O sorriso enigmático continua o mesmo. O olhar blasé, também. Os seios, pequenos e redondos, eliminam as dúvidas que possam existir sobre o gênero da Mona Lisa retratada por Da Vinci, cujo rosto aparece acima do seio esquerdo nessa versão pop criada no muro da rua Morás. Os ombros são delicados, o porte de gazela, acentuado pela cintura fina, contrastam com as mãos de dedos alongados, quase masculinas. A caveira sobre o coração, a ave ávida por bicar o mamilo entumecido, o tremor sensual da dor pressentida, as tatuagens de significados obscuros e a misteriosa imagem na altura do ombro direito transportam o original renascentista para a contemporaneidade deste novo século.
Não é uma obra acabada, como intervenção criativa está em movimento. Sujeita a apelo lascivo – Mais sexo, por favor – revigorada pela mensagem anarquista – Colour life with chaos – ou simplesmente usada para lembretes menos prosaicos – Foda-se. Não seja óbvio – a Mona Lisa dos novos tempos expressa as contradições e o inusitado da vida, que transborda em exuberância pelo bairro de Pinheiros.