Semana de 17 a 23 de setembro de 2023
A participação do presidente Lula na 78ª Assembleia da ONU, onde fez o discurso de abertura, e a reunião posterior com Biden para lançar uma plataforma global em defesa do trabalho decente, foram vistos como coroamento das iniciativas realizadas para mostrar que o Brasil “está de volta” no cenário internacional. Ao contrário do que vinha afirmando a mídia nativa e internacional, Lula conseguiu catalisar como nenhuma outra liderança a atenção dos membros da Assembleia e do mundo com seu discurso vigoroso contra as desigualdades, pelo diálogo para alcançar a paz, em defesa do clima e da democracia e por mudanças nas instituições multilaterais para se chegar a uma nova e necessária governança global. Falou para um plenário concorrido o que a maioria dos membros da Assembleia queria ouvir, e foi aplaudido diversas vezes, ao contrário de Biden com seu discurso morno e do chanceler alemão que discursou para um plenário vazio.
As afirmações, destacadas a seguir, mostram quem é esse estadista e de que lugar fala para o mundo: “A fome, tema central da minha fala neste Parlamento Mundial 20 anos atrás, atinge hoje 735 milhões de seres humanos, que vão dormir esta noite sem saber se terão o que comer amanhã”.
“É preciso, antes de tudo, vencer a resignação, que nos faz aceitar tamanha injustiça como fenômeno natural. Para vencer a desigualdade, falta vontade política daqueles que governam o mundo.”
“A emergência climática torna urgente uma correção de rumos e a implantação do que já foi acordado. Não é por outra razão que falamos em responsabilidades comuns, mas diferenciadas. São as populações vulneráveis, no Sul Global, as mais afetadas pelas perdas e danos causados pelas mudanças no clima. Os 10% mais ricos da população mundial são responsáveis por quase a metade de todo o carbono lançado na atmosfera. Nós, países em desenvolvimento, não queremos repetir esse modelo”.
“Os BRICS constituem uma plataforma estratégica para promover a cooperação entre países emergentes. (…) Somos uma força que trabalha em prol de um comércio global mais justo no contexto de grave crise do multilateralismo.”
Segundo analista, “o Brasil que subiu à tribuna é respeitado não por merecer aplauso, mas por ser digno de ser ouvido com atenção.”
Na reunião com Biden e as Centrais Sindicais americanas e brasileiras, foi lançada a plataforma global para combater o trabalho precário. Lula associou a precarização do trabalho promovida pelo neoliberalismo à desilusão dos trabalhadores e sua descrença na política, processos intimamente relacionados ao fortalecimento da extrema direita mundo afora. “Não há democracia sem sindicatos fortes”, afirmou. O encontro com Biden serviu também para reativar relações até certo ponto estremecidas, colocando-as num patamar em que a cooperação em temas convergentes não significa subordinação à agenda que os Estados Unidos tentam impor ao mundo.
A iniciativa de combater a precarização do trabalho fortalece a posição dos sindicatos que estão prestes a apresentar no Parlamento um projeto de lei para reestruturar, em outras bases, o sindicalismo brasileiro. O projeto enfrentará forte oposição das forças de direita que não veem com bons olhos mudanças na antirreforma trabalhista de Temer.
Numa semana em que o cenário político nacional foi ofuscado pelo desempenho de Lula no plano internacional, as notícias vindas da economia continuaram favoráveis, com o anúncio de mais uma redução da taxa Selic (0,50 ponto percentual) e de superavit primário recorde em agosto, puxado novamente pelo agronegócio. A decisão do Supremo de rejeitar o marco temporal foi um dos fatos mais importantes e já vem provocando a reação dos empresários rurais. O início do julgamento visando descriminalizar o aborto, com o primeiro voto a favor da ministra Rosa Weber, que está na iminência de deixar corte., foi considerado um marco histórico.
A situação de Bolsonaro tornou-se mais grave com a divulgação de partes da delação do seu ex-ajudante de ordens à Polícia Federal. Mauro Cid afirmou que o ex-presidente realizou uma reunião, depois do 2º turno das eleições, com militares de alta patente e ministros do governo para discutir uma minuta que pedia novas eleições e incluía prisões de adversários. Segundo Cid, o plano de golpe de Estado teria sido apoiado pelo então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier. O desdobramento da investigação deverá levar a uma “limpeza” nas forças armadas (separar o joio do trigo, com punição dos militares envolvidos com os atos golpistas) e, provavelmente, a nova condenção do ex-presidente.