Os protestos no Irã contra a morte sob custódia policial da jovem Mahsa Amini, detida por uso “incorreto” do véu islâmico, chamam a atenção, apesar de não ter ocupado grande destaque na mídia internacional. Estão sendo duramente reprimidos. Segundo grupos de direitos humanos, cerca de 250 pessoas foram mortas e 12.500 presas. Apesar da repressão, os protestos se alastram por diversas regiões do país, com os manifestantes usando de táticas ousadas para convocar atos e para driblar a perseguição policial.
As greves dos trabalhadores de transporte e das refinarias na França e a anunciada paralisação dos motoristas britânicos são sintomas de uma crise econômica e social que se aprofunda no continente europeu, agravada com a escassez de combustíveis, alimentos e alta da inflação, em parte decorrentes da guerra na Ucrânia. A previsão de um inverno rigoroso e a incerteza em relação ao desfecho do conflito entre Rússia e Ucrânia apontam para um cenário sombrio. A resposta desastrada à crise provocou a queda da primeira ministra britânica, Liz Truss, que permaneceu no cargo apenas seis semanas. Políticas de proteção social e de apoio às empresas nacionais adotadas pelo governo alemão geraram críticas e tensionaram as relações com outros países da União Europeia, particularmente a França. Tempos também bicudos do outro lado do Atlântico.
No Brasil, a semana começou com especulações sobre o impacto do debate na Band entre Lula e Bolsonaro na campanha eleitoral. Embora o candidato do PT tenha se saído melhor nos dois primeiros blocos, controlou mal o tempo no último e deu margem ao adversário para reafirmar acusações e mentiras, num debate em que pouco se discutiu o que realmente interessa, a diferença de projetos políticos.
Os resultados das pesquisas eleitorais apontaram a diminuição da margem entre os dois candidatos, acendendo o sinal amarelo para a campanha de Lula e a todos nela se engajam em defesa da democracia. A pesquisa do Ipec, divulgada na segunda-feira (17), apontou pequenas oscilações dentro da margem de erro com Lula perdendo um ponto (de 51% para 50%) e Bolsonaro subindo um (de 42 para 43%).
Na pesquisa do Datafolha, divulgada na quinta-feira (20), Lula seguia à frente de Bolsonaro com 49% dos votos totais, ante 45% do rival. Brancos e nulos somavam 4% e indecisos, 1%. Com a margem de erro de dois pontos, Lula podia ter de 47% a 51% dos votos totais, enquanto Bolsonaro podia marcar de 43% a 47%. Segundo analistas, a oscilação favoreceu o presidente e os candidatos estariam “no limite máximo para um empate técnico pela primeira vez nesta disputa, mas tal cenário é considerado estatisticamente improvável neste momento”.
Dados internos da campanha do PT indicaram um cenário mais animador. Apontam para uma diferença de 6 pontos percentuais entre Lula e Bolsonaro, maior do que a última pesquisa Datafolha. Apontam ainda que Lula tem uma vantagem de 4 a 5 pontos em Minas Gerais, ao contrário do que diz Bolsonaro, que afirma ter virado o placar no estado. Os dados levaram o PT a focar campanha nos estados do Sudeste, onde o adversário tem obtido pequeno avanço.
Lula reconheceu os resultados das pesquisas como sinal de alerta. A melhora de desempenho de Bolsonaro remete ao cenário mais geral em que se desenrola a disputa. Um cenário marcado pelo abuso de poder e uso indiscriminado do aparelho de Estado e de recursos públicos em prol da campanha de Bolsonaro; de recrudescimento da violência contra adversários e da avalanche de notícias nas redes sociais visando aumentar a rejeição do adversário, a despeito da ação constante do TSE para combater este crime; aumento do assédio eleitoral a funcionários de empresas; intensificação da disputa na esfera jurídica.
É assustadora a desfaçatez com que o governo Bolsonaro lança mão de promessas e de recursos públicos para alavancar sua campanha. A título de exemplo, vale registrar o que vem ocorrendo só no segundo turno: promessa de aumento real para o salário mínimo e servidores; anúncio da liberação de uso do FGTS futuro para financiar imóveis; anúncio de crédito para mulheres empreendedoras; antecipação do pagamento de benefício para taxistas e caminhoneiros; início do crédito consignado do Auxílio Brasil; anúncio de benefício extra de até R$ 500 no fim do ano para taxistas; anúncio de antecipação de pagamento de benefício para caminhoneiros; relançamento do programa Você no Azul, da Caixa, de renegociação de dívidas; adição de 500 mil famílias no Auxílio Brasil em outubro; antecipação dos repasses do Auxílio Brasil para terminar antes do segundo turno; anúncio de 13º do Auxílio Brasil para beneficiárias mulheres a partir de 2023.
O clima de tensão aumentou, com a recomendação de Bolsonaro de que seus seguidores permaneçam nas seções eleitorais para aguardar a apuração das urnas e com a recusa do Ministro da Defesa de entregar o relatório sobre a auditoria das urnas eletrônicas no primeiro turno. E teve ações grotescas, como a agressão do ex-deputado Roberto Jeferson à Polícia Federal no domingo (23). Da mesma forma, aumenta a agressão a autoridades religiosas e a pressão sobre padres e pastores que questionam a realidade social do país. O assédio eleitoral a trabalhadores está sendo feito descaradamente e tem aumentado de modo significativo. As denúncias ao Ministério Público do Trabalho deram um salto após o primeiro turno das eleições e passaram de 45 para 334.
Para combater o volume crescente de notícias falsas nas redes sociais, o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes vem apertando o cerco aos responsáveis por sua divulgação, ao mesmo tempo em que busca concentrar poderes para enfrentar essa campanha tão absurda como adversa. Sua ação tem sido contestada por Bolsonaro e adeptos como abuso de poder. Aras entrou com pedido contra trechos da resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que aumenta os poderes da Corte Eleitoral para remover conteúdos de redes sociais. A solicitação foi rejeitada por Fachin. Por sua vez, a ministra Maria Claudia Bucchianeri, do TSE, suspendeu 164 direitos de resposta na TV concedidos ao ex-presidente Lula, medida parcialmente revertida no plenário da Corte no sábado (22).
A semana que se segue é de ansiedade e de disputa voto a voto dos quase 10 milhões de eleitores que preferiram manter alguma distância de Lula e Bolsonaro, digitando nas urnas os números de outros candidatos. Os maiores estoques desses votos se concentraram no Sudeste (4,8 milhões) e no Nordeste (2 milhões). A ofensiva de Bolsonaro nas duas regiões abriu a possibilidade de uma ultrapassagem. Impedir que isso aconteça é o grande desafio das forças políticas que juntam em torno de Lula.