Não é o melhor, mas com certeza é um dos mais belos filmes do grande mestre do cinema italiano Luchino Visconti. Foi a última obra, realizada em 1976, poucos anos antes de sua morte. Nos deixou um legado de obras-primas que marcaram época e que contribuíram para projetar mundialmente o cinema italiano, a partir dos anos quarenta.
Os motivos para comentar O Inocente são vários: o trabalho excepcional de direção, o desempenho seguro e preciso de dois grandes atores, Laura Antonielli e Giafranco Giannini no papel do casal em crise, a presença de Jennifer O’Neil, compondo o triângulo amoroso, a impecável reconstituição de época, os figurinos que encantam o olhar, a música de Franco Nanino e sobretudo a beleza que nos surpreende a cada cena.
Nas mãos de outro diretor, o filme talvez teria sido mera transposição para a tela da obra de D’Anunnzio, escrita em 1892, de estilo folhetinesco tão ao gosto da época. Nas mãos de Visconti tornou-se uma maravilha.
O roteiro, assinado pelo lendário Suso Cecchi D’Amico e pelo próprio Visconti, segue a trama desenvolvida no romance, conferindo uma rara qualidade aos diálogos que se fundem com precisão às imagens. Na alta sociedade italiana de fins do século XIX, Tulio trai a esposa Giuliana, não escondendo o tórrido caso com Tereza. Sentindo-se rejeitada, a esposa acaba se apaixonando por um escritor. A estória dá uma reviravolta quando Tulio volta a se interessar por Giuliana, que revela estar grávida do outro. O marido, depois de ter feito um pacto para manter a aparência de normalidade, vinga-se da forma ultrajante – mata o bebê inocente – com a mesma frieza com que tira, tempos depois, a própria vida.
Como não se lembrar da beleza da cena final, logo após o suicídio de Tulio, quando a amante foge pela aleia principal do palacete, até sua imagem desaparecer nas sombras esfumaçadas da noite?
Onde ver: site AdoroCinema