Diante da próxima viagem internacional de Lula, desta vez para participar da 78ª Assembleia Geral da ONU, a mídia nativa começa a questionar as iniciativas que buscam recolocar o Brasil no mundo e projetar Lula como liderança do Sul Global. Ancora-se na mídia internacional para tecer a crítica. Cita o jornal francês Liberátion, de viés de esquerda, que em junho escreveu que o petista era uma “decepção”. A tentativa de indignar o mundo contra a fome e a desigualdade social teria passado ao largo do noticiário internacional. Algo semelhante teria ocorrido com a cobrança para que países ricos financiem projetos de preservação ambiental e mitigação dos problemas climáticos. Em síntese, diante de resultados tão pouco eficazes, Lula deveria permanecer mais tempo no Brasil, cuidando de problemas domésticos.
Fosse isso verdade, Lula não teria que administrar os mais de 50 pedidos de conversas bilaterais na sua curta passagem por Nova York. Nem teria a atenção de Biden, com quem lançará uma plataforma global pelo trabalho decente. O sucesso de Lula no plano internacional e o bom desempenho no âmbito nacional, especialmente na economia, além de sua aprovação em alta, começam a incomodar setores da direita que não veem com bons olhos a continuidade do seu governo. Continuam apostando numa alternativa de centro, de caráter liberal, como alternativa à polarização entre a esquerda liderada pelo PT e o bolsonarismo de extrema direita em 2026.
A extrema direita, por sua vez, sofreu fortes reveses na semana que passou. Os primeiros réus julgados pelo Supremo pela participação nos atos golpistas de 8 de janeiro tiveram condenção exemplar, apesar da tentativa de Nunes Marques de minimizar a gravidade de seus atos, como se os vândalos tivessem meramente passado “um domingo no parque”. A aceitação da delação premiada de Mauro Cid aumentou a inquietação de Bolsonaro e de seu círculo mais próximo, que já havia subido de patamar com as denúncias de que o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e companheiro de chapa de Bolsonaro nas últimas eleições, manteve contatos com lobistas e intermediários ligados a empresas suspeitas de corrupção no episódio da compra de coletes balísticos para a intervenção federal no Rio de Janeiro.
Para completar esse quadro, mas atingindo outro setor da extrema direita, relatórios da CNJ apontam desvios de verba na operação Lava Jato, colocando, mais uma vez, Moro e Dallagnol sob suspeita e na mira da investigação. O ministro Toffoli não deve rever a decisão que anulou as provas obtidas do acordo de leniência da Odebrecht. Segundo o ministro, a prisão de Lula foi uma “armação” e “um dos maiores erros judiciários da história do país”.
Lula deu posse, a portas fechadas e sem alarde, aos novos ministros do Turismo e de Portos e Aeroportos. Representantes do Centrão, que esperavam uma cerimônia com pompa e circunstância para comemorar o casamento com o governo, não gostaram. O PP continua de olho na CEF, que quer abocanhar “de porteira fechada”. Não contava com a resistência do MDB e do ministro Jader Filho (Cidades) que não querem perder a influência sobre a diretoria que administra os recursos do programa Minha Casa, Minha Vida. Levantamento realizado pelo Poderdata indica que o governo pode contar com votos de 317 deputados, contando com partidos de fora da base de apoio, mas que têm congressistas próximos ao governo, que passa a contar com relativa segurança nas votações na Câmara.
Sem fazer muito alarde e atendendo a interesses corporativos, a Câmara aprovou o projeto de reforma eleitoral que flexibiliza uma série de regras, como o uso do Fundo Eleitoral, a prestação de contas e a cota feminina de 30%. Senadores da oposição, por sua vez, criticaram a decisão do STF pela constitucionalidade da chamada contribuição assistencial para sindicatos. Para os congressistas, a Corte está desrespeitando prerrogativas do Legislativo. Sinal de alerta para ao movimento sindical que está prestes a apresentar ao parlamento o projeto de valorização da negociação coletiva e de atualização da organização sindical.