A Europa e o mundo aguardaram com enorme expectativa os resultados das eleições presidenciais na França. Havia um cenário preocupante de crescimento expressivo da direita representada por Marie Le Pen/Agrupamento Nacional, decorrente de um conjunto de fatores: o colapso de forças e partidos políticos como os gaulistas e socialistas, a possibilidade de parte dos eleitores de Mélenchon, da esquerda radical e terceiro colocado no primeiro turno, migrarem para Le Pen, por não encontrarem em Macron respostas para suas demandas e a dificuldade do próprio Macron de dialogar com movimentos sociais, como os Coletes Amarelos.
Segundo analistas, o fortalecimento de Le Pen na França se deve ao processo mais amplo de crescimento das forças de direita e de extrema direita na Europa, revigoradas pela vitória de Viktor Orbán na Hungria, em cujo ideário combinam-se elementos sui generis: a oposição ao liberalismo e à globalização, “a partir de uma perspectiva nacionalista que defende a primazia do estado, propões restrições a imigrantes e questiona instituições multilaterais como a União Europeia e a aliança militar da Otan”.
O discurso de Le Pen, mais moderado do que no passado e de forte tom nacionalista, encontrou eco nas camadas da população que se sentem excluídas do desenvolvimento, altamente concentrador de riqueza, na mesma dimensão em que precariza o trabalho. São os setores pobres da população ou da baixa classe média, de baixa educação formal, que se sentem ameaçados com o aumento de imigrantes disputando espaço no mercado de trabalho e recursos das políticas públicas.
A derrota de Le Pen foi um balde de água fria no crescimento das forças de direita e de extrema direita na França e na própria Europa. A vitória de Macron, apesar do inequívoco alívio, está longe de representar uma resposta efetiva à questão social francesa.
Ficou o alerta, para além da realidade francesa, de que as condições de vida da população pobre vão se agravar ainda mais em escala mundial. Os preços dos alimentos atingiram um novo patamar e não há perspectiva de recuo. Ao contrário, continuam sendo impactados pelo aumento da demanda na Ásia e Africa, pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, que tem provocado a escassez de fertilizantes e de alimentos básicos.
A guerra na Ucrânia chegou ao ponto crucial e será decidida na chamada “batalha de Donbass”. Depois do fracasso da ocupação da região central, o objetivo desloca-se para a “libertação” do território a leste. Putin precisa de uma “vitória” para apresentar no dia 9 de maio, data nacional de grande mobilização e celebração das vitórias do passado, particularmente durante a II Guerra Mundial.
Para encobrir o fiasco das operações em torno de Kiev, nada como uma ação exemplar em Mariupol, onde o que restou da resistência armada abrigou-se numa usina, em cujo subsolo um bunker também protege civis. Os alvos militares em Donbass foram multiplicados num movimento para cercar as tropas ucranianas e dar o cheque mate. A operação final de limpeza será entregue às milícias chechenas, conhecidas pela ação sanguinária. Neste cenário, a mensagem do Papa Francisco pelo fim da guerra, e de todas as guerras, assume enorme força moral, por questionar os interesses em jogo e a capacidade das lideranças mundiais e das organizações multilaterais em instituir a paz.
O indulto concedido por Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira, condenado pelo plenário do Supremo por violentos ataques às instituições democráticas e, em particular ao poder judiciário, foi a principal fato político da semana. O perdão foi anunciado num arroubo de reparação antes que os trâmites da condenção tivessem sido formalmente finalizados. Foi uma demonstração de poder e, mais uma vez, de confronto. Foi um insulto e não um indulto.
Como era de se esperar, desencadeou reação em cadeia. Partidos entraram com ação na justiça, alegando inconstitucionalidade na concessão da “graça constitucional. ” Houve, porém, quem não visse motivo para recriminar o presidente que agraciou o fiel amigo, um criminoso falastrão que faz fama e recebe afagos nas hostes bolsonaristas. Questões como a constitucionalidade do indulto, a perda de mandato e a inelegibilidade do deputado continuam pendentes e provocaram reações. Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, reivindicou no Supremo que deputados tenham a palavra final sobre a perda de mandato de colegas condenados. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, defendeu que o Legislativo proponha o aprimoramento constitucional e legal de institutos penais, com o objetivo de evitar a impunidade.
Para quem havia se esquecido, o gesto do presidente foi o lembrete de que Bolsonaro não abriu mão da estratégia de se manter no poder a qualquer custo, através da violência contra adversários, considerados inimigos, e do ataque com igual truculência às instituições que se oponham a seu projeto político. Serviu novamente para mobilizar suas bases mais aguerridas, que arreganharam os dentes. Um projeto de lei, em gestação, para absolver outros bolsonaristas condenados na justiça e transformados em “mártires”, deverá manter as hostes mobilizadas, preparando-se para o confronto das eleições.
Para o presidente que armou o seu entorno institucional para agir impunemente, não foi surpresa a posição de Aras no Supremo de que não há elementos que justifiquem a abertura de investigação contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) nas suspeitas de irregularidades no Ministério de Educação. Depois de todas as evidências do esquema de corrupção comandado por pastores atuando no MEC por indicação de Bolsonaro, a posição da PGR é de causar espécie!
Impunes, o desmando e a corrupção correm soltos. O governo gasta mais com kit de robótica para escolas do que com creches. Libera recursos da educação para aliados, enquanto o MEC trava a liberação de R$ 434 milhões a prefeituras de todo o país e deixa paradas construções de creches, escolas, salas de aulas e quadras.
Para um governo que agiu criminosamente em relação à pandemia, nada como tentar acabar com ela por decreto. Foi preciso que seus auxiliares explicassem que a pandemia é um fenômeno sanitário natural, independe de decretos presidenciais. O presidente ridículo foi lembrado durante o carnaval numa cena hilária em que, ao se recusar a tomar vacina, vira jacaré!