Novos ataques e ameaças de Bolsonaro a ministros do Supremo e a reação de representantes dos poderes instituídos e da sociedade civil dominaram a cena política na semana de 2 a 8 de agosto. Foi mais um show de insanidade e destempero verbal do presidente, acuado pelas denúncias que apontam as contradições e malfeitos do seu desgoverno e amedrontado com a possível derrota eleitoral em 2022, como continuam indicando as pesquisas eleitorais.
Apesar de ter provocado mais uma crise com o poder judiciário, as respostas vindas do Supremo, do TSE, do parlamento e de entidades representativas da sociedade civil, além das matérias publicadas na mídia, mostraram o verdadeiro alcance das bravatas golpistas do lunático que ora ocupa o Planalto. Revelaram também o medo que o persegue ao sentir a espada de Dâmocles pairando sobre sua cabeça: ir para a cadeia, onde deve pagar pelos inúmeros crimes cometidos no mandato, depois de ser derrotado nas eleições, ou antes, se o presidente da Câmara decidir finalmente apertar o chamado “botão amarelo” do impeachment. Acusou Barroso de cooptar os membros do TSE e do STF contra o voto impresso, além de dizer que não aceitará “intimidações” e que eleições “duvidosas” não serão feitas em 2022.
Depois da resposta do magistrado, afirmando que voto impresso facilitará a ocorrência de fraudes, e não o contrário, e da decisão de Fux de cancelar a reunião entre representantes dos três poderes, por não acreditar no compromisso de Bolsonaro com “as próprias palavras”, o capitão baixou o nível – chamou Barroso de filho da puta – e elevou o tom da ameaça a Alexandre de Moraes, seu verdadeiro algoz: “a hora dele vai chegar“. Mais uma reação desesperada à decisão do ministro de acolher uma notícia-crime do TSE e determinar a inclusão do presidente no inquérito das fake news, que investiga o financiamento e a disseminação de notícias falsas.
O presidente do Senado, como é do seu feitio “tancredeano”, tentou botar panos quentes. Considerou grave a fala do presidente sobre atuar fora da Constituição e disse que declarações que indiquem retrocessos democráticos devem ser rechaçadas. Não passou disso, por não considerar real a ameaça de Bolsonaro – cão que ladra não morde – e/ou para manter a imagem de moderação que certamente lhe será útil, caso vingue o projeto de Kassab de alçá-lo a candidato à presidência em 2022 pelo PSD.
Lira, depois de pressionado, leu uma nota onde enviou dois recados. Decidiu levar para o plenário a decisão sobre o voto impresso. Ao dizer que “Câmara dos Deputados é a casa das leis”, pretende legitimar neste fórum a rejeição, dada como certa, ao voto impresso.Bolsonaro não terá o que questionar. Por outro lado, trama com os governistas um atenuante à provável derrota: emplacar a emenda que amplia o teste de integridade das urnas eletrônicas.
O segundo recado foi mais contundente: “Repito, não contem comigo com qualquer movimento que rompa ou macule a independência e a harmonia entre os Poderes, ainda mais como chefe do Poder que mais representa a vontade do povo brasileiro. Esse é o meu papel e não fugirei jamais desse compromisso histórico e eterno. O botão amarelo continua apertado. Segue com a pressão do meu dedo. Estou atento. 24 horas atento. Todo tempo é tempo”. Espera-se que Bolsonaro tenha entendido.
O que esperar de Aras? Muito pouco ou nada, como apontou uma analista depois de citar as inúmeras vezes em que o procurador-geral da República se comportou como mero sabujo do capitão, desonrando a instituição que comanda: “O chão da República estremece? Os poderes estão à beira da colisão? O tranquilo Aras cofia a barba. Bolsonaro, se tivesse uma, poderia fazer o mesmo. No que depender do amigo, ele nada tem a temer”.
Representantes do alto comando do Exército teriam dito, em conversas reservadas, que a reação de Fux faz sentido, diante do reiterado comportamento de Bolsonaro. Consideram que “ crise deve se prolongar, com novos arroubos autoritários do presidente, que não segue a liturgia mínima do cargo que ocupa”. Temem não suas bravatas, mas que “se repitam no Brasil as cenas vistas nos Estados Unidos após a derrota do republicano Donald Trump para o democrata Joe Biden”.
A ideia de que a farsa política comandada por Bolsonaro continuará é compartilhada por outros setores da sociedade. Precisa dessa cortina de fumaça para tirar o foco das denúncias da CPI, para encobrir o uso do “orçamento paralelo” comandado por Lira para distribuir benesses aos aliados e realizar obras que servirão de palanque eleitoral e para aprovar, a toque de caixa e sem nenhum debate na sociedade, a nefasta reforma do sistema político e eleitoral brasileiro. Precisa do discurso radical para energizar suas bases e continuará provocando conflitos para continuar fazendo campanha para 2022 em vez de governar, mesmo porque já não governa, entregou o fardo ao centrão.
Viveremos essa farsa, que encobre a enorme crise em que estamos mergulhados, enquanto as ruas não ganharem força para dar um basta a esse desatino.