Considerado um dos mais belos filmes da história do cinema, Ladrões de bicicleta, dirigido por Vittorio de Sica, foi lançado em novembro de 1948 e permanece como uma das principais referências do neorrealismo italiano.
De Sica conjuga com maestria neste filme os princípios da tendência estética que mudaria os rumos do cinema italiano no pós-guerra: atores desconhecidos, naturalismo de interpretação e filmagens de rua. O roteiro segue uma estória aparentemente simples. O desempregado Antonio Ricci encontra trabalho como pregador de cartazes, depois de longos meses de desemprego na Itália que se recupera da guerra. Sua esposa vende os lençóis da família para que ele consiga resgatar sua bicicleta numa loja de penhor. O drama famíliar recomeça quando a bicicleta é roubada. Antônio inicia a peripécia pelas ruas de Roma, acompanhado pelo filho pequeno, Bruno, em busca do seu principal instrumento de trabalho.
Um enredo aparentemente singelo e que tinha tudo para virar melodrama. Mas o que confere a esta obra, para além do reconhecido trabalho do diretor e do desempenho dos atores, a grandeza que atravessa os tempos?
De Sica transforma a estória numa simbologia complexa da sociedade italiana. Em suas andanças pela cidade, Antonio busca o apoio do sindicato, passa pela assistência social da Igreja, cai num bairro de bandidos, enfrenta a fome, o sol escaldante e a chuva. É acompanhado pelo filho Bruno, cujo semblante reflete ora a esperança traduzida no brilho do olhar, ora a melancolia mais profunda.
A crise moral em que a sociedade italiana está mergulhada, depois de ter sobrevivido aos horrores da guerra, é retratada em cenas onde a corrosão do caráter parece inevitável. Antonio não consegue identificar sua bicicleta no monte de peças iguais encontradas em locais de revenda. O roubo, desmonte e revenda é um negócio escancarado e cínico; ele nada pode contra o rapaz que o roubou, a polícia acaba sendo complacente com aqueles que sobrevivem de pequenos delitos.
O desespero o leva a abandonar convicções – acaba recorrendo à vidente, uma impostora – e a transgredir, ao tentar ironicamente roubar uma bicicleta. A câmara acompanha o momento de dúvida e tensão, a humilhação ao ser pego em flagrante, cenas acompanhadas pelo olhar perplexo do pequeno Bruno, que suplica por ele, mesmo assim. Algo mais profundo dentro de si e na relação com o filho rompeu-se neste instante. Em silêncio, desaparecem na multidão.
O filme recebeu as seguintes premiações:
Oscar Honorário, em 1950.
Prêmio BAFTA de Cinema. Melhor Filme, em 1950. Vittorio De Sica.
O Globo de Ouro, Melhor Filme Estrangeiro, 1950.
Prêmio Bodi – Melhor Filme Não-Americano, 1951. Vittorio De Sica.
Onde ver: site AdoroCinema