Janeiro de 2015. Finalmente, realizei um sonho, acalentado de longa data: conhecer Praga. Saindo de Paris, fizemos uma breve pausa em Munique para reconexão e, pouco mais de uma hora depois, pousamos na capital da República Tcheca. Fiquei hospedado no Maximilian, hotel da vez na rua Hastalscá, em Josefov, o bairro judeu. Caminhando algumas ruas, chega-se à Cidade Velha. Foi uma boa escolha para quem gosta de conhecer a cidade sem seguir rigidamente roteiros, munido apenas de informações básicas para experimentar a sensação de a descobrir aos poucos.
Por mais que se ouve falar que Praga é uma cidade única, ela nos surpreende com a beleza que abriga e oferece em profusão, à medida que se caminha por suas ruas históricas: detalhes lavrados por artesãos em pórticos e fachadas imponentes; o colorido do casario oitocentista que sobreviveu intocável aos conflitos mundiais do século passado; a austeridade dos edifícios de pedra que remontam ao período medieval; as ruas estreitas e curvas por onde incide a luz que realça cores, ilumina imagens e faz vibrar os segredos do tempo cravados no esplêndido relógio astronômico, fixo no alto da torre da Prefeitura, desde 1490. Conta a lenda que os conselheiros da cidade mandaram cegar o relojoeiro-mestre Hanûs para que não reproduzisse a obra-prima em outro local.
Difícil descrever o sentimento, de reverência e dor, ao entrar em algumas das sinagogas que se concentram no bairro. Uma delas registra em suas paredes os nomes daqueles que foram vítimas do desvario nazista. Reação semelhante ao contemplar, em silêncio, o Velho Cemitério, onde as lápides de pedra inclinaram-se com o tempo, recostam-se umas nas outras, iluminadas por fachos de luz que atravessam os vitrais da Sinagoga Klausen, no lado oposto, dando a impressão de chamas de vida que atravessam os tempos.
Uma foto discretamente colocada no interior da sede da sociedade que leva seu nome – The Franz Kafka Society – dá a impressão que é o famoso escritor que observa quem passa pela rua. Genial, assim como a escultura do homem sem face que carrega outro nos ombros. Imagens que nos levam a lembrar do imaginário kafkiano – o personagem sem identidade, subjugado à vontade indecifrável daqueles que habitam o centro do poder, o Castelo – quando se observa, da Ponte Carlos, que remonta ao ano de 1357, o rio Vlatava separando a parte alta da parte baixa da cidade.
Atravessando os dois primeiros pátios, chega-se ao coração da cidadela que, no alto do morro e desde 1320, simboliza o centro do poder da hoje sociedade tcheca. Abriga um complexo de torres, igrejas, capelas, palácios e prédios administrativos de todas as épocas de sua história, dominados pelo esplendor gótico da monumental Catedral de São Vito. Sua construção foi iniciada em 1344 e concluída no século passado. Chamam a atenção as torres gêmeas, o portal dourado, as pesadas portas de bronze lavrado, a intrincada malha de metal que cobre seus janelões ogivais, os arcobotantes que sustentam o peso de suas abóbodas, encimados por figuras dantescas de pedra.
O caminho de volta passa por ruas estreitas, escadarias íngremes, novamente pela Ponte Carlos e pelas vielas antigas em direção à praça da Cidade Velha. Momento para apreciar a luz crepuscular incidindo suavemente sobre as fachadas de prédios como o Palácio Kinsky, a Igreja de Tyn, o Ministerstovo, a igreja de São Nicolau e a não menos famosa Casa do Sino de Pedra. Aos poucos, as sombras da noite deixam ver, ao longe, as torres iluminadas da antiga prefeitura.
Imagino sua sensação qdo esteve nesta linda cidade. De fato maravilhosa.
Sinto imensas saudades dos dias que passei por lá. Foi logo depois da queda do muro de Berlim, naquela ocasião tudo estava sendo revolucionado, uma alegria total.
Até outro dia por lá , Lúcia