Outro roteiro, organizado pelos Ramisch, quando estive com eles em 1988, foi rumo ao norte de Saarbrücken, um trajeto de cerca de duas horas, até a Abadia Maria Laach, junto ao lago do mesmo nome, na região de Eifel, passando antes por Trier, ou Treveris, objeto do outro relato.
A abadia beneditina foi fundada em 1093 por Henrique II, conde palatino da Renânia-Franconia. Os primeiros monges a habitá-la vieram do Mosteiro de S. Maximo, de Trier. Uma das mais belas construções em estilo românico em território alemão, foi consagrada em 1.156, ocasião em que adotou as constituições de Cluny. Décadas depois, entrou para a Congregação Bursfeld, onde ocupou posição de destaque.
Teve nos séculos seguintes uma história conturbada. Durante a ocupação francesa – 1797 a 1802 – perdeu o status de abadia e foi transformada em mera igreja em 1815. Anos depois, em 1824, passou a ser propriedade do Estado. Ocupada pelos jesuítas em 1862, conheceu um breve período de expansão cultural e intelectual, bruscamente interrompido com a expulsão da ordem religiosa pela Kulturkampf (guerra cultural) de Bismarck. A abadia foi “nacionalizada”. Recuperou o prestígio e a vida cultural a partir de 1892, quando foi ocupada por monges beneditinos alemães.
Permanece ainda hoje uma das grandes comunidades beneditinas da Europa, reputada pelo seu centro de investigação científica, arquivos iconográficos e edições. Curiosamente, graças a preocupações artísticas e a uma hábil política de conservação, a abadia mantém escrupulosamente a sua feição românica dos tempos primordiais.
Caminhar pelo seu pátio interno, sob arcadas românicas, foi como viajar pelo tempo à época em que os peregrinos percorriam grandes distâncias a pé, em busca de conforto espiritual em lugares como esta abadia, onde o ambiente transmite paz e serenidade. A fonte no centro do pátio gramado, sustentada por quatro leões esculpidos em pedra, contribui para este clima de silêncio e recolhimento. Fiquei imaginando a riqueza do acervo de sua biblioteca e o Scriptororium, onde se copiavam e cobriam de iluminuras livros e manuscritos. Sem dúvida, um passeio memorável.




