A diminuição do ritmo da vacinação e a saída desastrada do Afeganistão contribuíram para a queda da aprovação de Biden. O governo aposta nos resultados do investimento vultuoso em infraestrutura, economia verde e proteção social para reverter o quadro no médio prazo. Com objetivo semelhante, investe na parceria com o Reino Unido e equipa a Austrália com submarinos de propulsão nuclear para conter o avanço da China no Indo Pacífico.
Na Argentina, o governo Fernández sofreu uma significativa derroa nas eleições primárias: obteve 31% dos votos, enquanto a frente oposicionista de centro-direita Juntos, comandada pelo ex-presidente Mauricio Macri, obteve 40%. O desastre desencadeou uma crise no governo, levando à entrega de cargos de representantes da ala ligada à vice-presidente Cristina Kirchner. Se este resultado se repetir nas eleições de novembro, o governo pode perder a maioria na Câmara dos Deputados. Não deixou de chamar a atenção o desempenho da Avanza Liberdad, de extrema direita, com 7,41% dos votos.
No plano nacional, vivemos o rescaldo do 7 de setembro. Bolsonaro começou a semana afagando o Congresso e o Supremo. Afirmou: “Nosso governo conversa com todo mundo”. Obviamente, ninguém acreditou. Da mesma forma como se dispensa sua visão fascista de Estado, ao se referir aos três poderes: “Nós somos um só corpo”.
Apesar do objetivo de passar a pretensa imagem de pacificador, o reverso do líder que vocifera impropérios e estimula ataques ao Congresso e ao Supremo, a situação continua desfavorável ao presidente. Sofreu mais uma derrota na terça-feira: Rodrigo Pacheco devolveu ao Planalto a MP 1.068 que alterava o marco civil da internet para facilitar a divulgação de fake News. Nem mesmo o diligente Aras o apoiou desta vez. Encaminhara ao Supremo o pedido de a suspensão da medida.
Com seu recuo, Bolsonaro pode ter afastado o risco de impeachment, mas a maioria da população brasileira, cerca de 56% segundo o Data Folha, é favorável ao impedimento do presidente. Sua popularidade digital também desabou. Obteve a pior marca deste ano no IPD (Índice de Popularidade Digital): 37,1 no dia 8 de setembro contra 82 no início do ano. Sua popularidade também caiu nas regiões consideradas os principais bastiões do bolsonarismo: Sul, Centro-Oeste e Norte.
Dados da mais recente pesquisa eleitoral realizada pelo Data Folha revelam certa estabilidade em relação à pesquisa anterior, com Lula na dianteira com uma margem considerável de votos no primeiro turno. A novidade é que Bolsonaro perde para Lula e para todos os demais candidatos nas diferentes simulações realizadas para o segundo turno.
As más notícias para o governo não pararam por aí. O Supremo prepara-se para derrotar as medidas que facilitam o acesso às armas. É a resposta ao presidente que defende a liberalização da posse de armas. Ninguém se esqueceu das afirmações: “todo mundo tem que comprar fuzil, pô”, “povo armado jamais será escravizado” ou que os brasileiros deviam comprar armas em vez de feijão.
Os dados da economia também continuaram desfavoráveis. As incertezas aumentadas pela crise política, desemprego, inflação e risco de falta de energia têm feito com que os economistas reduzam ainda mais as projeções de crescimento da economia para o ano que vem. Analistas que há algumas semanas estimavam uma alta acima de 2% do PIB (Produto Interno Bruto) para 2022 agora já avaliam que o crescimento pode ficar abaixo de 1%.
A CPI da Covid continua aprofundando as investigações sobre corrupção e ação criminosa na condução da política sanitária, desta vez investigando o sinistro caso da Prevent Senior. Há um farto material a ser consolidado no relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito, cuja divulgação deve coincidir com as manifestações de 2 de outubro pelo impeachment de Bolsonaro.
Dirigentes de PT, PSOL, PC do B, PSB, PDT, Rede, PV, Cidadania e Solidariedade se reuniram em Brasília e fecharam acordo pela convocação unificada de atos nos dias 2 de outubro e 15 de novembro. Movimentos e políticos que foram às ruas no domingo passado (12) também serão convidados. Enquanto amadurece no interior do movimento sindical a proposta de uma greve geral, é a pressão das ruas que pode dar ressonância às notícias desfavoráveis ao governo e mudar, de fato, o atual cenário.