A semana que passou foi marcada no plano internacional pela reunião do G20, onde Biden e Xi Jinping se encontraram, e pelo início dos trabalhos da COP27 onde Lula e o Brasil deverão ser um dos principais destaques. O mundo também respirou aliviado com os resultados das eleições nos Estados Unidos em que os democratas garantiram maioria no Senado.
A reunião do G20 aconteceu na parasidíaca Bali, ilha da Indonésia. Biden e Xi Jinping – ou o G2, redução do G20 ao que realmente conta nessa fase de Guerra Fria 2.0 – tiveram um encontro considerado de extrema relevância, em que o líder chinês teria dito ao americano que seus respectivos países devem usar a história como um espelho para guiá-los. “O mundo chegou a uma encruzilhada, e espera que China e EUA administrem sua relação de forma adequada”. Personas não gratas nas rodas da diplomacia internacional, Putin e Bolsonaro não compareceram.
A COP27 está acontecendo no Egito num cenário de crise econômica a complicar as decisões inadiáveis para evitar o colapso climático. Há resistência em relação à meta de manter o aquecimento global em 1,5 graus Celsius nas próximas décadas, condição para a sobrevivência do planeta. De acordo com levantamento feito por entidades especializadas, seria necessário investir cerca de US$ 34 trilhões nos próximos oito anos para combater a crise climática. Para países pobres mergulhados na crise econômica e devastados pela fome, o desafio é encontrar caminhos para a adaptação da agricultura para produzir e distribuir alimentos para 8 bilhões de pessoas sem desviar das questões climáticas.
O Brasil é destaque na COP27. A presença do recém-eleito presidente Lula contribuirá para a retomada do papel que o Brasil teve no passado na defesa da Amazônia e na ação global em defesa do clima. Segundo a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que está no evento, o Brasil dará “o exemplo” em escala mundial ao perseguir uma meta de reflorestamento de 12 milhões de hectares. “A Amazônia tem que deixar de ser um passivo e voltar a ser um ativo do Brasil nas relações internacionais”, afirmou o embaixador Celso Amorim. Lula deve aproveitar o evento para requalificar a relação entre Brasil e Estados Unidos a partir da questão ambiental. Ele irá se encontrar com John Kerry, que comanda a Autoridade Climática nos Estados Unidos, e fará também dois anúncios importantes: a criação de uma autoridade climática também no Brasil e o pedido para que o País sedie a COP30, em 2025.
No plano nacional o noticiário girou em torno do processo de transição para o novo governo, com destaque para a articulação política para aprovar a PEC voltada para assegurar recursos para programas sociais, a nomeação dos integrantes dos núcleos temáticos, especulações sobre a composição do futuro ministério e reação aos humores do mercado em relação a pronunciamentos de Lula sobre responsabilidade fiscal. Foi também motivo de apreensão a posição ambígua das Forças Armadas em relação à segurança do processo eleitoral, postura que voltou a alimentar manifestações antidemocráticas.
Lula teve reuniões com os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) com quem discutiu o Orçamento da União de 2023 para bancar o Bolsa Família de R$ 600. Em conversas mais amplas, chegou-se à conclusão de que deveria ser uma PEC que também preveja que o benefício seja imune ao teto de gastos de forma permanente. No entanto, o encaminhamento da proposta encontrou certa resistência, demandando mais tempo de maturação. De acordo com as previsões, vota-se na 1ª semana de dezembro no Senado e o texto, até lá já acordado com a Câmara presidida por Arthur Lira (PP-AL), receberia o aval dos deputados antes do recesso parlamentar.
O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) assinou, na terça-feira (8), o documento que instala o Gabinete de Transição. Serão quatro coordenações e 28 núcleos temáticos. Nem todos os membros dos grupos temáticos foram definidos ainda, embora alguns tenham tido passagem por governos anteriores de Lula e Dilma, como Nelson Coutinho, Guido Mantega, Tereza Campello, entre outros. Petistas respondem até o momento por 27 dos 52 nomes anunciados para os grupos técnicos da equipe de transição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ou pouco mais da metade. Especula-se sobre a composição do ministério. Fala-se em Flávio Dino, Wellington Dias e Jaques Vagner como favoritos de Lula para algumas das funções mais relevantes da Esplanada, como Justiça, Casa Civil, Economia e Defesa. Por enquanto, especulação e fora de hora. Muita água ainda vai passar debaixo da ponte…
O mercado reagiu com mal humor ao pronunciamento de Lula sobre o teto de gastos. O dólar disparou e a Bolsa de valores despencou. Recurso geralmente usado para enviar recado, que teve resposta irônica do presidente-eleito – “É engraçado que o mercado não ficou nervoso durante quatro anos [do governo] Bolsonaro” – e outra bastante assertiva de seu vice: “Se alguém teve responsabilidade fiscal, foi Lula. Isso não é incompatível com a questão social. O que precisa é a economia crescer.”