No meio de um pequeno jardim tropical, onde as bananeiras do brejo vicejam exuberantes à sombra de flamboyants e palmeiras, o Museu da Casa do Objeto Brasileiro é uma grata surpresa a quem passa pela Pedroso de Morais, no bairro de Pinheiros, São Paulo. Os olhos estão acostumados a reverenciar o imponente edifício do outro lado da avenida, que abriga o Instituto Tomie Ohtake, já apresentado neste Blog.
A instituição, fundada há 23 anos, “tem como objetivo contribuir para o reconhecimento, valorização e desenvolvimento da produção artesanal e do design brasileiro. Tornou-se um centro cultural dinâmico de reflexão sobre a identidade cultural brasileira ao estabelecer relações multidisciplinares e integração entre as artes”.
Desta vez, o Museu apresenta ao público uma exposição despretensiosa e de encher os olhos. Trata-se dos trabalhos da artista plástica Cristiane Mohallem, que tece em painéis de algodão imagens de uma beleza rara. O olhar se encanta, de imediato, com a plasticidade das formas e com a exuberância das cores. Mais de perto, encanta-se mais ainda ao perceber que as formas e o nuançado das cores foram tecidos ponto por ponto, um sobre o outro, até se chegar à miríade de cores e tons que constrói a imagem, aquela que estava preservada num canto da memória.
A descrição feita pela própria artista do seu processo criativo prende o expectador por um fio invisível: a mais pura emoção do momento de descoberta:
“Meus bordados são imagens criadas a partir de árvores, pedras, peixes, elementos naturais que se destacaram de mim, com os quais convivi por um tempo e que, por alguma razão, me adentraram. Levo o registro e a presença dessas imagens para o ateliê, e começo a costurar.
Sinto um prazer enorme no meu trabalho, enquanto vou colocando as linhas e as cores. Os movimentos da agulha e as cores criam o desenho. Durante o processo de fazer o bordado, há momentos que só consigo ver linhas e cores, não existindo a imagem em construção. Nesse momento, tenho a impressão de que a natureza, em sua essência, é cor, cores que vejo como ritmo e movimento.
Os bordados aqui apresentados foram feitos nos últimos dois anos. Comecei a criar “Baobá” no início da pandemia, logo após uma viagem a Madagascar, onde contemplei muitos baobás, experiência inesquecível”
Depois do longo momento em que a alma se aquece e se alimenta da beleza das imagens nas paredes ao meu redor, volto a olhar os versos de Otávio Paz, inscritos na breve apresentação da mostra, e acredito no que diz, porque continuam ressonando dentro de mim:
“Cresceu em minha fronte uma árvore.
Cresceu para dentro. (…)
Ali dentro, em minha fronte,
a árvore fala.
Aproxima-te. Ouves?