A decisão da Rússia de romper o Acordo do Mar Negro, impedindo a exportação dos cereais ucranianos, causou espécie e foi considerada cínica por Ursula von der Leyen. O acordo de guerra é essencial para o combate à fome nos países mais necessitados e sua ruptura pode causar nova elevação de preço dos alimentos no mercado internacional. A medida foi concomitante a ataques russos a portos, em alegada retaliação à explosão de uma ponte na Crimeia. Enquanto ensaia o bloqueio do Mar Negro, a Rússia ameaça a Polônia por seu crescente envolvimento na guerra. Ao que tudo indica, a ofensiva está sendo feita por Moscou, enquanto o avanço das tropas ucranianas continua detido nas trincheiras ao longo do território ocupado.
Lula aproveitou a semana de “pax brasiliense” para participar em Bruxelas do encontro de países latino-americanos e europeus – 3ª Cúpula Celac-União Europeia. Na bagagem, o acordo Mercosul-União Europeia cujas condicionantes continuou criticando como inaceitáveis. A proposta do presidente brasileiro de articular eleições livres na Venezuela com o fim do embargo econômico ao país foi considerada um avanço. No entanto, o cerceamento à democracia no regime de Maduro continuou dividindo opiniões, especialmente do presidente chileno para quem a democracia no continente, e alhures, deve ser encarada com seriedade. Lula aproveitou o evento para propor o combate à fome e a ajuda dos países ricos ao continente africano. Na escala em Cabo Verde, cometeu uma gafe ao agradecer pelo trabalho escravo no Brasil em vez de condená-lo, como já fez tantas vezes.
A direita venceu as eleições na Espanha, mas não conseguiu formar a coalisão para governar. O resultado pode levar a novas eleições. A esquerda saiu chamuscada e a extrema direita isolada, fenômeno que parece ser uma tendência de alinhamento ao centro, ali e em outros cantos. Chamou atenção uma matéria divulgada na imprensa sobre a crescente perda de poder do governo de esquerda na Colômbia, presidido por Gustavo Petro. O processo tem sido chamado de “golpe branco” (em anexo). A lua de mel acabou em seis meses. Depois de terem dado corda para verem até onde ele ia com os compromissos assumidos na campanha eleitoral – reforma trabalhista e da previdência, liberdades individuais – as forças de direita passaram a barrar as mudanças no parlamento, usando a Lei 5, e mecanismos controlados pela máquina burocrática instalada nos demais aparelhos do Estado para impedir mudanças. Dizem: tem o governo, não tem o poder. Guardadas as distâncias entre esses países e o Brasil, são experiências a acompanhar de perto.
O destaque da semana no plano nacional foi o anúncio do Pacote da Segurança, envolvendo a redução substancial do acesso a armas, maior controle de armas e munições, além de recursos significativos para o combate ao crime organizado e ao narcotráfico na Amazônia. O limite do acesso e posse de armas foi mais uma estocada na extrema direita e nas bases de apoio de Bolsonaro, buscando isolá-las. No sentido contrário, o da aproximação para neutralizar a influência bolsonarista, foi criada uma força para fazer a mediação com os evangélicos. A denúncia de que Dallagnol repartia a grana “arrecadada” na Lava Jato com os parceiros norte-americanos é grave. A entrega do relatório da Abin sobre o 8 de janeiro compromete empresários ligados ao agronegócio, que financiaram a empreitada. Serão investigados e punidos, mesmo que a ação possa abalar a aproximação do governo com o setor?
A dança das cadeiras nos ministérios e órgãos do governo para satisfazer o apetite do Centrão continua sendo decidida. Parece não haver mais dúvida sobre a queda da presidente da CEF. Efetuadas as mudanças, nada garante o apoio total das bancadas do Republicanos e do PP. Mesmo com a minirreforma ministerial, as siglas não vão integrar oficialmente a base de apoio do governo e deverão continuar como partidos “independentes”. Ou seja, entregar votos a depender de cada pauta em debate. Ao mesmo tempo, em conversas com parlamentares, especialmente os “ministeriáveis”, tem sido feito esforço para que os recursos das emendas sejam destinados a projetos de desenvolvimento do governo.
Notícias boas continuam chegando de outras áreas do governo. Marina Silva anunciou para agosto a proposta para regulamentar o mercado de créditos de carbono. Rui Costa disse que o Novo PAC criará um fundo específico para financiar a descarbonização da economia. Somando-se às iniciativas em outras áreas, como o projeto do MIDIC de neoindustrialização, de viés de baixo carbono, começam a ser delineadas, de fato, as bases de um projeto de desenvolvimento sustentável, “de um outro país” segundo Haddad.
Mas o sinal de alerta foi dado na economia. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), indicador do PIB, apresentou uma queda de 2% em maio. O recuo foi debitado aos equívocos da política monetária, particularmente à taxa de juros considerada obscena. As micro e pequenas empresas sofrem o maior impacto da falta de acesso ao crédito. As montadoras recorrem cada vez mais ao lay off e a férias coletivas para adequar a produção à demanda do mercado. Impávido, Campos Neto fala em terceirizar a gestão de ativos brasileiros.
Anexo