A semana do 20 de junho foi marcada, no plano internacional por sinalizações, por parte das grandes potências, sobre as disputas de fundo no cenário geopolítico, no que já é visto como nova versão de guerra fria. Xi Jinping aproveitou a reunião do BRICs para mandar um recado à OTAN: “Países acabarão em dificuldades se depositarem fé cega na expansão de alianças militares e na busca de sua própria segurança às custas dos outros.” O chanceler alemão, Olaf Sholz, na cerimônia de abertura da reunião do G7, dias depois, fez o contraponto, apostando na defesa da democracia. Segundo ele, o objetivo do encontro é enviar um “sinal poderoso” demonstrando que “nossas democracias fortes estão cientes de sua responsabilidade global conjunta.”
Assistimos ao fortalecimento da agenda conservadora nos EUA, com a Suprema Corte definindo o fim do direito constitucional ao aborto, revertendo uma decisão tomada há 49 anos atrás pelo mesmo tribunal. A ONU alertou para a erosão da democracia nas situações em que jornalistas e ativistas são calados pela violência privada ou do Estado, numa alusão ao assassinato de Dom Philips e Bruno Pereira no Brasil. Nesse cenário relativamente sombrio, não deixa de ser promissora a onda a favor da democracia e contrária à agenda neoliberal vinda à Oeste na América do Sul, fortalecida com a eleição de Gustavo Petro na Colômbia e que isola ainda mais Bolsonaro no continente.
A prisão do ex-ministro da Educação, e dos pastores que atuavam no MEC, por orientação e Bolsonaro, influenciando a distribuição de recursos públicos em descaradas práticas de corrupção, foi o principal fato político no cenário nacional. Desdobramentos do processo o tornaram ainda mais grave, como a declaração do delegado Bruno Calandrini de que a investigação foi “prejudicada” em razão de tratamento diferenciado dado pela polícia ao ex-ministro do governo Jair Bolsonaro. A divulgação posterior de áudios confirmou que o presidente usou informações privilegiadas para admoestar o ex-ministro da ação da PF. Não ter sido conduzido à Brasília, como determinara a própria PF, somado ao fato anterior, evidenciam crime de obstrução da justiça.
A reação foi imediata. No Senado, a oposição reuniu as assinaturas necessárias para a abertura de CPI. Cabe ao “cauteloso” Pacheco dar andamento ao processo, antes que o Planalto use, mais uma vez, de pressões e benesses espúrias (liberação de emendas ao orçamento) para obter a retirada de nomes da lista de senadores que apoiam a iniciativa. O PT entrou com ação no Supremo cobrando mais investigações contra supostas irregularidades na liberação de dinheiro feita pelo Ministério da Educação, destacando que a vinculação de Jair Bolsonaro (PL) “com grupo criminoso antecede a posse do ex-Ministro da Educação”.
Acuado, o governo atuou nos bastidores. Bolsonaro tentou se distanciar do caso, alegando que a responsabilidade era dos outros – o ex-ministro pelo qual jurara botar a cara no fogo e os ditos pastores – conseguindo soltar o ex-ministro. Ao ser preso, um dos pastores ameaçou “destruir todo mundo”, caso as investigações e a ação da PF atingissem sua esposa. Enfim, foi um cenário de “Deus nos acuda” às vésperas da campanha eleitoral, mostrando como a ameaça feita na semana anterior de abrir uma CPI contra a Petrobras não passou de cortina de fumaça. O aumento dos combustíveis foi feito e está aí, incomodando muita gente. Bolsonaro tenta acalmar os ânimos com o auxílio a caminhoneiros autônomos de R$ 1.000,00 (suficiente apenas para encher três tanques) e ganhar votos entre os mais pobres com a prometida elevação do valor do Auxilio Brasil para R$600,00. Manobra ainda para aprovar no Congresso o estado de emergência para facilitar a gastança durante o período eleitoral.
O segundo fato importante foi a divulgação dos resultados da pesquisa eleitoral do Instituto DataFolha, apontando o quadro de relativa estabilidade em relação ao mês anterior e confirmando a possibilidade de Lula ser eleito no primeiro turno.