A cidadezinha colonial fica a cerca de quatro horas de viagem da capital Bogotá. Na época em que a visitei, a Colômbia estava sob um Estado policial, tensionado politicamente pela ação de grupos guerrilheiros, com militares armados de metralhadoras ao longo das rodovias. A opção de ir para o interior teve como uma das principais motivações escapar desse clima de tensão.
A estrada em direção ao leste montanhoso passa ao largo de lugares interessantes como as colinas de Boyacá onde foi travada a batalha decisiva na conquista da independência. O ar puro, a sensação de liberdade e a conversa descontraída foram dissipando, aos poucos, a sensação de intranquilidade vivida na capital.
Fiquei hospedado numa pousada recém construída em estilo colonial, com janelões protegidos por grades, um pátio interno com vegetação tropical iluminada pelo telhado vasado, paredes brancas despojadas de ornamentação e teto com troncos cilíndricos de madeira formando uma esteira sobre a base de cimento pintado de branco.
A cidade é dominada pela enorme praça central, de formato quadrangular, em cujo centro destaca-se a secular fonte de água. Solene, evoca tempos passados, cercada de sobrados de paredes caiadas de branco, janelas e varandas de madeira pintada de verde ou azul escuro e decoradas com vasos de flores de colorido intenso, pórticos e umbrais de pedra, pesadas portas almofadadas de madeira. Outras construções foram erguidas sobre arcos e colunas de pedra. Na face oeste da praça destacam-se a sede da prefeitura e a igreja matriz.
O piso degastado pelo tempo evoca tempos passados e a memorável cena do filme Fitzcarraldo, de Werner Herzog, em que a pequena tropa conduzida pelo militar delirante adentra a praça, depois descer as encostas da cordilheira tomadas pela selva amazônica.
As manhãs tranquilas, depois do reforçado café na pousada, foram gastas em caminhadas pelas ruas estreitas, praças de gramado verde ao redor de conventos e igrejas cuidadosamente preservados, pequenos museus, centros de artesanato ou ateliês de artistas e artesãos. Num deles, pude acompanhar o delicado trabalho da tecelã em cujo tear eram tecidos ponches de lã de cores sóbrias.
As tardes sonolentas, depois do almoço num restaurante local, foram geralmente passadas na rede na varanda da pousada, onde chegava a brisa vindo das colinas.
O melhor momento sempre foi reservado ao entardecer na praça, sentado no degrau de pedra, como muitos outros turistas, para apreciar a metamorfose do dia no crepúsculo que precede a noite. A mudança de cor do céu e o efeito da luz pálida sobre as construções coloniais, dourando-as, para recuar aos poucos, dando lugar aos rasgos de nuvens rosas e azul claro, escurecendo, cedendo lugar às sombras e à escuridão, essa transição do tempo, interrompida pelo acender da luz de lampiões, permanecem na memória como momentos únicos, a mais serena felicidade.