Menos de vinte e quatro horas depois da assinatura do acordo, mediado pela Turquia, para liberar exportações de cereais da Ucrânia, a Rússia lançou mísseis de precisão sobre o porto de Odessa, alegando visar alvos militares. A agressão pode comprometer o acordo e atrasar, em meses, o envio de grãos comprados pelas Nações Unidas para combater a fome em países periféricos, especialmente da África. O chanceler russo declarou que Putin pretende conquistar outras partes da Ucrânia, além da região das chamadas repúblicas independentes, a leste, onde consolidou o domínio do território. Avança agora pelo Sul, com o alvo em Odessa, um porto estratégico, região por onde continuará bloqueando o acesso do governo de Kiev ao Mar Negro. Num cenário de incerteza, o exército ucraniano, abastecido de armamentos dos países ocidentais liderados pelos EUA, busca recuperar o território ocupado. Enfim, sinais de uma guerra prolongada.
Numa linha pragmatismo econômico, a estatal russa Gazprom retomou o abastecimento de gás natural para a Alemanha. Zelensky criticou em entrevista ao Jornal Nacional a neutralidade do governo Bolsonaro em relação à invasão russa.
O Banco Central Europeu elevou, pela primeira vez desde 2011, a taxa de juros em 0,5% com o objetivo de combater a inflação que já bateu os 8,6% este ano, quatro vezes a meta prevista. O continente prepara-se ainda para a alarmante sétima onda da Covid.
Na América Latina e Caribe, uma notícia chamou a atenção: a divulgação do relatório da Cepal mostrando como a precarização do trabalho alastra-se nos países do continente, apesar da pequena melhora no índice de recuperação do emprego.
Teve repercussão internacional, extremamente negativa para a imagem do país, a notícia da reunião promovida por Bolsonaro com embaixadores estrangeiros na qual criticou o sistema eleitoral e instituições democráticas brasileiras. Os embaixadores interpretaram a apresentação do presidente “como uma ‘tática trumpista’ para desviar o foco ou mesmo para preparar o terreno para o questionamento das eleições”.
A embaixada norte-americana foi veemente, ao reafirmar a credibilidade do nosso sistema eleitoral, afirmando que “as eleições brasileiras são um modelo para o mundo e que os americanos confiam na força das instituições do Brasil”. O porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, declarou, dias depois: “a nossa visão é a de que as eleições têm sido conduzidas com sucesso pelas instituições democráticas e pelo sistema eleitoral do Brasil, que são capazes e foram testados ao longo de muitos anos. Elas servem como um modelo para as nações não só para o hemisfério, mas além dele também”.
Bolsonaro conseguiu a proeza de juntar setores representativos da sociedade civil contra ele, inclusive parte daqueles que imaginava estarem em sua base de apoio, como a cúpula das Forças Armadas. A reação veio em cadeia, deixando a sociedade surpresa com o silêncio constrangedor de Lira, presidente da Câmara, e com o uso de um vídeo antigo por Aras para responder à pressão vinda de todos os lados. Os dois conhecidos sabujos do presidente ficaram desacreditados. Segundo uma conhecida jornalista política, “Aras comporta-se como avestruz”.
Centrais Sindicais repudiaram em nota o comportamento de Bolsonaro. Denunciaram o “gravíssimo momento que vive a nação” e convocaram os trabalhadores e toda a sociedade a se mobilizarem em defesa da “paz, da democracia e da realização das eleições”. A Fiesp reagiu afirmando que “o compromisso com a segurança jurídica é premissa essencial para o futuro de qualquer País na contemporaneidade“. Segundo a FSP, militares da ativa e da reserva ouvidos pelo jornalpara explicar a ausência de representantes das FFAA ao e evento “afirmaram que a ausência dos comandantes teria uma sinalização: as Forças Armadas não querem se atrelar institucionalmente ao discurso de Bolsonaro”.
Entidades representativas da PF peitaram Bolsonaro, manifestando total confiança nas urnas eletrônicas: “A Polícia Federal é uma das instituições de Estado que tem por atribuição garantir a lisura e segurança das eleições, que desde a redemocratização ocorrem sem qualquer incidente que lance dúvidas sobre sua transparência e efetividade”, afirmaram as entidades, acrescentando: “Manifestamos total confiança no sistema eleitoral brasileiro e nas urnas eletrônicas”.
Setores da campanha de Bolsonaro consideraram o evento um tiro no pé. Segundo matéria publicada pela FSP, “integrantes da campanha de Jair Bolsonaro (PL) dizem que o encontro do presidente com embaixadores, em que ele desacreditou o sistema eleitoral e atacou ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), só serviu para interromper uma onda de agenda positiva com a qual esperavam lucrar nesta semana”.
Lula reagiu com prudência ao fato, num encontro com representantes da cultura em Pernambuco, afirmando que a aliança do PT com sete partidos se deu pela necessidade de derrotar Jair Bolsonaro (PL), um “fascista cercado de milicianos”.
Bolsonaro aproveitou o lançamento de sua candidatura no Maracanzinho para conclamar seus seguidores a mais uma manifestação em Brasília, no dia 7 de setembro: “Nós somos maioria, nós somos do bem, nós temos liberdade para lutar pela nossa pátria. Convoco todos vocês agora, para que todo mundo, no 7 de setembro, vá às ruas pela última vez”. O roteiro pata o golpe está dado. Para o Secretário geral do PT, Paulo Teixeira, “não se pode superestimar nem subestimar a atitude do presidente. Essa não pode ser a pauta da campanha”.
Analistas políticos apontam que Bolsonaro aposta no caos, por não deter as condições necessárias para dar o golpe: (1) o domínio dos veículos hegemônicos de comunicação, (2) a cooptação de uma ampla parcela da população nacional, sobretudo da alta burguesia e extratos das classes médias e mais empobrecidas, (3) a aprovação de forças internacionais que estejam dispostas a bancar ou, no mínimo, a tolerar a iniciativa sem questionamentos, (4) o controle de boa parte do Judiciário e do parlamento (Legislativo) e (5) das Forças Armadas. A conferir.
A conferir também, nos próximos dias, a divulgação das pesquisas eleitorais e os resultados dos ventos que sopram favoravelmente a Bolsonaro na economia (queda do preço da gasolina, eventual redução da inflação, resultados dos benefícios sociais).