A participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, no Fórum Econômico Mundial de Davos, Suíça, uma semana depois do frustrado golpe de Estado no Brasil, teve um significado importante. O Fórum, repaginado com foco na defesa do meio ambiente, serviu para mostrar ao mundo que o governo Lula reagiu de pronto ao golpe, está empenhado em fortalecer a democracia e a promover o desenvolvimento sustentado no tripé da segurança fiscal, social e ambiental.
Numa semana marcada por tensões políticas – como a greve geral na França contra a reforma na previdência, a insurgência das massas populares no Peru e o recrudescimento da guerra na Ucrânia – o desdobramento dos fatos políticos no Brasil está sendo acompanhados de perto, por se tornar referência internacional no combate à extrema direita. Segundo analista político, Lula pode dar o exemplo de como esmagar o ovo da serpente do fascismo. As manifestações em Israel contra o projeto de Netanyahu de permitir ao parlamento anular decisões do poder judiciário adquirem neste cenário igual importância, demonstrando que o ataque à democracia se faz de diferentes maneiras. Estudos recentes e experiências de outros países, como a Hungria e a Polônia, mostram como a extrema direita usa as instituições democráticas para destruir por dentro a própria democracia.
A punição dos responsáveis pela tentativa de golpe no Brasil teve neste final de semana um capítulo decisivo e de temperatura elevada, com a demissão do Comandante do Exército, general Arruda, que na véspera do 8 de janeiro peitou o ministro da Justiça e impediu o desmonte do acampamento de golpistas em frente ao quartel da corporação no DF. Numa crise que vinha se arrastando aparentemente sem solução, a decisão do presidente Lula reafirmou sua autoridade como Comandante em Chefe das Forças Armadas. A conferir os desdobramentos.
Lula tem um percurso complicado pela frente para desmilitarizar estruturas do governo, despolitizar as forças armadas e assegurar a continuidade da investigação e punição dos envolvidos em toda a cadeia golpista: os vândalos que destruíram a sede dos poderes constituídos no Planalto, os financiadores da ação, seus mentores intelectuais e a cúpula da organização política que arquitetou o golpe, chegando a Bolsonaro, em torno de quem o poder judiciário está fechando o cerco, como afirma o interventor federal na Segurança Pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli:
“Jair Bolsonaro não tem mais foro privilegiado, então ele está fazendo parte do inquérito, foi um pedido da PGR. Será investigado e está submetido a todo procedimento que qualquer cidadão brasileiro e as investigações vão avançar. O que é mais grave, que o Brasil sabe, parte de tudo que aconteceu obviamente tem uma inspiração intelectual, no mínimo, direta em Jair Bolsonaro. Ele que passou anos atacando o Supremo Tribunal Federal, atacando as instituições democráticas. É ele que insiste em tentar deslegitimar a eleição do presidente Lula. Ele é parte central de tudo que vem acontecendo no Brasil, nos ataques à democracia, nos ataques aos jornalistas”.
Apesar dessa página não estar totalmente virada, Lula comandou na semana passada uma agenda positiva para demonstrar que o governo está ativo. Recebeu sindicalistas para ouvir demandas e desencadeou iniciativas visando valorizar o salário mínimo, regular o trabalho por aplicativo e valorizar a negociação coletiva, criando condições para uma nova regulação da organização sindical e das relações de trabalho. Recebeu representantes das universidades e institutos federais, assumindo o compromisso de priorizar a educação. Colocou pela primeira vez uma mulher na direção do Banco do Brasil. Fez uma viagem emblemática à reserva dos índios Yanomami, em Roraima, acompanhado de ministros de Estado, onde constatou um quadro de desolação, abandono e fome, resultado do desgoverno de Bolsonaro, situação que jornalistas chegam a comparar ao genocídio.
A agenda positiva do governo desdobrou-se em várias medidas de ministros visando botar ordem na casa e fazer a “geringonça” andar.