Na véspera de retornar ao Brasil, em janeiro de 2016, minha sobrinha Luciana me preparou uma surpresa: passar o dia em Bruges, uma das cidades turísticas mais badaladas da Bélgica. Usando uma expressão de lugar comum, encerrei com chave de ouro a viagem memorável pela Europa, depois de ter passado a semana do Natal com minha irmã Lúcia e meu cunhado Fred, e o réveillon com a família de minha sobrinha.
A viagem havia sido uma mistura de reencontro com pessoas queridas e a experiência singular de estar novamente no Velho Mundo, explorando o encanto de andar pelas ruas do centro histórico de cidades como Munique e Bruxelas, ver uma exposição num museu, assistir ao concerto no Geistag, jogar conversa fora ao caminhar com minha irmã ao longo do canal que liga o bairro ao Castelo de Nymphemburg, ou simplesmente saborear uma deliciosa torta de maçã ao final da tarde. As lembranças ainda vívidas desses momentos misturavam-se com a expectativa de conhecer a cidade cujas origens remontam ao império romano e cuja beleza dos canais construídos na Idade Média fizeram com que Bruges se tornasse conhecida como a Veneza do Norte.
Caminhar pela cidade é reviver sua história. Seus monumentos sobreviveram às grandes guerras que convulsionaram a Europa no último milênio. O centro histórico, em sua fase áurea, foi o berço da primeira bolsa de valores de que se tem notícia, comercializando letras de câmbio e hipotecas. Com canais abertos para o mundo nos primórdios do capitalismo, e contando com privilegiada localização, desenvolveu uma produção sofisticada à base de têxteis e lã importada da Inglaterra, impulsionou associações de mercadores e artesãos. Tornou-se um posto importante de ligação entre as cidades hanseáticas da Escandinávia, Inglaterra e Alemanha e o comércio com a França, Espanha e Itália. Vestígios dessa história podem ser vistos nas placas em fachadas de prédios que no passado abrigaram oficinas de sapateiros, artesãos de couro, peixarias, comerciantes de vinho.
As sólidas construções de tijolo e pedra impressionam pela imponência. A visão das ramagens desfolhadas sobre os canais evoca a placidez do tempo que corre sem pressa como suas águas. Cenas de estudantes debruçados sobre as muretas gradeadas de ferro e conversando alegremente nos trazem para o presente, onde a vida é compartilhada de forma serena. Os jardins com a profusão de flores multicoloridas retratam a vida pulsando de forma vibrante. Esculturas modernas no centro do enorme espaço aberto da praça contrastam com edificações históricas, onde o antigo se funde com o novo, tornando a vida contemporânea.
Foi apenas um dia, que permanece na memória como único.
[500] Error connecting to the API (https://api.aspose.cloud/v4.0/words/convert?format=HTML)