A reunião de Ministros da Defesa da Otan, a convite dos Estados Unidos, serviu para reforçar a aposta numa eventual vitória da Ucrânia contra o exército invasor russo. O envio massivo de armamento “adequado” por parte dos Estados Unidos e países europeus vinculados à Otan, inclusive a relutante Alemanha, poderiam assegurar, no longo prazo, esse resultado. Essa aposta muda o cenário e a perspectiva de um desfecho breve e negociado para o conflito.
O objetivo de derrotar os russos e, no desdobramento, alijar Putin do poder, passou a ser o objetivo estratégico do governo norte-americano, o que Biden deixara escapar semanas atrás, em ato falho, numa de suas declarações. Putin respondeu com o anúncio de corte do envio de gás à Polônia e à Bulgária e com a ameaça de uso de armas atômicas, aumentando o risco de uma terceira guerra mundial.
Coube à diplomacia russa botar panos quentes na escalada de ameaças. Na reunião com o Diretor Geral da ONU, Anónio Guterres, Putin reafirmou seu desdém ao Ocidente e às instituições multilaterais. A custo, corredores humanitários foram criados para libertar a população sitiada em Mariupol, enquanto o exército invasor intensifica os ataques na região de Donbass para assegurar, a qualquer custo, a vitória – a resistência do exército ucraniano tem sido surpreendente – e poder, finalmente, anexar o território, seu novo objetivo.
O recém empossado e mais jovem presidente do Chile, Gabriel Boric, enfrenta uma onda surpreendente de protestos por parte da população insatisfeita com seu governo moderado, longe de atender a demandas radicais de mudança. Os Mapuche, povo originário da Patagônia, ameaça tomar à força as terras de onde foram expulsos e que ainda consideram suas.
A compra do Twiter pelo milionário Elon Musk, proprietário da Tesla e da Space X, foi outro fato com grande repercussão na mídia internacional. Segundo analistas, não se pode esperar muito do empresário que mantém relações estreitas com o Pentágono. Há muita coisa em jogo e por trás da alegada liberdade de expressão a ser assegurada pelo novo dono da plataforma. Em declarações anteriores, sinalizou com a possibilidade de limitar o papel dos moderadores de liberdade de expressão e de conteúdo, o que poderá levar a reabrir as portas do Twiter para Donald Trump, banido por incitar a violência por parte de apoiadores. Tornar o algoritmo um modelo de código aberto poderá ser outra mudança importante na plataforma.
Não é de se estranhar que as promessas de Musk tenham agradado Bolsonaro e suas hostes, decepcionadas com o acordo do WhatsApp com STE de permitir o funcionamento de megagrupos apenas em 2023. O presidente voltou à carga com a linha de desestabilizar e questionar as instituições e o processo eleitoral em 2022. Chegou a sugerir uma apuração paralela dos votos pelas Forças Armadas.
Aproveitou as manifestações de apoiadores no dia 1º de Maio para questionar novamente o Supremo, que o tem impedido de fazer desuso da liberdade de expressão. Forja, de maneira oportunista, o respaldo das FFAA, quando se sabe que não o tem por unanimidade – a banda podre que faz seu jogo, imiscuindo-se com seu governo corrupto e comprometendo a imagem da instituição, felizmente não é maioria.
Foi novamente questionado pelo presidente do Senado: “O 1º de Maio sempre foi marcado por posições e reivindicações dos trabalhadores brasileiros. Isso serve ao Congresso, para sua melhor reflexão e tomada de decisões. Mas manifestações ilegítimas e antidemocráticas, como as de intervenção militar e fechamento do STF, além de pretenderem ofuscar a essência da data, são anomalias graves que não cabem em tempo algum. ”
A questão do indulto ao deputado federal Daniel Silveira continua rendendo. A ministra Rosa Weber deu dez dias para Bolsonaro explicar a concessão da graça constitucional ao parlamentar falastrão. Partidos da base de apoio do governo indicaram o criminoso para comissões na Câmara, entre elas a Comissão de Constituição e Justiça. Em busca de holofote, ele continua frequentando o Congresso sem a tornozeleira eletrônica e foi transformado em “herói” nas manifestações bolsonaristas. No entanto, foi penalizado com novas e pesadas multas por parte do ministro Alexandre Moraes por descumprimento de medidas judiciais.
O caso de Daniel Silveira ofuscou na mídia um fato muito mais relevante do ponto de vista político e jurídico: o reconhecimento, por parte da Comitê de Direitos Humanos da ONU, de que o julgamento de Lula na Lava Jato foi parcial e condenável. Lula continua na frente na intenção de votos: vence Bolsonaro por 48% x 39% no segundo turno, o que indica certa estabilidade, mas a diferença entre os dois candidatos no primeiro turno diminui para apenas 5%, segundo pesquisa recente do PoderData. De acordo com o mesmo instituto, Lula vira o jogo sobre Bolsonaro na Região Sul (41% x 38%), tradicional reduto bolsonarista.
A terceira via continua se procurando. O candidato do PSDB que corria por fora, Eduardo Leite, desistiu e volta a disputar o governo do Rio Grande do Sul. O União Brasil anuncia seu desembarque do agrupamento. João Doria insiste em continuar na corrida, apesar do alto grau de rejeição, inclusive dentro do próprio partido. Ciro Gomes flerta com o PSD de Kassab, mas pode fechar acordo com Bivar, do União Brasil.
Enquanto isso, a média móvel de mortes por Covid volta a subir, depois de 71 dias de estabilidade e queda.