A tensão política entre os Estados Unidos e a China, deflagrada com a visita de Nancy Pelosi – presidente da Câmara dos Representantes e número dois na linha de sucessão do governo norte-americano – a Taiwan foi destaque no noticiário internacional no início da semana. O gesto, considerado uma provocação inaceitável pelo governo chinês e inoportuno por Biden, colocou sob foco a ambiguidade da política externa dos Estados Unidos ao reconhecer “uma única China” e, ao mesmo tempo, defender a democracia e a independência de Taiwan, considerada uma província rebelde por Pequim.
A reação chinesa foi imediata. Desencadeou um conjunto de manobras militares, bloqueando Taiwan. Foi a maior mobilização aérea de sua história no estreito que separa o continente da ilha que promete integrar a seu território. O conflito chegou a ser visto como exemplo do que poderá ser o estopim para o confronto de proporções mais amplas envolvendo as duas potências num contexto global de fim da hegemonia dos Estados Unidos e de emergência de um mundo multipolar, onde a China vem ganhando influência econômica e política. Apesar do risco, um conflito dessa natureza não interessa a ninguém. A conferir até onde o governo Biden estará disposto a ir na defesa da democracia em Taiwan e em que compasso Xi Jinping fará, de fato, a anexação da ilha, uma das economias mais pujantes da região.
Noutro quadrante da disputa internacional, a guerra na Ucrânia, surgem os primeiros sinais de que o governo Biden começa a rifar Zelensky. A conferir.
No plano nacional, o noticiário político, além da agenda das principais candidaturas à presidência, continuou dando destaque à movimentação da sociedade civil em defesa da democracia. Questionados por Bolsonaro num de seus costumeiros disparates (o presidente os chamou de “empresários mamíferos”), aqueles que assinaram a Carta aos Brasileiros foram amparados pela declaração incisiva do presidente da Fiesp: “É natural que a Fiesp assine um manifesto em defesa da democracia, já que não existe liberalismo, economia de mercado ou propriedade privada, valores tão caros à entidade e ao setor industrial, sem que exista segurança jurídica, cujo pilar essencial é a democracia e o Estado de Direito. ”
O movimento continua crescendo, com o documento já tendo recebido mais de 700 mil assinaturas, gerando uma enorme mobilização para a manifestação política programada para o dia 11 de agosto.
A reação do governo e de suas bases de apoio não tardou. Advogados bolsonaristas (Movimento de Advogados da Direita) divulgaram um documento “em defesa das liberdades individuais e das garantias fundamentais”. Alegam ter colhido mais de 600 mil assinaturas. Bolsonaro voltou a atacar ministros do Supremo, a desqualificar o sistema eleitoral e a mobilizar suas bases para o 7 de setembro. O ministro da Defesa, num gesto de desnecessária autoridade, demandou “em caráter urgentíssimo”, ser franqueada à pasta o acesso ao código-fonte do sistema das urnas eletrônicas, acesso que já havia sido disponibilizado há cerca de um ano. Ou seja, mais um capítulo grotesco da novela dos fardados que pretendem exercer a “supervisão” das eleições.
Neste clima de relativa tensão no horizonte, a candidatura de Lula foi oficialmente registrada no TSE. No seu programa de governo, não há dúvida sobre o papel das FFAA: atuarão na defesa do território nacional, do espaço aéreo e do mar, “cumprindo estritamente o que está definido pela Constituição”.
Lula continua buscando ampliar o arco de relações políticas. Já tem o apoio de nove partidos, incluindo o PT – PSB, PCdoB, Solidariedade, PSOL, Rede, Avante, Agir (antigo PTC) e PV. Juntas, as legendas elegeram 130 deputados, 12 senadores e oito governadores em 2018. Conseguiu o apoio do deputado federal André Janones (Avante-MG) que desistiu de sua candidatura à Presidência e deverá ter um papel relevante na campanha, alavancando a comunicação do PT e aliados nas redes sociais.
Com a taxa de reprovação do governo crescendo 5 pontos nos últimos dois meses e com o objetivo de impedir a vitória de Lula no primeiro turno, Bolsonaro mira nos setores onde poderá eventualmente crescer: mulheres religiosas, jovens indecisos e eleitores arrependidos.
Os responsáveis por sua campanha nos meios de comunicação pretendem evitar o confronto com Lula logo de cara. Mostrarão inicialmente os feitos do governo para depois estimular a reflexão sobre como está sendo o seu governo e como pode ser uma eventual administração petista. A conferir se prevalecerá esta estratégia light de campanha. Faltou dizer como irão segurar os arroubos imprevisíveis do capitão.