Sede de uma das mais antigas fazendas da cidade, o Solar do Unhão aparece nos registros iconográficos da cidade, como na aquarela de Luís dos Santos Vilhena – Prospecto da Cidade da Bahia, 1801 – exposta no Museu de Arte da Bahia.
Foi restaurante famoso, antes de ser restaurado, pela mão de Lina Bo Bardi, e transformado no atual Museu de Arte Moderna. Ele é, no seu conjunto, uma verdadeira obra de arte.
A antiga capela e o primeiro andar da residência colonial foram transformados em salas de exposição. Não poderia haver lugar mais apropriado para apresentar ao público as obras de Ruben Valetin, que infelizmente não fui autorizado a fotografar. Artista negro, dedicou sua arte ao universo da cultura ancestral, sem fazer concessão ao exótico, a formas ou cores de mero apelo popular. Fez da geometria um instrumento, buscou e traduziu em suas obras o que chamou de “a luz da luz”. As esculturas, dispostas no salão principal, sob a luz intensa de amplas janelas, irradiavam energia e mistério.
Para descrever a emoção de visitar esse museu, só a linguagem do coração.
Meus olhos contemplaram a beleza e minha alma flutuou em estado de graça. Procurei “a luz da luz” e a encontrei: vindo radiante do céu, iluminando paredes e caminhos de pedra, penetrando frestas, indicando passagens, revelando detalhes, anunciando o mistério da vida. Meu coração ficou pequeno e inquieto. Por alguns instantes, senti a felicidade absorvendo todos os meus sentidos.
Procurei refúgio na sombra de árvores frondosas e senti o movimento suave da brisa atravessando suas ramagens para acariciar meu corpo. Toquei o tronco retorcido e senti a energia de tempos ancestrais escorrendo pelas ranhuras da sua pele. Me cobri com o manto tecido de folhas e flores para sentir o cheiro da terra. Me fantasiei de Arlequim e fiquei à espera.
Observei devagar e demoradamente a escada, antes de pisar no primeiro degrau. Me aproximei da grade de ferro que me aprisionava no silêncio e derramei lágrimas de consolo ao sentir o ranger da madeira sob meus pés.
Procurei por passagens secretas que separam a luz das trevas e elas me conduziram a um ponto de fuga carregado de enigma.
Pressenti e senti a agonia das sete dores ao me aproximar da porta dos orifícios. Agucei os sentidos. Ouvi choro e ranger de dentes, súplicas aos orixás e pedidos de graça pelas três fugas, a da primeira, a da segunda e a da terceira hora.
Meu coração tremeu quando vi o sinal: um arco de luz sobre o templo.