As imagens retratadas neste trabalho espalham-se por ruas de Pinheiros que cruzam a Cardeal Arco Verde, uma artéria de trânsito frenético que corta o bairro em São Paulo.
A Cristiano Viana é uma das transversais. Sobrados dos anos cinquenta ainda resistem à invasão de condomínios de luxo numa cidade que insiste em crescer verticalmente. A rua é interrompida abruptamente pela paisagem que a coloca num plano mais elevado. A conexão com a Cardeal Arcoverde se dá através de uma singular escadaria.
Suas paredes estão cobertas por uma diversidade de grafites que impressionam pela cor, pelas formas em movimento e pela eloquência de uma linguagem agressiva, aparentemente incompreensível. As cores em tons fortes, reproduzem aquelas encontradas nas fachadas dos sobrados.
As palavras reconhecíveis expressam a recusa, convidam à revolta, fazem do vício a virtude. É a linguagem de ousiders, aqueles que estão intencionalmente fora do sistema ou foram violentamente colocados à margem da cidade.
A rua Cristiano Viana, do outro lado da Arcoverde, continua pacata e bucólica, com seu casario colorido, sombreado por copas de árvores viçosas e imponentes. O contraste entre as duas realidades é notável.
A arte que cobre a escadaria revela a distância entre aqueles que ocupam lugares diversos no espaço urbano e convida o transeunte à reflexão. A rua, com seu traçado irregular, confere uma dimensão simbólica ao fluxo de veículos e pessoas interrompido abruptamente. Para além da separação entre um ponto e outro, a escadaria tatuada de símbolos marca a diferença, a separação. Os ícones pintados em suas paredes traduzem também as vicissitudes da própria vida na metrópole, que não segue uma trajetória linear, isenta de conflitos e rupturas.
*Fotos de Alex Sgreccia. Direitos autorais reservados. Foram feitas em meados dos anos 2010. Muitas das imagens retratadas já não existem.