No plano internacional, a tensão no Leste Europeu foi o principal fato da semana, com as tropas russas prontas para invadir a Ucrânia e a elevação do tom das ameaças de retaliação por parte do governo Biden e de países membros da OTAN. O chanceler Olaf Sholz afirmou que a Alemanha está disposta a arcar com os custos de defender Kiev. As planícies ucranianas têm um significado estratégico no tabuleiro geopolítico internacional por serem a rota de gasodutos para o continente europeu, além de corredor propicio à invasão do território russo, como aconteceu com o exército de Hitler na II Guerra Mundial. Moscou tem interesse em conter qualquer avanço da OTAN na região que possa colocar em risco sua segurança.
Outro destaque internacional foi o anúncio da composição do novo governo chileno, com muitos escolhidos vinculados ao Partido Socialista, que integrou a tradicional coalizão de centro-esquerda Concertação, e à Apruebo Dignidad, aliança pela qual o ex-líder estudantil disputou o pleito. Integrado majoritariamente por mulheres, o novo governo inclui também e de forma significativa representantes de áreas fora da região metropolitana de Santiago, a capital.
A entrevista de Lula à mídia independente foi o principal fato no cenário nacional. Abriu o ano político de 2022. Teve ampla repercussão, provocando a queda do dólar. Ao dizer que levar “o povo brasileiro sonhar novamente” é a razão principal de sua candidatura, reafirmou a posição de estadista que se qualifica para as próximas eleições presidenciais com escolhas e propósitos claros. Ancorado em dados de pesquisa que continuam apontando sua vitória no segundo turno – e a possibilidade cada vez menos remota de se eleger no primeiro turno – destacou questões fundamentais do seu projeto político. Será um governo de pacificação, que resgata a centralidade do trabalho para o desenvolvimento, e voltado para os pobres – “os pobres estarão no orçamento e os ricos no imposto de renda” . A declaração é fundamental no momento em que a maioria da população pobre faz fila nos açougues para comprar osso, enquanto os 2% dos mais ricos, responsáveis por 20% do consumo nacional, fazem fila para comprar helicóptero.
Reafirmou a aposta em Alckmin como vice, a importância de Haddad-PT vencer em São Paulo e de alianças e bases sólidas de apoio nos principais colégios eleitorais, como Minas Gerias e Rio de Janeiro, para assegurar a governabilidade. A prioridade à mídia independente não deixou de ser também um recado à grande mídia que declarara sua “morte política”, ao ser levado preso para Curitiba, em abril de 2018.
Bolsonaro se apressou a se reunir com empresários para negar, como é próprio de seu governo, que a reforma trabalhista tenha retirado direitos dos trabalhadores. Teve a resposta contundente do ex-ministro e atual presidente da FPA, Aloisio Mercadante, ao afirmar que o presidente mente sobre a reforma trabalhista para “encobrir a destruição do direito ao trabalho, à proteção, ao emprego, à qualidade de vida e à capacidade de sustentar uma dinâmica virtuosa de crescimento.”
Acossado pela crise que se aprofunda diante do próprio desgoverno, de mãos e pés atados à aliança como o Centrão que comanda, de fato, o Planalto – ao mesmo tempo em que exaure os cofres públicos para manter sua influência na política regional e eleger o maior número possível de representantes no Congresso – , Bolsonaro fez durante a semana sinalizações a outros setores vitais à sua sobrevida política.
Renovou as credenciais com grileiros, madeireiros e produtores rurais interessados em driblar o combate ao desmatamento. Numa manobra contábil ao prever a inflação deste ano, conseguiu do Parlamento um extra de R$ de 1,8 bilhão para gastar em 2022. Diante da paralisação de funcionários públicos excluídos da promessa de reajustes salariais feita a agentes da segurança, por ora suspensos, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, seu principal porta-voz, afirmou que o tema é um “foco” para Bolsonaro. Tenta reduzir a pressão dos preços dos combustíveis com a PEC que está sendo elaborada e que inclui também os tributos estaduais. Aguarda os resultados do Auxílio Brasil, com a expectativa de amealhar votos dos mais pobres, especialmente no Nordeste. Orientado pelas raposas do Centrão, pretende focar a crítica ao PT às “políticas desastrosas” do governo Dilma, evitando o confronto direto com Lula.
Não será esquecido, no entanto, pela política desastrosa no combate à pandemia, desta vez envolvendo a vacinação de crianças no momento em que a onda de contaminação pela nova cepa do vírus, a Ômicron, cresce assustadoramente.
No andar de baixo da disputa eleitoral, Ciro dispara críticas a Lula, Bolsonaro e Moro, ao lançar formalmente sua candidatura, enquanto Moro busca, desesperadamente, alianças e apoio à direita e Pacheco adia para fevereiro a decisão de sair candidato.