Na semana que passou, o propósito de Xi Jinping e de Putin de moldar uma nova ordem mundial foi destaque na mídia internacional. Maior integração entre as economias, uma delas prestes a se tornar a maior no mundo, e aliança militar da China com a primeira potência nuclear podem alterar o jogo no cenário geopolítico internacional. Nesse processo, ganham importância a viagem de Lula à China, adiada pelo adoecimento do presidente brasileiro, e a vinda do chanceler russo ao Brasil, especialmente pelas possibilidades de atuação do BRICS no cenário internacional, reforçando o campo em formação do chamado Sul Global.
A tentativa de Netanyahu de submeter o poder judiciário ao poder executivo, além do objetivo imediato de o proteger da ação contra crimes de corrupção, significa um duro golpe à democracia, motivo da enorme onda de protestos que se alastra pelo país, de forma cada vez mais intensa. A França, por sua vez, foi tomada pela greve geral na sequência de nove dias de protestos contra a reforma da previdência imposta por Macron. O indicativo de greve geral na Alemanha contra a elevação do custo de vida e uma noticia quase despercebida num dos jornais de que a pobreza atinge cerca de 13% da população da Suécia mostram o efeito corrosivo da guerra na Ucrânia no continente europeu, onde a elevação do custo de vida se impõe como tendência, esgarçando o tecido social.
Notícias boas vieram de governos de esquerda na América do Sul, desta vez em relação ao trabalho. Do Chile veio o anúncio da redução da jornada de trabalho para 40 horas, com direito de folga de três dias na semana. Da Colômbia tivemos a divulgação da reforma trabalhista em mais uma demonstração e que, através da negociação tripartite, é possível construir novo marco regulatório que estabeleça limites à extrema precarização do trabalho imposta por políticas neoliberais. Os fatos reforçam as expectativas de nova regulação do trabalho no governo Lula, promessa de campanha.
No plano nacional, além de iniciativas importantes do governo na área da cultura, do combate à desigualdade racial e na revisão da reforma do ensino médio, tema que mobiliza os professores de norte a sul, três fatos foram destaque na mídia. O primeiro foi a decisão do Copom de manter a atual taxa Selic no patamar estratosférico de 13,75%, além de ameaçar com novas altas no futuro. Foi uma demonstração de insensibilidade a todos que pleiteavam mudanças na política monetária – o governo, empresários, economistas de renome mundial, partidos de esquerda, centrais sindicais e outros setores da sociedade civil – e que criticaram a insensatez de uma taxa real de juros de cerca de 8%, a maior do mundo.
A decisão também foi vista como confronto do BC com o governo e um revés do presidente Lula e do ministro da Fazenda, cuja sinalização de nova âncora fiscal não teve o efeito esperado sobre a decisão do Copom. Cresce o temor do BC se transformar, de fato, numa pièce de résistence bolsonarista com o propósito de minar a política econômica do governo Lula, impedindo a retomada do crescimento. A deliberação foi também motivo de grita na mídia, onde não faltaram críticas ao presidente Lula e vozes em defesa da atual política monetária.
A queda de braços entre Lira e Pacheco em torno das comissões mistas para apreciar medidas provisórias teve desdobramentos com acentuada elevação de temperatura nas relações entre as partes. O presidente do Senado, e por extensão do Congresso, num gesto unilateral assinou ato que oficializa a volta das comissões mistas para analisar as MPs. Lira reagiu, acusando o Senado de truculência. A disputa em torno das comissões – na realidade por poder e influência – tende a se arrastar por mais algum tempo. Exigirá, eventualmente, a “pajelança” de Lula, antes que a paralisia atual coloque em risco questões fundamentais para o governo como a atual composição dos ministérios, os recursos destinados ao Bolsa Família, entre outras, caso as MPs não sejam votadas dentro do prazo de 120 dias, a partir do seu anúncio.
O terceiro fato, associando indevidamente um comentário infeliz de Lula sobre Moro com a suposta ação do crime organizado para sequestrar o ex-comandante da Lava Jato e seus familiares, foi motivo de debates apaixonados e de críticas severas ao presidente, até o episódio insólito ter sido esclarecido como uma versão contemporânea de um conto machadiano: “Além de tudo ou além de nada, trata de uma ameaça de algo que não aconteceu, sendo que tudo foi descoberto depois que não aconteceu”.
Prestes a ser novamente desmascarado, desta vez pelo depoimento de Tacla Duran comprovando ter sido vítima do esquema de extorsão praticado na operação Lava Jato, tudo indica que Moro tenha usado a armação do suposto risco de vida para desviar o foco de atenção, jogar uma cortina de fumaça sobre a denúncia prestes a acontecer. Usou a tribuna do Senado, onde tem um desempenho medíocre, como caixa de ressonância e para criticar Lula. Parte da mídia endossou, não sem motivos. Está ansiosa para terminar a fase de namoro com o novo governo e começar a bater forte. O preocupante na estória foi a reverberação do caso nas redes sociais bolsonaristas, demonstrando o quanto estão ativas e à espera do retorno do capitão, e gente graúda do governo ter caído no conto do vigário.