Escrevo porque te amo conta a história de Rebeca, reconstituída a partir de fragmentos, como as fotos encontradas pelo filho, ao voltar à casa da família, depois da morte dos pais. Não é uma biografia com começo, meio e fim, narra partes dela. Sua infância e adolescência são resgatadas a partir de estórias ouvidas e pelo trabalho criativo do autor, que preenche lacunas da trajetória com a versão onde o narrado e o imaginado se fundem e se confundem. No entanto, o foco principal do romance são os anos de sua transformação numa mulher encantadora, buscando escapar do sortilégio: “Non sarai felice mai pìu!”
Os anos de amadurecimento envolvem a breve experiência como professora, o namoro com Leonardo e a abrupta separação, provocada pelo fato em parte revelado e parcialmente encoberto. Os meses passados na fazenda da tia dão continuidade ao amargo aprendizado que aos poucos revela a condição feminina no mundo dominado pelos homens, onde as mulheres podem pouco. A reflexão e as descobertas que faz de si mesma são mediadas pelas relações com o primo Tiago, por quem se apaixona, e pela leitura de romances indicados pela tia, com os quais narrador e personagem dialogam.
O romance também reconstitui a história de Leonardo, personagem que dá sentido à vida de Rebeca. Narra a origem humilde da sua família de imigrantes italianos, o duro trabalho desde pequeno na chácara dos pais, a discriminação e o preconceito sofridos por parte da elite da sociedade enraizada no poder dos coronéis, onde o mando, o compadrio, o clientelismo e a violência permeiam as relações entre facções que disputam o poder local. Esse ciclo secular é interrompido com a chegada do interventor do governo Getúlio à cidade, momento em que Leonardo amadurece o aprendizado da política, depois de ter percorrido o processo de lenta e persistente ascensão social. Seu namoro com Rebeca coloca-se como divisor de águas entre a vida amorosa dissoluta e a pretendida redenção através do casamento.
Fatos mencionados na trajetória dos dois personagens servem para situar sua vida no tempo histórico. São a moldura do quadro onde o que interessa é o retrato dos personagens, principalmente o de Rebeca, o mergulho em sua alma, a busca por compreender “as confusões” do seu coração.
Passagens do cotidiano, em si despojadas de grandeza, são descritas com a preocupação de “tornar interessantes episódios pequenos”, enquanto é tecida a trama que vai ganhando sentido. Os pequenos acontecimentos, os gestos e atitudes dos personagens, revelam parte de sua subjetividade e, ao mesmo tempo, situam a vida nos rincões do Sul de Minas no início dos anos quarenta.
O livro está disponível no formato de E-book.
Vicente, quero lhe agradecer pelo grande presente que foi o livro do Alex. Ele tornou muito mais interessantes as minhas últimas tardes. Cheguei a ficar triste, ontem, quando acabei de lê-lo. Que romance apaixonante!
É um verdadeiro épico das Minas Gerais. Quem poderia supor que uma pequena localidade, perdida numa região distante no interior do país, tivesse tanto a contar. As desventuras de imigrantes italianos e a surpreendente história de Rebeca nos é narrada num texto de grande qualidade, que nos envolve e surpreende.
Confesso que foi uma grata surpresa. Que leitura agradável, meu amigo! Narrativa fluida, descriçōes encantadoras (nada enfadonhas) e personagens bem construídos, marcantes. Achei perfeito. É, realmente, uma história que merecia ser contada.
Que bom que o Alex enfrentou essa empreitada! Apesar da triste sina de Rebeca, que se viu privada do amor da sua vida e das atividades que davam mais sentido à sua vida, gosto de pensar (até por saber que se baseia na sua mãe) que o amor dos filhos, sua veia artística e a grande sensibilidade que demonstrava ter a ajudaram a experimentar momentos de muita felicidade, apesar de tudo.
Histórias como essa nos fazem ver como é importante a luta para assegurar às mulheres os mesmos direitos garantidos aos homens desde sempre. Ainda hoje, é grande o número de casos de desrespeito e violência de que são vítimas as mulheres, o que é deplorável. Que família talentosa a sua, Vicente! Vocês, certamente, herdaram da sua mãe as grandes qualidades que ela tinha. Mulher admirável, realmente.
Parabéns!
Oi Patrícia
Fiquei sensibilizado com os comentários tão generosos.
Legal essa sua percepção da abordagem da condição feminina no romance.
De fato, mamãe foi uma pessoa admirável.
Espero que o romance tenha feito jus a sua história tão fascinante.
Espero ouvir mais de você, ao navegar pelo Só Prosa.
Grande abraço!
Com satisfação, consegui concluir a leitura do primeiro romance biográfico do meu amigo Alexandre Sgreccia . Baseado na história de seus pais…construiu uma narrativa riquíssima em detalhes histórico-culturais, que abrange desde o drama da imigração italiana para o Brasil, na transição do século XIX para o XX, bem como os desafios destes imigrantes no enfrentamento das angústias geradas entre sonho e realidade, em um pais ainda em busca da sua identidade política e social.
Romance muito bem estruturado com um excelente encadeamento cronológico que vai nos motivando a compreender a história como um recurso na afirmação de nossas identidades. Que esta primeira incursão na literatura de Alex, através do “Escrevo porque te amo”, seja o primeiro de muitos outros que nos provoquem a refletir sobre a importância da memória na compreensão do nosso “EU”.