Na semana de 15 a 21 de novembro, a viagem de Lula à Europa foi destaque na mídia internacional e nacional. Foi recebido pelo futuro chanceler alemão, Olaf Sholz, com quem conversou sobre a formação do novo governo e a importância de fortalecer a cooperação Brasil Alemanha, nosso principal parceiro econômico no continente europeu. Fez um discurso de estadista e foi aplaudido de pé no Parlamento Europeu. Esteve com a prefeita de Paris e foi recebido com honras de chefe de Estado pelo presidente francês, Emmanuel Macron. Recebeu o prêmio “Coragem Política” da conceituada revista francesa Política Internacional, em cerimônia que contou com a presença dos ex-presidentes François Hollande e Nicolas Sarkozy. Participou de seminário e foi aplaudido por estudantes. Na Espanha, foi recebido no Palácio de Mancloa pelo primeiro ministro Pedro Sanchez, com quem conversou sobre “o papel que Espanha e Brasil podem ter para a consolidação do desenvolvimento na América Latina, com governos solidários e democráticos”.
Em síntese, o ex-presidente Lula marcou presença no cenário político europeu, onde foi novamente reconhecido como liderança política capaz de discutir os desafios do desenvolvimento, da democracia e da cooperação internacional. Uma imagem contrastante com a do presidente Bolsonaro, considerado um pária, e que passou a semana num giro por países do Oriente Médio cumprindo uma agenda sem relevância com chefes de governos autoritários e retrógados.
Ainda no plano internacional, chamou a atenção o forte avanço da quarta onda da pandemia do coronavirus na Europa. Devido fundamentalmente ao número considerável de pessoas não vacinadas, o surto tem levado ao colapso a capacidade de atendimento em UTIs, como na Alemanha, que passou a transferir pacientes para outros países. As medidas sanitárias de restrição à circulação de pessoas não vacinadas têm enfrentado protestos dos setores da população que resistem à imunização. Uma situação dramática, como reconheceu a chanceler alemã Angela Merkel.
Ao contrário da ideia de trégua com o judiciário, que imaginava garantida com a carta assinada pelo presidente no desdobramento do 7 de setembro, o governo vem acumulando derrotas no Supremo. A suspensão da liberação de emendas do relator e a exigência de transparência no processo vão nessa direção. No Parlamento, a situação do governo está longe de confortável. A chamada “PEC do Calote” começa a tramitar no Senado onde enfrenta forte resistência – cerca de 39 de um total de 81 senadores já se posicionaram contra o projeto – e deve sofrer mudanças significativas, comprometendo os recursos que Bolsonaro imagina dispor para pavimentar sua campanha eleitoral. Aliados do governo no Congresso manifestaram-se contrários à proposta do presidente de conceder reajustes salariais aos servidores públicos.
Os dados divulgados sobre o desmatamento confirmaram o que todo mundo suspeitava e que foi omitido na COP26: o desmatamento na Amazônia entre 1º de agosto de 2020 e 31 de julho de 2021 cresceu 21,97% ante o período de 12 meses imediatamente anterior, segundo estimativa divulgada pelo Inpe. De acordo com pesquisadores, a área desmatada nos três anos de governo Bolsonaro corresponde ao tamanho do estado de Sergipe. Além de ficar desacreditado em relação às metas assumidas em Glasgow para reduzir emissões de carbono – questão na qual o fim do desmatamento é crucial – o Brasil corre ainda o risco de sofrer o embargo da União Europeia a matérias primas oriundas de áreas desmatadas.
Diante de uma economia combalida, com a segunda queda consecutiva do Índice de Atividade Econômica divulgado pelo BC, uma prévia do PIB, o governo insiste na aprovação do projeto que flexibiliza ainda mais a legislação trabalhista para “melhorar as condições para os informais” no mercado de trabalho. A retirada de direitos em troca de emprego precário, além de desfaçatez, não passa de falácia.
O tabuleiro das eleições continua em movimento, em fase preliminar. O PL deu carta branca ao seu presidente para negociar os termos da filiação de Bolsonaro. Na pauta, as alianças políticas e os palanques eleitorais em 2022. Houve crise, devida às alianças regionais do PL com forças políticas contrárias aos interesses do presidente, já irritado com a ideia de ter que lidar com os “bolsolulas” (deputados que recebem propinas do governo, mas acabam fortalecendo na região de origem alianças com o PT de Lula). Moro encontrou seu “Posto Ipiranga”, o economista Jose Pastore, que tenta dar uma embalagem socialdemocrata à candidatura do ex-juiz da lava-jato, que recebe sinais de apoio da Globo e da FSP. O PSDB continua dividido e não conseguiu, por “problemas técnicos” (o sistema de votação on line falhou), realizar a convenção nacional para escolher seu candidato à presidência em 2022.
Fechando o quadro da semana, foi realizada a primeira etapa do que já e considerado o mais excludente Enem da história.