A semana se encerrou sem solução para a tensão no Leste Europeu, envolvendo de um lado a polêmica proposta de integração da Ucrânia à Otan e, de outro, a construção do gasoduto russo para abastecer diretamente a Alemanha. A eventual entrada da Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte, desejada por Washington, é mais do que controversa. É considerada um barril de pólvora, por permitir a instalação de mísseis e de aparato militar nas proximidades da fronteira do território russo, o que Moscou veta terminantemente.
O gasoduto, já pronto, aumenta substancialmente o potencial de venda de derivados do petróleo para o continente europeu, sem que a empresa russa, a Gasprom, tenha que pagar impostos à Ucrânia. O governo Biden, por sua vez, teme que o aumento da dependência ao gás russo possa influenciar o governo alemão em relação a futuras ações de contenção do crescente poder de Putin na região.
A semana foi de elevação do tom das ameaças norte-americanas. Longe de poder oferecer uma alternativa à dependência do gás russo – é remota possibilidade do fornecimento da matéria prima por países árabes – e com a empresa alemã Gas for Europe GmbH pronta para entrar em funcionamento, Biden corre o risco de ficar vendo navios.
No Brasil, com o agravamento da crise sanitária, evidenciado pelo aumento exponencial dos casos de contaminação pela ômicron e pelo limite da capacidade de atendimento hospitalar em pelo menos sete estados, a ação criminosa do Ministério da Saúde causou novamente perplexidade. No meio da crise, o ministério publicou uma nota técnica defendendo, mais uma vez, o “kit covid”. Teve que recuar, depois do repúdio assinado por mais de 60 mil profissionais da saúde. Bolsonaro, por sua vez, enfrenta a desagastada relação com o presidente da Anvisa com a intenção de indicar um médico negacionista para integrar a direção do órgão.
Mergulhado na crise econômica que se aprofunda – os bancos fecharam mais de 2 mil agências durante a pandemia e eliminaram mais de 15 mil postos de trabalho; a volta do país ao mapa da fome é considerada um fato inédito; em São Paulo duplica-se o número de moradores de rua; os salários dos trabalhadores com emprego formal são arrochados há três anos, a título de exemplo – Bolsonaro faz de conta que governa.
Numa jogada populista e de cunho eleitoreiro, anunciou o reajuste de 33% para professores da educação básica, transferindo a responsabilidade do pagamento para os administradores municipais. Ao mesmo tempo, os vetos ao orçamento do Ministério da Educação retiraram R$ 402 milhões da educação básica. Os cortes afetarão diretamente o programa de transporte escolar, a oferta de ensino integral para adolescentes e a preparação das escolas para o novo ensino médio.
Decretou luto oficial de um dia pela morte de Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo, embora tenha ignorado durante o mandato episódios que geraram comoção nacional, como a destruição e as mortes provocadas pelas enchentes no sul da Bahia, só para lembrar o mais recente, enquanto gozava férias, e gozava da nação, nas praias de Santa Catariana.
Para completar o pequeno show de descalabros, afrontou novamente o Judiciário ao descumprir a ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes, faltando ao depoimento marcado na Polícia Federal na última sexta-feira (28).
Enquanto isso, o Centrão, que governa de fato o país, nada tem a reclamar. Os três principais partidos do agrupamento político — PP, PL e Republicanos — comandam ao menos 32 postos-chave na administração federal e têm sob gestão mais de R$ 149,6 bilhões. A cifra é maior que o orçamento total estimado para os ministérios da Defesa (R$ 116,3 bilhões) e da Educação (R$ 137 bilhões) no Orçamento de 2022.
O tabuleiro eleitoral continua em movimento. Alckmin aguarda o desfecho do acerto político em São Paulo para se filiar ao PSB e formalizar sua participação como vice na chapa encabeçada por Lula; Moro é pressionado a revelar os ganhos provenientes de seu escuso contrato de consultoria à Alvarez & Marsal; Lula conversa com lideranças históricas do PSDB e a Igreja Universal dobra a aposta contra a esquerda.