Houve pouco avanço das tropas invasoras russas no território ucraniano na última semana. “Essa lentidão, segundo estudiosos que publicam análises da guerra, indica uma mudança estrutural em andamento no conflito. As forças russas, frente a uma resistência ucraniana inesperada e a problemas de logística e de estratégia, chegaram a um ponto de extenuação das capacidades mobilizadas, sem conseguir alcançar seus objetivos políticos. No momento, freiam seus movimentos para reagrupar suas forças e repensar o que pretendem e podem obter na guerra”. Ao final da quarta semana de guerra, o chefe da Direção Operacional Principal do Estado-Maior das Forças Armadas russas, Sergey Rudskoy, declarou que “o foco do Kremlin na nova etapa é ‘libertar’ completamente as regiões separatistas Luhansk e Donetsk, em Donbass”.
Segundo analistas, Putin errou redondamente ao imaginar a ocupação triunfal da Ucrânia, com seu exército avançando sem resistência em diversas frentes, aclamado pela população agradecida por libertá-la do jugo nazista e da má influência da cultura decadente do Ocidente. Diante do fiasco da “operação militar” em terra, o autocrata não hesitou em recorrer a bombardeios massivos para impor a vitória, uma vitória sobre escombros, como tenho dito. Sem ter ainda o vil trunfo da conquista em nenhuma das regiões, concentra as operações em Donbas, para assegurar condições de impor na mesa de negociação pelo menos parte das exigências para pôr fim aos ataques e obter, assim, uma saída honrosa.
No cenário externo, continuam as pressões diplomáticas. A Rússia foi condenada, pela Assembleia Geral da ONU – 140 votos, incluindo o do Brasil – por provocar uma crise humanitária na Ucrânia. A OTAN pede que a Rússia cesse imediatamente a agressão e retire suas tropas do território ocupado. Biden declarou que a OTAN reagirá se os invasores usarem armas químicas. No entanto, a ameaça foi evasiva: “A resposta da Otan obviamente dependeria da natureza do uso dessas armas”, afirmou. Neste contexto de incerteza, Zelensky tenta desesperadamente convencer o mundo, especialmente os líderes europeus, de que a guerra é contra a Europa.
A reação articulada pelos Estados Unidos continua sendo de pouco suporte militar – não querem ultrapassar a linha vermelha de um conflito generalizado – , apoio moral e novas sanções políticas e econômicas, desta vez atingindo parlamentares e oligarcas russos. A população que permanece no país ocupado, por não ter como sair, mas principalmente por resistir às tropas invasoras, sobrevive em condições extremamente precárias, no limite da sobrevivência. A China, de onde se esperava uma ação mediadora para acabar com o conflito, continua em silêncio. Matérias publicadas no Ocidente denunciam que, na calada da noite, os chineses aproveitam a crise, particularmente as sanções impostas à economia russa, para comprar petróleo barato do pais vizinho.
O Brasil voltou a ser envergonhado por mais um grave escândalo no governo, desta vez envolvendo o Ministro da Educação e pastores evangélicos, colocados no ministério por indicação de Bolsonaro e envolvidos na intermediação de recursos em troca de propina. O escândalo assumiu proporções nacionais diante do número crescente de prefeitos que têm dado detalhes irrefutáveis da ação criminosa dos pastores. Sua ação sistemática e o conluio do ministro configuram a existência de mais um gabinete paralelo dedicado à corrupção. O presidente, indignado como soe acontecer quando é pego de calças na mão, reluta em demitir Milton Ribeiro e sai em sua defesa, afirmando que pelo ministro “bota a cara no fogo”.
Parlamentares da oposição acionaram pedido de investigação. A bancada evangélica apressou-se em dizer que não tem nada a ver com a estória. A ministra do Supremo, Carmen Lúcia, determinou a abertura de inquérito contra Milton Ribeiro. E Lula aproveitou para pedir investigação da quadrilha encastelada no MEC, lembrando outros escândalos envolvendo Bolsonaro que até hoje continuam sem a devida investigação e punição. A propósito das “rachadinhas”, o atual presidente se viu às voltas com mais um caso, desta vez envolvendo uma funcionária fantasma e sua amiga, a Val do Açaí, na época em que era deputado federal.
No plano econômico, principal preocupação do governo no ano eleitoral, os sinais continuam em mãos inversas: a inflação permanece com tendência de alta. Considerado a prévia da inflação, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) subiu 0,95% em março deste ano. Foi a maior taxa para o mês desde 2015. A economia continua sendo irrigada com o aumento das exportações e valorização das commodities, fatores que levam à queda do dólar, também provocada pelos juros altos que atraem capital especulativo e pelo preço relativamente baixo dos ativos brasileiros.
As pesquisas eleitorais mostraram, desta vez, que Bolsonaro recuperou “um pouco de fôlego na corrida para o Palácio do Planalto e chegou a 26% de intenções de voto na disputa, que segue sendo liderada pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva, com 43% “. Outros dados revelados pelo Data Folha mostram que o presidente “ganhou cinco pontos na intenção espontânea de voto (18% para 23%), enquanto o petista oscilou de 32% para 30%. Em todas as simulações de segundo turno, o presidente avançou. Na disputa com Lula estreitou em oito pontos a margem de vantagem do petista, que ficou em 21 pontos (55% a 34%). E sua rejeição caiu cinco pontos, embora se mantenha em altos 55%”. São dados preocupantes, considerando o rol de medidas de que tem lançado mão na área social, visando a população pobre onde Lula desfruta de larga vantagem.
Mais de cinquenta deputados trocaram de partido, aproveitando-se da chamada “janela partidária”. Artistas renomados fazem campanha para jovens tirarem título de eleitor e participarem das eleições (votando contra Bolsonaro, espera-se). Sob pressão, o Telegram finalmente firma parceria com o TSE. Mais um elemento importante no cerco às Fake News. E Lula vem priorizando a agenda com os movimentos populares, em detrimento das demandas de empresários.
Bolsonaro, por sua vez, acaba de assinar mais uma medida provisória contra os trabalhadores. O pacote de maldades atinge os trabalhadores do teletrabalho.