No plano internacional, dois grandes eventos catalisaram a atenção da imprensa mundial na semana passada – a reunião do G20 e a CPO26 – e deram uma noção mais precisa do que é o governo Bolsonaro, não apenas pelo seu crescente isolamento, mas fundamentalmente pela insignificância do seu papel em relação a temas cruciais para o desenvolvimento global e do próprio país. Demostraram, novamente, a imagem ridícula que Bolsonaro projeta de si mesmo e, por consequência, do Brasil mundo afora.
Sua passagem pela Itália, onde a reunião do G20 aconteceu, será lembrada por fatos ora grotescos, ora preocupantes do ponto de vista político: pisou no pé da chanceler alemã, teve uma conversa desconexa e entremeada de mentiras com o presidente turco, ficou sem o aperto de mão do primeiro ministro italiano, foi ignorado por seus pares em recepção oficial e teve que se contentar em puxar prosa com garçons; teve que sair pela porta de fundo da embaixada para andar pelas ruas de Roma onde foi hostilizado e sua guarda miliciana agrediu jornalistas com socos na barriga, empurrões e expropriação indevida de celulares; armou o circo para homenagear os pracinhas brasileiros mortos na II Guerra Mundial e foi recebido com igual frieza pela população local. Em síntese, foi menosprezado na reunião de líderes mundiais, onde ninguém acredita em suas mentiras ou leva a sério suas propostas – se é que tem alguma – e ainda diz candidamente, ao voltar ao Brasil, que não se sentiu isolado.
Bolsonaro não foi a Glasgow para a COP26, enviou o segundo escalão. A delegação brasileira mudou o discurso negacionista em relação ao aquecimento global, afirmou que o país quer ser parte da solução e não dos problemas climáticos. O Brasil se comprometeu e assinou acordos que pretendem alcançar a meta, definida no Acordo de Paris, de impedir que o aquecimento global ultrapasse 1,5°C até o final do século. O problema é que ninguém acreditou. O governo Bolsonaro não tem credibilidade, faz o contrário do que diz, nos últimos três anos desmontou a política ambiental e os instrumentos para viabilizá-la.
O país perde uma grande oportunidade. A questão ambiental tem centralidade na geopolítica e influencia pautas econômicas e comerciais internacionais. O aquecimento global, como têm demonstrado os fenômenos climáticos extremos, pode provocar a redução do PIB mundial, o aumento da pobreza e migrações em massa. O Brasil poderia estar fazendo outro jogo neste cenário se adotasse uma política ambiental consistente e transparente, com metas, indicadores objetivos de avaliação e disponibilização de recursos materiais e humanos. Além da redução efetiva do desmatamento, poderia estar desenvolvendo projetos alinhados com a transição para uma economia neutra em carbono, aumentando a receita oriunda do bilionário comércio internacional de créditos de carbono, estimulando o fluxo de capitais estrangeiros para o país, gerando emprego e renda com a bioeconomia. Na falta de credibilidade do governo federal, os governos estaduais tentaram ocupar o espaço na COP26.
No plano nacional, o fato político mais importante da semana foi a votação da PEC dos Precatórios na Câmara dos Deputados, proposta fundamental para o futuro de Bolsonaro. Para além do resultado apertado, revelou algo substancial da atual política brasileira. Polêmica por romper com o teto de gastos, medida que desagradou profundamente o mercado, e por promover o calote no pagamento de precatórios, turbinando de forma escusa os recursos para o governo gastar, a PEC foi aprovada no primeiro turno por 312 votos, apenas 4 votos a mais do mínimo necessário.
Foi um jogo de vale tudo para o presidente que vem se desatacando por passar o rolo compressor na Câmara dos Deputados. Na véspera da votação, Lira ainda não tinha a certeza da aprovação da PEC. Já havia ameaçado sustar a liberação de emenda parlamentar para quem votasse contra. Alterou de última hora o regimento interno, permitindo a votação de deputados em missão oficial fora da casa. O casuísmo e a intimidação renderam ações no Supremo e duas reações da ministra Rosa Weber: uma suspendendo o pagamento de “emendas do relator”, usadas para comprar votos; outra pedindo esclarecimentos sobre os procedimentos usados (alteração do regimento interno) para assegurar votos a favor da medida. Na próxima semana, o STF decidirá se barra de vez as emendas de relator.
Outro aspecto da votação, tão revelador e ainda mais surpreendente, é dado pela leitura dos votos por agremiação política, particularmente dos partidos que se dizem de centro e que procuram viabilizar a chamada “terceira via” nas eleições presidenciais de 2022. A maioria dos parlamentares do DEM, PSD, PSDB votou a favor da proposta; no PDT, que se diz de esquerda, do total de 24 parlamentares, 15 votaram também a favor; no MDB, foram 10 votos a favor, numa bancada de 33 parlamentares. Para além da hipocrisia, que não está aqui no mérito avaliar, os dados revelam que o bolsonarismo está corroendo por dentro esses “partidos de centro”, o que coloca em dúvida a efetividade da propalada terceira via e até a sustentação da candidatura de Ciro Gomes no PDT.
Para além disso, caiu a máscara da dupla Moro-Dallagnol, ao revelarem o propósito de concorrerem às eleições em 2022. Moro pretende disputar a presidência. Dallagnoll tenta matar dois coelhos com uma só cajada, ao deixar o MP e concorrer ao parlamento: o arquivamento de processos por sua conduta irregular na Lava-jato e imunidade política. Em vão: não escapará da lei da Ficha Limpa.
No campo sindical, merece destaque a visita do presidente da CUT, Sergio Nobre, à Venezuela, onde foi recebido pelo presidente Nicolás Maduro e por dirigentes sindicais da CBST, numa demonstração de como se promove, de fato, a solidariedade e a cooperação entre os trabalhadores.
1 comentário