generais da reserva ou da caserna que ainda rugem, a visita do conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos para acertar o encontro de Lula com Biden em Washington, em janeiro, deve ter soado como um recado: “Não ousem!”
A PEC do Bolsa Família finalmente começou a transitar no Senado. Deverá ser aprovada com emendas no Congresso em torno de dois pontos fundamentais: o tempo de duração (quatro anos) e o valor envolvido (cerca de 198 bilhões), com a possibilidade de redução de ambos. No seu encaminhamento, uma demanda inesperada: dar carona ao pedido do governo Bolsonaro de incluir na PEC recursos para bancar despesas fundamentais, como o pagamento de aposentadorias (gastou o que não tinha para comprar votos e agora está com o caixa zerado).
Lula continua negociando a ampliação e sua base de apoio no Congresso, desta vez envolvendo o PSD e o União Brasil. O PT endossou, em nome da governabilidade, o apoio a Lira para a presidência da Câmara. No Senado, a disputa deverá ficar entre Rodrigo Pacheco, atual presidente da casa, e Rogério Marinho representando as forças bolsonaristas.
Os GTs continuam trabalhando intensamente. Lula recebeu as Centrais Sindicais e representantes dos Ramos para ouvir seu diagnóstico sobre o mundo do trabalho e propostas para ações prioritárias do governo. O presidente eleito se comprometeu com a política de valorização do salário mínimo e com a criação de uma mesa de negociação, de caráter tripartite, para encaminhar questões relacionadas à reforma sindical e trabalhista. O GT do Trabalho recebeu representantes dos trabalhadores do serviço público para ouvir suas demandas e propostas relacionadas ao direito de greve, de negociação e de organização sindical.
Continuam as especulações sobre o futuro ministério, que Lula só anunciará depois da sua diplomação, prevista para o dia 12 de dezembro.