A guerra na Ucrânia deixa, gradualmente, de ocupar espaço na mídia internacional, como ocorreu com outros conflitos como na Síria. No entanto, a Rússia continua consolidando posições nas províncias ocupadas a Leste, cuja independência foi “reconhecida” pelo governo da Coreia do Norte. O Exército russo movimenta-se em direção às cidades de Bakhmut, Kramatorsk e Sloviansk, enquanto na Rússia procuram recrutar “voluntários” para enviar novos batalhões para a Ucrânia.
Em visita à Arábia Saudita, Biden fez de conta de ter questionado severamente o príncipe herdeiro, Mohammed Bin Salman, sobre a morte do jornalista saudita na Turquia, Jamal khashoggi. Não poderia colocar em risco o verdadeiro interesse da viagem: facilitar as relações entre Washington e Riad, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, diante da crise de combustível que atinge o Ocidente, provocando o aumento alarmante da inflação.
A China, por sua vez, fez um movimento interessante na regulação do trabalho informal que atinge cerca de 200 milhões de pessoas no país. Entre as medidas adotadas no sentido de formalizar o trabalho incluem-se empréstimos a juros subsidiados para empresas familiares, indústrias de pequeno porte e startups; fundos para ajudar a reduzir os custos de startups e incubadoras, como descontos em aluguéis; políticas fiscais que incentivem a contratação de universitários e melhorem as condições dos trabalhadores migrantes, que deixam as suas províncias natais para trabalhar nas grandes cidades; novas regras para salvaguardar os direitos trabalhistas no país. São medidas interessantes que, guardadas as especificidades, podem servir de referência para outros países interessados no combate ao trabalho informal.
No plano nacional, a semana começou sob o impacto do assassinato do tesoureiro do PT de Foz do Iguaçu, Marcelo Arruda, na festa de seu aniversário, por um apoiador de Bolsonaro. O presidente manteve um discurso dúbio, como se não tivesse havido motivação política e o crime fosse o resultado de um conflito ordinário, além de atribuir ao PT a origem da violência. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, considerou “açodada e contraditória a conclusão da polícia do Paraná de que não houve motivação política ao assassino.
Os resultados do inquérito provam que o PT estava certo ao pedir a federalização do processo criminal. O resultado da Polícia Civil do Paraná, que agradou à família Bolsonaro, além de ter sido apressado, não seguiu diligências básicas, como fazer perícia no celular do assassino e a ouvir testemunhas indicadas pela família da vítima. A defesa da vítima também foi impedida de ter acesso à investigação, direito constitucional e garantido em tratados internacionais dos quais o Brasil faz parte.
A declaração de Lula foi assertiva, ao afirmar que foi um crime contra a democracia. Não se trata de um caso isolado, mas de um crime a mais na escalada da violência com o objetivo de intimidar e calar opositores de se manifestarem livremente – aderir a um partido, manifestar opinião, votar – colocando em risco direitos políticos fundamentais que estão no alicerce da ordem democrática.
Entidades comprometidas com a defesa da democracia, repudiaram o crime e alertaram para os riscos durante o processo eleitoral: “O custo democrático da violência política é muito alto. A democracia depende de eleições justas, e a justiça só é plena quando os direitos políticos são garantidos a todas e todos de forma integral e igualitária”, afirmam.
As atenções também se concentraram nas manobras feitas por Lira para aprovar a chamada PEC kamikaze e o estado de emergência para legitimar o uso de recursos públicos para bancar programas sociais de cunho eleitoreiro. Suspendeu a votação na terça à noite, alegando problemas técnicos, quando na verdade não havia segurança sobre o número de votos necessários para aprovar a PEC. No dia seguinte, ao abrir os trabalhos, considerou que se tratava de continuação da sessão anterior, e não abertura de uma nova, contrariando as regras da Casa que exigem abertura de nova sessão quando a suspensão ultrapassa o período de uma hora. Questionado pela oposição, não teve dificuldade para aprovar (469 x17) a proposta que disponibiliza 41 bilhões de reais para o governo tentar, desesperadamente, reverter a derrota que se anuncia nas eleições de outubro. Ao ser promulgada a PEC no dia seguinte, Bolsonaro aproveitou a sessão para fazer discurso de campanha.
Lula fechou acordo e alinhou palanques com o MDB em nove estados, confirmou o apoio de dois políticos ruralistas de peso – o senador Carlos Favaro (PSD-MT) e o deputado Neri Geller (Progressistas-MT) – além de ter recebido o apoio da cantora Anitta.
Bolsonaro não perdeu a oportunidade de concentrar 70% dos fiscais de urnas que atuarão nas próximas eleições. Volta a Juiz de Fora para relembrar a facada que sabemos ter sido uma farsa.
José Dirceu nos alerta novamente que só a mobilização popular poderá conter o avanço dos crimes de ódio.