Jenin, na Cisjordânia, ficou destruída após o maior ataque militar de Telavive à cidade palestiniana desde o início do século. As forças de Israel retiraram-se do local na madrugada desta quarta-feira. 13 palestinianos e um soldado israelita morreram nos confrontos, que se estenderam por dois dias”. O relato mostra como o governo de ultradireita de Netanyahu trata os rebeldes palestinos. A retaliação implacável das forças israelenses às ações insurgentes de jovens desesperançados com a atuação do governo palestino na Cisjordânia revela, mais uma vez, o caráter opressivo do domínio israelense na região. Mostra também que a questão palestina continua longe de uma solução.
“A 62ª Cúpula do Mercosul terminou nesta 3ª feira (4.jul.2023) com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) elevando o tom das críticas à União Europeia, com o Uruguai se recusando a assinar a declaração conjunta final e divergências explícitas entre líderes sul-americanos sobre o retorno ou não da Venezuela ao grupo.” A afirmação sintetiza o essencial do encontro entre líderes sul-americanos realizada em Puerto Iguazu, Argentina. O retorno da Venezuela ao grupo, defendido por Lula, foi questionado por Benitez, presidente do Paraguai, ao apontar a manobra de Maduro para impedir a candidatura da opositora María Corina Machado nas próximas eleições. Foi respaldado por Lacalle Pou, presidente do Uruguai. Ao mesmo tempo, o governo brasileiro tenta dissuadir Montevidéu de priorizar, junto com o bloco, as relações comerciais com a União Europeia, em vez fechar acordo bilateral com a China. Porém, os condicionantes apresentados recentemente pelos europeus, duramente criticados por Lula, tornaram o processo mais complexo e sem solução à vista no curto prazo.
Não deixa de ser irônico que o respeito a princípios democráticos para entrar ou permanecer no bloco tenha sido levantado por representantes de governos de direita. Lula não conseguirá enfrentar esse debate com a mera relativização do conceito de democracia. Porém, nem tudo foi perdido. O Mercosul anunciou ter concluído a revisão do regime de origem, que define as alíquotas de insumos nacionais ou regionais e importados para que um produto possa ser considerado de fabricação do bloco. De acordo com o secretário-executivo do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Elias Rosa, a decisão facilitará o comércio dentro do Mercosul e poderá ampliar as vendas dos países integrantes do bloco para outros continentes. Foi um passo importante em direção à desejada integração econômica da região.
Em encontro com representantes dos países que compartilham a Amazônia, no sábado, Lula reafirmou o compromisso de acabar com o desmatamento na região até 2030, mas não acatou a proposta do presidente colombiano de acabar também com a exploração do petróleo. Marina Silva endossou a posição do governo brasileiro: “Não temos uma deliberação, não é possível chegar numa declaração conjunta num processo de dois dias. Cada país vai fazer a sua discussão.”
A semana que passou foi vitórias expressivas para o governo Lula, especialmente na área econômica. A Câmara aprovou, por maioria expressiva, o projeto de reforma tributária que há décadas estava parado no Congresso, assim como aprovou o projeto do Carf que deverá assegurar ao governo condições vantajosas na arbitragem de conflitos tributários e, como resultado, recursos consideráveis para diminuir o déficit público, favorecendo o cumprimento das metas estabelecidas pela Fazenda para 2023.
Uma sincronia de ações, aparentemente conduzida pelo Planalto, contribuiu para a esse resultado. No STF, Gilmar Mendes determinou a suspensão imediata do inquérito da Polícia Federal que investiga desvios de recursos do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), inquérito que também abrange o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Na semana da votação, foram liberados cerca de 7 bilhões de reais para emendas parlamentares. Na reunião com lideranças para comemorar a aprovação da reforma tributária na Câmara, Lula questionou sobre a possiblidade do projeto do Carf ser aprovado na sexta, último dia de atividade parlamentar antes do recesso em branco de três semanas.
Para além da articulação de bastidores do governo, houve muita movimentação em Brasília envolvendo governadores e prefeitos, diretamente interessados na reforma tributária. Haddad teve uma atuação expressiva como articulador político, dialogando com esses atores. Bolsonaro tentou unir o PL para inviabilizar a proposta, confrontou-se com o governador de São Paulo numa reunião do partido, mas não conseguiu dissuadir o antigo correligionário, nem impedir que representantes do PL votassem a favor da medida. Arthur Lira envolveu-se intensamente na aprovação do projeto, desde da reunião em sua casa, no domingo, com líderes dos partidos. Embora tenha sempre enfatizado questões de Estado ao defender o projeto, é sabido que não o fez em nome de princípios e valores republicanos.
No dia seguinte, o Centrão apresentou a conta: mais 10 bilhões em emendas parlamentares, a entrega definitiva do ministério do Turismo, incluindo a Embratur, e mais dois ministérios, a serem definidos na negociação, embora tenha sido sinalizado o interesse pelo Ministério do Desenvolvimento Social e pelo ministério dos Esportes. Dias antes, Lula havia blindado o ministério da Saúde. A conta para uma “relação estável” com o governo é alta, não apenas do ponto de vista econômico. Lula provavelmente terá que abrir mão de ministérios controlados pela esquerda.
Trata-se de um ponto de inflexão na breve trajetória de apenas seis meses do governo que vem dando certo, mostrando a que veio e acumulando vitórias sucessivas no campo econômico, além do inegável protagonismo no plano internacional. Os arranjos em curso apontam para uma solução negociada para a “queda de braços com Lira” ou o “cabo de guerra com o Centrão”. Assegurará a ampliação de forças de direita no governo, uma coalisão que enfraquecerá relativamente a esquerda. Nela não cabem propostas “ideológicas” da esquerda, como revogação as reformas aprovadas em governos anteriores (previdência, trabalhista), muito menos ações radicalizadas para forçar outras, como ocupações de terra para induzir a reforma agrária. Nessa coalização de forças ao centro, não cabem igualmente propostas radicais da extrema direita.
As recentes derrotas de Bolsonaro e seu crescente isolamento abrem a possibilidade, segundo tese defendida pelo Estadão, para uma reinvenção da direita liberal, cuja agenda é relembrada: pluralidade da sociedade, progresso por meio de reformas, desconfiança da concentração de poder e defesa dos direitos pessoais, políticos e de propriedade. Complementa: “O desafio para a direita brasileira é fazer um exame de consciência, reconhecendo sua complacência em relação às desigualdades sociais, e reafirmar seus compromissos com a responsabilidade individual, a liberdade econômica e a distribuição do poder. É necessário construir uma sociedade inclusiva, justa e próspera com base nesses valores.”
Em síntese, a coalização de forças que se desenha para assegurar a governabilidade passa pela construção de uma agenda cada vez mais hegemonizada pelo ideário liberal. Nas condições históricas dadas, esse parece ser o caráter da reconstrução do país destroçado pelo governo anterior. Ao que tudo indica, uma transição conservadora.
Sem condições de resistir à investida, especula-se como o governo administrará essa “relação estável” com Centrão, sem se submeter às suas chantagens ou sem desfigurar substancialmente o projeto vitorioso nas eleições de 2022. Queiramos ou não, gostemos ou não, é o que temos de Realpolitik. A observar, como se dará esta simbiose.