Semana de 22 a 28 de agosto/2022
A semana que passou marcou seis meses da invasão da Ucrânia, sem que haja no horizonte uma solução definitiva para o conflito, embora seus desdobramentos sejam visíveis para além da arena de guerra. Estima-se que cerca de 10 mil civis foram mortos, mais de 5 milhões fugiram do país ou foram obrigados a se deslocarem para o território russo ou de países controlados por Putin onde são mantidos como prisioneiros de guerra. O exército russo, depois de uma estratégia errática de invasão simultânea em diversos fronts, reagrupou-se na região de Donbas de onde se movimentou em duas direções, ocupando territórios a nordeste e ao sul. Consolidou o processo de ocupação em cerca de 20% da área da Ucrânia, estabelecendo uma ligação estratégica entre o Sudeste e a Crimeia, anexada na guerra de 2014, e criando um cinturão de proteção ao território russo. Em que pese o apoio recebido da OTAN, o sonho de Zelensky de retomar a Crimeia e os territórios recém-ocupados parece cada vez mais distante.
A esperada reação interna de forças de oposição a Putin não aconteceu, nem a economia russa sofreu os abalos esperados com as pesadas sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e países europeus vinculados à OTAN. A investida dos países centrais do capitalismo contra a Rússia provocou uma aproximação política e econômica com a China, processo que vem fortalecendo a gestação de uma nova ordem mundial, multipolar, em que o eixo da economia mundial desloca-se para os países asiáticos e a Rússia passa a ser reconhecida como “o norte da Ásia”. No seu desdobramento, assistimos a uma nova “guerra fria”, cujos efeitos já se fazem sentir do continente europeu ao Indo-Pacífico, onde a integração de Taiwan à China passa a ser o principal ponto de tensão.
No plano nacional, duas questões marcaram o cenário político. A primeira foi a operação desencadeada pelo Ministro Alexandre Moraes para investigar empresários que se posicionaram a favor do golpe se Lula vencer as eleições. Dados sugerem que se tratou de mais do que uma conversa de ocasião nas redes sociais, envolvendo o próprio Procurador Geral da República. Segundo especialista jurídico, entre as transgressões cometidas por Aras e passíveis de impeachment destacam-se: “ser patentemente desidioso no cumprimento de suas atribuições; proceder de modo incompatível com a dignidade e o decoro do cargo”.
O segundo destaque ficou por conta das entrevistas dos candidatos à presidência no Jornal Nacional, com destaque para a participação de Lula na quinta (25), considerada com quase unanimidade como tendo sido excepcional. Respondeu com desenvoltura a todas as perguntas, aproveitando para abordar como estadista as principais questões nacionais. O mesmo desempenho não se repetiu no programa da Band no domingo (28), em parte devido à dinâmica do próprio programa que leva à dispersão do debate em questões nem sempre as mais relevantes, além de não assegurar aos candidatos que realmente estão no páreo apresentarem os principais pontos de seu plano de governo. Lula melhorou o desempenho e foi mais contundente no final do programa, mas perdeu a oportunidade de angariar votos de eleitores de Ciro e de Tebet, votos importantes para vencer no primeiro turno. A conferir como serão, nas próximas semanas, a dinâmica da propaganda eleitoral na grande mídia e a disputa nas redes sociais.