Putin não cantou vitória sobre a Ucrânia, no dia 9 de maio, quando os russos celebraram a vitória contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial. Diante de tantos reveses e da desmoralização de seu exército, não pôde. Para surpresa geral, dois jornalistas conseguiram furar o bloqueio imposto aos meios de comunicação pelo Kremlin e divulgaram, por algumas horas, o que tem acontecido, de fato, com a invasão da Ucrânia pelas tropas russas.
Enquanto planeja a conquista definitiva da região de Donbass – e eventualmente da faixa que liga, ao sul, essa região ao porto de Odessa – continua colhendo novos embargos por parte de países centrais do capitalismo. Uma nova rodada de sanções deve ser anunciada, de acordo com pronunciamento da líder da União Europeia, Ursula Von der Leyn. O governo Biden deverá repassar 42 bilhões de dólares em armas para a Ucrânia, prevendo-se a prolongamento do conflito. Nesse cenário de incerteza e desesperança, o gesto do Papa Francisco, de se oferecer para falar diretamente com Putin, não deixa de ser comovente e inspirador. Talvez seja o único, entre os considerados grandes, com grandeza moral para falar da paz, embora seja remota a possibilidade de um acordo nessa direção. O autocrata russo simplesmente o ignorou.
O novo aumento da taxa de juros nos Estados Unidos sinaliza tempos de aperto na economia, com impacto negativo no resto do mundo, especialmente nos países emergentes, sujeitos a uma iminente fuga de capitais. A gravidade da situação tem sido apontada por analistas: “A gente está indo para um ciclo de aperto monetário nos EUA que a gente nunca viu nas últimas décadas. Estamos falando de quatro aumentos sucessivos de 0,5 ponto em cada reunião, seguidos de vários aumentos de 25 pontos no final desse ano e no ano que vem inteiro. Isso já provoca um aumento importante nas taxas de juros internacionais”. O Copom respondeu com nova elevação a taxa de juros, cuja projeção para o final de 2022 chega a 13,5%. A parcela endividada da população e que não está conseguindo pagar as dívidas repudia a medida, embora a justificativa do Banco Central seja, mais uma vez, combater a escalada da inflação. O setor rentista agradece, novamente.
No Chile, a popularidade do novo presidente continua caindo. Descontentamento dos setores que demandam mudanças mais profundas ou velhas manobras da direita para desestabilizar o governo de esquerda? Na Colômbia, a direita deu o recado: ameaça de morte Gustavo Petro, o candidato da esquerda com chances de ganhar as eleições presidenciais.
No Brasil, os militares dão sinais de se alinhar ao golpe para evitar a volta de Lula ao poder. Acatando a proposta de Bolsonaro de auditoria paralela no processo eleitoral, pressionam o TSE e pleiteiam a atribuição que não lhes é conferida pela Constituição para fiscalizar as urnas. Houve pronta reação do TSE que esclareceu que parte das questões ou dúvidas encaminhadas pelos militares sobre o processo eleitoral baseavam-se em dados incorretos. Como podem reivindicar tutela sobre algo cujo conteúdo não dominam? Desde quando militares entendem de processo eleitoral? Deviam baixar a crista e cantar de galo em outro terreiro, de preferência nos quartéis. A conferir os desdobramentos.
Bolsonaro não gostou do recado recebido do porta-voz do Pentágono em relação à segurança do sistema eleitoral brasileiro: “Temos muita confiança nas instituições democráticas do Brasil. O Brasil tem um forte histórico de eleições livres e justas com transparência e altos níveis de participação eleitoral. E é importante que os brasileiros, enquanto aguardam ansiosamente as eleições deste ano, tenham confiança em seu sistema eleitoral. ”. Pacheco, presidente do Senado, pronunciou-se na mesma linha.
Mas o que incomodou, sobremaneira, os bolsonaristas na semana que passou foi Lula ter dado entrevista e ter sido capa da Revista Time, inegável reconhecimento para quem tem se mantido à frente nas pesquisas eleitorais e tem grandes chances de vencer as eleições.
As hostes bolsonaristas não perderam tempo. Inundaram as redes sociais com resultados de falsas pesquisas em que o capitão está de longe à frente de Lula, forjando uma marca para sua mais recente invenção: o “DataPovo”.
O PT lançou no sábado, dia 7, a chapa Lula-Alkmin para disputar as eleições 2022. Lula fez a defesa contundente da democracia: “Queremos unir os democratas de todas as origens e matizes […] para enfrentar e vencer a ameaça totalitária.” Deu ênfase à questão social ao prometer combater o desemprego e a fome. Movimenta-se em direção ao centro, com o apoio de Alckmin, e busca alianças mais consistentes com o MDB, o PSD e o Avante. Faz incursões em estados estratégicos do ponto de vista do colégio eleitoral, como Minas, onde tenta costurar aliança com Kalil/PSD. Melhora o desempenho nas pesquisas eleitorais em regiões adversas, como o Sul. Em São Paulo, onde Bolsonaro venceu nas eleições passadas e o PSB mantém a candidatura de França, a disputa continua dura.
Bolsonaro, desesperadamente, faz campanha eleitoral, aprova medidas de cunho eleitoreiro, tensiona as instituições e reitera ameaças golpistas. Não governa, desgoverna. Assistimos, como resultado e mais uma vez, ao desmatamento recorde na Amazônia e ao aumento da ação criminosa de grileiros e garimpeiros em terras indígenas. Os Ianomâmi vivem tempos de violência e de angústia, com estupro e morte de suas meninas, e não há quase ninguém por eles. Restou-lhes pedir proteção ao Supremo.