Enquanto Moscou cuidava pragmaticamente da liberação da exportação de cereais do território invadido, as tropas russas atacaram pesadamente a maior cidade ucraniana, Khardik. Foi iniciada a reconstrução de Mariupol, dando mostra de consolidar presença no território ocupado. O governo ucraniano tentou passar a imagem de resistência e celebrou o retorno da vida diplomática com a reabertura de 55 embaixadas. Em visita ao País, o Secretário Geral da ONU, António Guterres, buscou negociar a desmilitarização da área de Zaporijia, a segunda maior usina nuclear na região, ocupada pelos russos.
A China, por sua vez, anunciou o envio de tropas para a Rússia para a realização de exercícios militares conjuntos. Putin aproveitou o rescaldo da visita de parlamentares norte-americanos a Taiwan para acusar o Ocidente “procura alargar o seu sistema de blocos à região da Ásia-Pacífico, semelhante à NATO na Europa. Para esse fim, estão a ser formadas alianças político-militares agressivas. ” Ou seja, o cenário internacional continuou sendo palco de rusgas numa contenda que assume contornos cada vez mais nítidos.
Na Colômbia, uma das primeiras medidas do novo governo foi uma mudança inédita na cúpula militar, em meio a um clima que alguns especialistas definem como “tenso” entre o primeiro governo de esquerda da História do país e forças militares e policiais. Segundo um analista, o país atravessa um momento crítico em que “as Forças Armadas devem se acostumar com a ideia de estarem subordinadas a um presidente de esquerda, e esse presidente de esquerda deve se acostumar a ser o comandante das Forças Armadas”. Experiência a ser acompanhada de perto no Brasil, especialmente no cenário de provável vitória de Lula, que já disse que as FFAA cumprirão no seu governo o papel que lhes é atribuído na Constituição.
No plano nacional, dois fatos marcaram a semana. O primeiro, foi a concorrida posse do Ministro Alexandre de Moraes à presidência do TSE. No plenário com cerca de dois mil convidados – entre eles representantes dos poderes constituídos, o atual e quatro ex-presidentes da República, atuais e ex-membros do Supremo, governadores, prefeitos de capitais, representantes da sociedade civil organizada – Alexandre de Moraes fez a defesa contundente do sistema eleitoral brasileiro, das instituições democráticas e condenou, com a mesma veemência, as fake news. O recado não podia ser mais direto. Foi aplaudido demoradamente e de pé pelos presentes, menos o constrangido Bolsonaro, que ainda teve que enfrentar o principal adversário, Lula, sentado diretamente à sua frente ou movimentando-se com desenvoltura entre os presentes.
O segundo fato importante da semana foi a divulgação dos resultados da pesquisa do Data Folha sobre as eleições, apresentando uma relativa estabilidade em relação aos dados divulgados no mês anterior. Lula continua à frente, com 51% das intenções de voto e ainda com a possibilidade de vencer no primeiro turno. No entanto, Bolsonaro cresceu alguns pontos, mas não o suficiente, como esperavam seus apoiadores, para representar uma efetiva ameaça. Avançou significativamente em dois segmentos específicos: entre os evangélicos, onde a diferença é de 49% para 32%, e entre aqueles com faixa de renda entre 2 e 5 SM, onde cresceu 7 pontos, empatando tecnicamente com Lula. Lula, por sua vez, cresceu levemente na faixa dos que recebem até 2 SM, onde desfruta de larga vantagem (55% x 23%) e mantém também significativa diferença entre as mulheres (47% x 29%). Continua muito à frente no Nordeste (57% x 24%). No Sudeste, tem situação confortável em Minas Gerais (49% x 29%) e em São Paulo (44% x 31%), enquanto no RJ mantém uma pequena diferença (41% x 35%) sobre Bolsonaro, melhor situado que o adversário no Sul, Centro-Oeste e Norte.
Lula deu continuidade à campanha de rua com o comício no sábado (20), no Anhangabaú, na capital paulista. Com presença e falas marcantes de França, Haddad, Alckmin, Dilma e do próprio Lula, o ato, com ampla participação popular, teve também o significado simbólico de ocorrer num local emblemático das manifestações das Diretas Já.