Dando continuidade ao jogo orquestrado, Israel lançou um contra-ataque ao Irã, na quinta-feira (18). Não poderia deixar passar sem resposta o ataque anterior do inimigo, interceptado pelo serviço de inteligência de países amigos a tempo de ser neutralizado de forma exemplar. Segundo informações dadas à agência Heuters por um alto funcionário iraniano, o Irã não tem planos para retaliação imediata, sugerindo não haver interesse na escalada do conflito.
No jogo menos dissimulado das relações de poder, os Estados Unidos continuaram fazendo lobby contra a admissão da Palestina como membro permanente da ONU, frustrando a ação diplomática brasileira em direção contrária.
A viagem de Lula à Colômbia foi o destaque na semana. Lula falou da criação de um banco regional, sem mencionar qual seria a relação dessa nova instituição com o já existente BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Chegou a falar da possível entrada da Colômbia nos Brics, bloco formado por grupo de países de mercado emergente em relação ao desenvolvimento econômico. O ingresso do país vizinho ajudaria a fortalecer as relações com governos de esquerda na América do Sul impactados pela reviravolta política na Argentina.
“O Brasil e a Colômbia se manifestaram ainda favoráveis a um acordo entre o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e a oposição no país, antes de as eleições presidenciais serem realizadas. Segundo o presidente colombiano, Gustavo Petro, a sugestão é que o acordo seja referendado por um plebiscito”. Este será, sem dúvida, um teste decisivo para legitimar a ação dos governos de esquerda em defesa da democracia e para fortalecer a unidade dos países no plano regional.
O fiasco da manifestação organizada no dia 21 pelos bolsonaristas em Copacabana não foi atribuído apenas ao número bem menor de participantes (cerca de 30 mil), quando comparado ao ato realizado semanas antes na Avenida Paulista (180 mil), mas principalmente à redundância do discurso que não conseguiu criar um fato político novo. “Para usar um clichê da extrema direita, Bolsonaro e Malafaia mantêm uma narrativa, mas não conseguem mais criar um fato novo, como gesto político, que a sustente. A narrativa dos ataques a Alexandre de Moraes como ministro censor e autoritário e de desqualificação das provas do golpe chegou à exaustão na aglomeração em Copacabana. A repetição de que a direita é perseguida e censurada se tornou uma chatice e resultou no que de pior pode acontecer na política. Quase anulou, pela baixa presença e pela carência retórica, tudo o que eles fizeram até aqui”, destacou um analista.
A esquerda não deve baixar a guarda diante desses resultados. Ao contrário, precisa construir com mais competência o discurso contra-hegemônico e desenvolver ações que sustentem esse discurso.
O poder judiciário, sob a batuta de Moraes, avança nas ações de julgamento dos golpistas de 8 de janeiro. Cerca de 10% deles já foram condenados. São criminosos e não vítimas, como defendem as hostes bolsonaristas ao pleitearem sua anistia. A organização de informações para o possível indiciamento de Bolsonaro, militares e civis engajados no comando da tentativa de golpe está em curso. Bolsonaro ainda deve ser julgado por diversos outros crimes. No entanto, o esclarecimento desse processo não chega às bases sociais de sustentação do governo.
O discurso da direita contra o Supremo ganha ressonância no Congresso, com Lira anunciando a criação de um grupo de trabalho para tratar da limitação de poderes da corte perante o legislativo. O Senado também marcou posição contrária ao STF, aprovando a PEC das drogas –que proíbe o porte e a posse de todas as drogas, incluindo a maconha. A proposta antecipa-se à deliberação da corte sobre o tema e faz um aceno fácil para as forças de direita, que têm uma visão equivocada do combate às drogas, ao crime organizado e da questão da segurança, caminhando no sentido contrário ao processo civilizatório.
A crítica ao Supremo ganha amplitude também na grande mídia corporativa que passou a questionar a legalidade das ações do ministro Alexandre de Moraes e a insinuar que setores do governo postulam “uma mudança calculada e gradual de postura para baixar a temperatura de recentes embates protagonizados por Moraes.” Faltam manifestações de apoio ao Judiciário, particularmente ao ministro Moraes. Falta também o discurso que fundamente a reação às iniciativas da direita no Parlamento, apontando as relações institucionais e desejáveis entre os poderes– um jogo de pesos e contrapesos – como fundamento da própria democracia.
O governo Lula sofreu na última semana a pressão da oposição, comandada por Lira, que ameaçou com a possibilidade de abertura de CPIs e de colocar em debate projetos que inviabilizariam o orçamento federal. Trata-se de retaliação e chantagem, um jogo vil e anti-democrático. Faltam ações dos ministros no parlamento para dialogar diretamente com deputados e senadores, como apontou Lula, mas falta também a articulação dos partidos de esquerda, sob liderança do PT, para denunciar e enfrentar com mais competência a extorsão de recursos públicos através da manipulação das emendas parlamentares, apesar de o Supremo ter considerado ilegal o “orçamento secreto”.
O governo vem dando passos significativos na reestruturação do país, particularmente na economia, como registra um analista: “Nesta mesma semana, em que a Lava Jato passou a frequentar as páginas policiais, após o afastamento de juízes e desembargadores que participaram da operação, parcialmente revertido pela Conselho Nacional de Justiça, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fechou a semana com mais dois grandes anúncios de investimentos: o de R$ 40 bilhões, anunciado pelo mexicano Carlos Slim, dono da Claro, e o de R$ 4,3 bilhões, prometido pela Honda.
Pouco a pouco, o Brasil vai retomando o seu curso normal de desenvolvimento, que foi interrompido a partir da guerra híbrida marcada pelas ‘jornadas de junho de 2013’, a Lava Jato e o choque neoliberal do período Temer-Bolsonaro. Quando Lula assumiu seu terceiro mandato, em janeiro de 2023, o Brasil era a décima-primeira economia do mundo. Neste ano, o País voltará ao posto de oitava economia mundial, superando a Itália, e dentro de alguns anos entrará no clube das economias de US$ 3 trilhões, segundo projeções do Banco Mundial.”
No entanto, a grande mídia prefere focar outras questões, como se delas dependessem o rumo da economia e o futuro do país: a alta do dólar, o impacto negativo da alteração na meta fiscal, o impacto do Bolsa Família e da política de valorização do salário mínimo no já apertado orçamento, o gasto do governo com o eventual reajuste salarial dos servidores públicos em vez de priorizar a reforma administrativa, a necessidade iminente de uma nova reforma da previdência… Em outras palavras, trata-se da contraofensiva neoliberal que não se confunde com o discurso da extrema-direita.