Dois eventos envolvendo os países centrais do capitalismo, a reunião do G7 e a reunião da OTAN, marcaram a semana no plano internacional, mostrando a sintonia de interesses no cenário geopolítico global: fazer frente à expansão do poder econômico e influência política chinesa e combater, sem trégua, a ação da Rússia em “estabelecer esferas de influência e controle direto por coerção, subversão, agressão e anexação”, numa alusão à invasão da Ucrânia. Lideranças ocidentais deixaram claro que “que o presidente Putin não deve ganhar esta guerra”.
O conflito no Leste Europeu serviu de mote para o que foi chamado de uma “refundação da OTAN” e redefinição de sua estratégia. A China passa a ser vista como uma ameaça potencial e a Rússia combatida com dissuasão militar. A proposta defendida pelos EUA na reunião do G7 de levantar 600 bilhões de dólares nos próximos cinco anos para investir em infraestrutura nos países emergentes, além de ter sido vista com ceticismo pelos chineses, foi interpretada como tentativa de se contrapor aos investimentos em infraestrutura que Pequim vem fazendo mundo a fora. Esses investimentos têm como moeda de troca “conectividade mútua, ganha-ganha, não dissociação e exclusão”. A expansão “branda” da influência chinesa tem atingido países no Cinturão e Rota da Seda (Belt and Road), mas não se limita a eles: é cada vez mais visível no continente africano e tem sido crescente na América do Sul.
A oferta feita por Bolsonaro de asilo político à ex-presidente da Bolívia, Jeanine Áñez que assumiu o poder através do golpe, foi vista como afronta pelo governo boliviano e, ao mesmo tempo, como indício da participação do governo brasileirona trama que forjou a renúncia de Evo Morales em 2019. Bolsonaro protagonizou mais um vexame no plano diplomático, ao recusar o convite para almoçar com o presidente de Portugal em visita ao Brasil, por saber que ele se reuniria em seguida com o ex-presidente Lula.
No cenário político nacional, a ação do governo teve como primeiro foco abafar escândalos, como a denúncia de assédio sexual cometido reiteradamente pelo presidente da CEF, o que levou à sua demissão, e impedir, desesperadamente, a instalação da CPI do MEC. Jogou pesado para ampliar sua influência no Congresso, chegando a liberar 3,2 bilhões do chamado orçamento secreto. Mesmo assim, a oposição no Senado conseguiu manter o número suficiente de assinaturas para reivindicar a instalação da CPI. Pressionado, Pacheco prometeu encaminhar a proposta no início da próxima semana.
Para atender aos interesses do governo, o Congresso tem aprovado, a toque de caixa, projetos de lei que requerem mudança constitucional e deveriam ser objeto de discussão mais ampla, como o “pacote de bondade” aprovado sumariamente no Senado, respaldado pela eventual aprovação do estado de emergência. Comandado pelo Centrão, o Legislativo vai mais longe: articula ampliar ainda mais o poder sobre o Orçamento no próximo ano e mudar as regras para tornar a liberação das emendas de relator uma obrigatoriedade para o Palácio do Planalto. O projeto da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2023, que dá as bases para a formulação do Orçamento, será usado para tentar alterar o tratamento a ser dado pelo Executivo às emendas de relator. As medidas aumentarão o poder do Legislativo em detrimento do executivo, engessando-o. Outra iniciativa que está sendo gestada redefine as regras do processo eleitoral. Ou seja, o novo governo enfrentará o desafio de revogar esse entulho.
Lula aproveitou a enorme manifestação popular de apoio em Salvador para mandar um recado claro aos militares: não tolerará ameaças. Foi uma resposta a Braga Netto que afirmara, dias antes, que sem auditoria não haverá eleições. Foi o primeiro “chega pra lá” que precisa ser reforçado com outras medidas, como o fortalecimento da organização popular para defender o voto nas ruas, se necessário.
As pesquisas apontam Haddad na dianteira na disputa pelo governo de São Paulo, principal colégio eleitoral do país, o que contribui para o clima de “já perdeu” reinante na campanha de Bolsonaro.
No horizonte, o temor de uma possível retração econômica global e, no presente, o cenário sombrio da inflação em alta, do desemprego que ainda atinge mais de 10 milhões de trabalhadores (apesar da relativa queda nos últimos meses) e do número crescente de trabalhadores sobrevivendo na informalidade.